segunda-feira, 21 de outubro de 2013

o Templo de Vaishno Devi

Templo de Vaishno Devi localizado nas montanhas.



Gostaria de brindar um amigo e companheiro de jornada, Khadga Prahara, com uma interessante narrativa que conta a Lila de uma das formas mais populares da Deusa. Como toda narrativa Tantrika esta também possui significados esotéricos, não secretos, mas sim mais facilmente entendidos por aqueles que praticam disciplinas espirituais do Tantra. Cabe aqui lembrar que a correta orientação de um Guru vale mais do que a vã especulação.

 

Conta-se que o Templo dedicado à Vaishno Devi, uma forma local de Vaishnavi Devi, surgiu após fatos ocorridos à mais de 700 anos atrás no vilarejo de Hansali onde vivia um Brahmane de nome ShriDhara, que era um grande devoto da Deusa. Um dia ele estava realizando Kumari Puja, a adoração de meninas como representações da Deusa. Seu objetivo era ter um filho que seria seu herdeiro espiritual. Quando ShriDhara começou à alimentar as meninas, Vaishno Devi, na forma de uma Divina donzela, apareceu entre elas. Ela ordenou que ele oferecesse um grande banquete para todo o vilarejo e vilarejos vizinhos no dia seguinte. ShriDhara foi de aldeia em aldeia convidando as pessoas para a festa e, na estrada, encontrou um grupo de ascetas liderados por Goraksha Natha e os convidou também. Goraksha então desafiou ShriDhara que ele nunca seria capaz de satisfazer à ele, à seu discípulo Bhairava Natha e às seus outros 364 discípulos pois nem mesmo o Deus Indra conseguiu fazê-lo.

 

No dia seguinte quando os convidados começaram à chegar, ShriDhara preocupou-se em não ser capaz de alimentar à todos. Porém miraculosamente todos conseguiram ocupar a pequena cabana do Brahmane e surgiu uma Divina donzela que começou à servir os convidados. Quando ela foi servir Bhairava Natha ele recusou as iguarias vegetarianas e disse que queria ser servido com vinho e carne. A donzela argumentou que aquela era a casa de um Brahmane e que deveria ser aceita qualquer coisa que fosse oferecida num banquete Vaishnava. Bhairava então irou-se e tentou segura-la, mas ela leu sua mente e rapidamente desapareceu.

 

Bhairava saiu à procura dela, parando em determinados pontos – onde hoje estão as estações dos peregrinos ao Templo. O primeiro lugar foi Darshani Darvaja aonde se tem a primeira visão da montanha Trikuta. Mais à frente a Deusa parou sobre uma rocha e, com sua Flecha, fez  jorrar agua para matar a sede de Langura Vira, uma forma de Hanuman, que veio acompanha-La. Esta fonte é hoje conhecida como Bana Ganga. Mais à frente na montanha a Deusa parou para verificar se Bhairava ainda a perseguia. Como suas pegadas ainda estão marcadas o local é hoje conhecido como Charana Paduka. Depois de algum tempo Ela chegou à uma pequena caverna e lá entrou. Ela permaneceu ali por nove meses realizando Tapasya, disciplinas espirituais. Bhairava também chegou em frente à caverna e perguntou à um Sadhu próximo se ele havia visto a donzela. O Sadhu disse: “Aquela que o senhor considera uma mulher comum é, na verdade, a MahaShakti, a Grande Shakti, a AdiKumari, a Donzela Primordial”. Mesmo após ouvir as palavras Bhairava entrou na caverna. A Deusa então usou a magia de seu Tridente e surgiu do outro lado da montanha. Esta caverna é hoje conhecida como Garbha Yoni e o local aos arredores é conhecido como AdiKumari.
 


A Murti Triplice da Deusa.
Bhairava continuou à persegui-la mesmo com as constantes advertências de não fazê-lo. MahaMaya, a Deusa na forma de Suprema Ilusão, era capaz de fazer qualquer coisa que desejasse, mas a determinação de Bhairava também era profunda e verdadeira ! Finalmente a Deusa entrou em outra bela caverna na montanha de Trikuta e deixou Langura Vira na entrada como seu guardião. Bhairava o atacou e quase o matou e, neste momento, Shakti assumiu a forma de Chandi, uma forma irada da Deusa, e decapitou Bhairava. Sua cabeça despencou pelo vale abaixo enquanto seu corpo ficou na entrada. Quando sua cabeça foi decapitada Bhairava gritou: “Oh Adya Shakti, Energia Primordial, Oh Mãe Generosa, eu não lamento em encontrar a morte pois ela está nas mãos da Mãe que criou o Universo. Oh Mateshvari, Senhora da Maternidade, perdoe-me, eu não conhecia esta Sua forma. Oh Mãe, se Tu não me perdoar, no próximo Yuga, a próxima Era, as pessoas vão me ver como um degradado e desprezar o meu nome. Uma Mãe nunca pode ser uma Mãe má”. Ao ouvir estas palavras a Mãe Graciosa lhe deu uma benção que, após a adoração à Ela, os Sadhakas, os buscadores espirituais, também o adorariam. E que ele, Bhairava atingiria Moksha, a Libertação Final. Para os Sadhakas que adorarem Bhairava ficou a benção que teriam seus desejos satisfeitos. Um Templo foi construído no local onde a cabeça decapitada caiu e, ainda hoje, os peregrinos que voltam do Templo de Vaishno Devi para lá para suas adorações.
 

Jaya Maa ! Vitórias à Mãe do Universo !



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Karna junto ao Senhor Yama, o Deus Morte

Karna é derrotado quando tentava consertar a roda de sua carruagem.



Uma estória interessante nos fala da importância da quinzena dedicada aos ancestrais, o Pitr Paksha. Se diz que Karna, considerado o maior de todos os guerreiros, e que foi apreciado até mesmo pelo Senhor Krishna, só pode ser derrotado por Arjuna após a intervenção de vários Deuses, inclusive do Senhor Indra. Sua derrota só foi possível pela autorização de sua própria Mãe, a rainha Kunti, que o gerou pela Divina intervenção de Surya, O Deus Sol.
 
Pindas - oferendas dedicadas aos ancestrais.

Karna era admirado por sua grande coragem e generosidade. Mesmo tendo se envolvido em algumas atividades contrárias ao Dharma, seus méritos espirituais (Punya) eram muito grandes. Quando de seu desencarne, Karna recebeu nos paraísos celestiais 100 vezes mais oferendas do que aquelas que tinha oferecido em vida. Porém, quando em vida, sua mentalidade era a de um guerreiro e suas oferendas eram em ouro e prata, e somente isto é o que ele poderia desfrutar nos paraísos celestiais. Não havia comida ! Nenhuma comida foi dada em caridade durante suas grandes austeridades.
 
Karna roga ao Senhor Yama pela oportunidade de aperfeiçoar suas austeridades.
Ele então rogou ao Senhor Yama, o Deus Morte, e devido aos seus méritos espirituais, pode ser atendido. Ele pode retornar á Terra por uma quinzena lunar para que todas as deficiências em seus serviços rituais pudessem ser suprimidas naquele período. Então, por uma quinzena ele se dedicou exclusivamente à oferecer alimentos aos sacerdotes, os Brahmanes, e aos pobres e à oferecer oblações de água (Tarpana) à todos os seres. Impressionado pela austeridade de Karna, o Senhor Yama declarou que todas aquelas oferendas seriam partilhadas pelas almas que tivessem sido engolidas pela Morte. E assim foi feito ! Ao fim de seu período de expiação o guerreiro Karna retornou aos paraísos celestiais e os encontros repletos dos mais perfeitos banquetes.

Preparando oferendas aos ancestrais.
 
Há um ditado nos Tantras que diz que falar sobre comida não satisfaz ao faminto, da mesma forma falar de disciplinas espirituais sem praticá-las é de pouco beneficio. O Tantra é um caminho espiritual onde as três grandes Shaktis do conhecimento (Jñana Shakti), da vontade (Iccha Shakti) e da ação (Kriya Shakti) caminham juntas. Por isto se diz que Shiva, a consciência Universal que contempla todos os fenômenos, é apenas um cadáver se não estiver acompanhado de Shakti, a Força Dinâmica que move, cria e dissolve Universos.


Aos pés de Mãe Kali.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Datas Especiais - Setembro de 2013




Existem dias que são especiais para adoração pois neles acontecem momentos astrológicos especificos que aumentam os méritos (Punya) adquiridos através dos ritos. As escrituras Tantricas nos dão uma lista destas ocasiões.

कृष्णाष्टमीचतुर्द्दश्यावमावास्याथ पूर्णीमा।
संक्रान्तिः पञ्च पर्वाणि तेषु पुण्यदिनेषु च॥ ८॥
kṛṣṇāṣṭamīcaturddaśyāvamāvāsyātha pūrṇīmā |
saṁkrāntiḥ pañca parvāṇi teṣu puṇyadineṣu ca || 8 ||

“ O oitavo, o décimo-quarto e o Amavasya da quinzena escura, a lua cheia, e o dia de transição do Sol entre os signos são as cinco ocasiões auspiciosas para adoração. " 
Kularnava Tantra, capítulo X verso VIII.

Em Setembro de 2013 temos o festival do Senhor Ganesha (Ganesha Chathurti), a quinzena lunar de adoração aos antepassados e os demais dias auspiciosos:
dia 03 – Krishna ChaturDashi (décimo-quarto dia da quinzena escura);
dia 04 – Amavasya (“Lua Negra”, a noite mais escura do mês lunar);
dia 09 – Ganesha Chathurti (Festival dedicado ao Senhor Ganesha);
dia 17 – Sankranti (Sol entra em Virgo);
dia 18 - Purnima (Lua cheia);
dia 19 de Setembro até o dia 04 de Outubro – Pitr Paksha, a quinzena lunar dedicada à adoração aos antepassados.
dia 26 – Krishna Ashtami (oitavo dia da quinzena escura);

Mêses Védicos: Shravana até o dia 05 de Setembro. BhadraPada desde o dia 06 até o dia 04 de Outubro.

Pitr Paksha - Quinzena de Adoração aos Ancestrais




               Todos os anos antes do Grande Festival da Deusa, o NavaRatri, que é realizado próximo aos equinócios de Outono e de Primavera, nós temos um período para expressar nossa gratidão aos nossos ancestrais. Esse período de uma quinzena é chamado de Pitr Paksha. Neste ano de 2021 o Pitr Paksha do NavaRatri acontece no período de 21 de até  Setembro até o dia 05 de Outubro (Amavasya). Nestes dias vamos relembrar com carinho nossos ancestrais, meditar sobre suas vidas e seus anseios e sobre como eles nos ajudaram à conquistar todos os nossos objetivos e a estar aqui, em adoração, nos dias de hoje. Vamos rever fotos antigas, lembrar bons momentos e estórias que nos foram contadas e, quem sabe, preparar alguns pratos que eram apreciados por nossos avós e bisavós. Reviver nossa história pessoal é prestar gratidão à todos aqueles que nos antecederam.


               Basta uma pequena reflexão para apreciarmos que tudo o que somos e o que conquistamos foi devido ao alicerce oferecido por nossos ancestrais. Os corpos que habitamos nesta vida não “surgiram do nada” quando tomamos consciência de quem somos. Poderíamos dizer que estes corpos foram “emprestados” por nossos ancestrais e serão transmitidos à nossos descendentes. Este corpo que é transmitido à cada geração e que permite a auto-realização de cada membro das famílias é chamado de Linga Sharira. È através do Linga Sharira que recebemos duas importantes heranças Divinas: Bhaga e Amsha, que são personificadas como dois dos doze Adityas - filhos da Grande Deusa Aditi. Bhaga é a herança física que pode ser interna ou externa. Internamente ele (Bhaga) é a nossa força física, nossa imunidade e outros “dons” manifestados no corpo físico que recebidos de nossos pais e avós. Externamente ele é o patrimônio e outros bens materiais herdados. Já Amsha é a fração da partilha Divina que nos coube, nossa “sorte”, as bênçãos que recebemos e o fruto dos méritos espirituais (Punya) que nos permitem uma vida mais harmoniosa. 


               Uma prática tradicional nestes dias de Pitr Paksha é oferecer “Tarpanam” aos nossos ancestrais. Esta pequena cerimônia pode ser feita por todos. Para o devoto os preparativos são bem simples: basta dispor de um pequeno vasilhame, tipo um copinho de metal, e uma pequena colher. Preencheremos este copinho com água da fonte mais pura possível, podemos usar água mineral, recitamos então uma volta (108 vezes) de JapaMala do Mantra de nosso Ishta Deva que é o nosso ideal de Perfeição (Durga, Ganesha, Kali, Shiva, Krishna ...) e à seguir o seguinte Mantra:


पिता स्वर्गः पिता धर्मः पिता हि परमं तपः 

पितरि प्रीतिमापन्ने प्रीयन्ते सर्वदेवताः 

om pitā svargaḥ pitā dharmaḥ pitā hi paramaṁ tapaḥ   |

pitari prītimāpanne prīyante sarvadevatāḥ   ||


“ OM, meus ancestrais são o meu paraíso. Meus ancestrais são o meu Dharma. Meus ancestrais são a minha mais elevada austeridade. Meus ancestrais estão satisfeitos, todos os Deuses estão satisfeitos. “


               Então, com a colher, uma pequena quantidade da água consagrada (Tarpanam) é oferecida ao solo ou sobre um pequeno pires de barro. O restante do que foi preparado pode ser lançado num jardim ou canteiro, ou ainda aos pés de uma árvore bem frondosa. O Sadhaka, aquele que foi iniciado no Dharma e mantém disciplinas espirituais regulares, pode oferecer Tarpanam logo após sua Sadhana diária ou junto com as práticas do Sandhya Vandanam,  usando os artigos rituais condizentes com a situação – Kosha e Koshi ou vasilhames de metal apropriados. Lembremos que esta prática é muitíssimo importante para aqueles que se dedicam a Kapala Sadhana e outras disciplinas espirituais semelhantes. 


               Na noite de 05 de Outubro de 2021 será celebrado o MahaLaya que simboliza a Grande Dissolução anterior à criação de um novo Universo. Este novo ciclo manifesta-se através do NavaRatri. Esta noite é muito especial para a realização de determinados rituais Tantricos.


               È só depois deste período de reflexão e de prática de gratidão que a Deusa é adorada em sua magnífica manifestação como MÃE. Seguindo o calendário litúrgico teremos então o NavaRatri de Outono, as nove noites da Deusa, começando no dia 06 de Outubro de 2021. 


Jaya Maa, Louvada seja a Mãe do Universo.


Varuni, o oceano de vinho



Namaste amigos, aproveito uma citação feita por um amigo para comentar sobre a importância do vinho nas tradições Tantrikas. 

“ O vinho é vida para o homem, quando o bebe com moderação. Que vida se vive quando falta o vinho? Ele foi criado para a alegria dos homens. Gozo do coração e alegria da alma: eis o que é o vinho, bebido a seu tempo e o necessário. Amargura para a alma: eis o que é o vinho, bebido em excesso, por vício e por desafio. “
Eclesiástico 31:27-29


" Oh Mãe, Tu finalizas Eras infinitas. Eu Lhe ofereço este vinho supremo e Shuddhi. Por favor os aceite e garanta-me Liberação Eterna. " MahaNirvana Tantra VI verso 88

Neste trecho do MahaNirvana Tantra o vinho é mencionado através do mesmo epiteto pelo qual é conhecido no Kaula Upanishad, “Varuni”, a Deusa que personifica o oceano de vinho, ou seja, de bem-aventurança, onde todos os Universos estão mergulhados. Este vinho é o primeiro e o mais importante dos cinco itens Tantrikos de adoração, PanchaMakara-s, e sobre ele o MahaNirvana Tantra diz: “ A característica do primeiro Tattva é que ele é o grande remédio da humanidade, que lhes garante a felicidade que lhes faz esquecer as suas tristezas. “ MNT VII, verso 103.

No mesmo capitulo, no verso 104, o texto nos informa das condições nas quais o remédio universal à de ser consumido: “ Ó Querida, os Kaulas devem sempre evitar o Tattva que não está consagrado pois ele traz embriaguez e confusão dos sentidos os quais geram conflitos e e doenças (da alma). “

O vinho é o primeiro e o mais importante dos PanchaMakara-s, os outros dois itens mais importantes são a carne e o peixe. A carne representa o próprio Senhor Shiva, a consciência de infinita bondade, em união Divina com as energias do universo (Shakti). O peixe representa o Guru primordial, Matsyendra Natha, que foi o revelador da ciência Tantrika neste Kali Yuga. Esta representação do vinho, da carne e do peixe é comum à algumas outras correntes iniciáticas que influenciaram e continuam à influenciar silenciosamente as multidões. Jaya Maa.

domingo, 4 de agosto de 2013

Datas Auspiciosas de Agosto 2013






Existem dias que são especiais para adoração pois neles acontecem momentos astrológicos especificos que aumentam os méritos (Punya) adquiridos através dos ritos. As escrituras Tantricas nos dão uma lista destas ocasiões.

कृष्णाष्टमीचतुर्द्दश्यावमावास्याथ पूर्णीमा।
संक्रान्तिः पञ्च पर्वाणि तेषु पुण्यदिनेषु च॥ ८॥
kṛṣṇāṣṭamīcaturddaśyāvamāvāsyātha pūrṇīmā |
saṁkrāntiḥ pañca parvāṇi teṣu puṇyadineṣu ca || 8 ||

“ O oitavo, o décimo-quarto e o Amavasya da quinzena escura, a lua cheia, e o dia de transição do Sol
entre os signos são as cinco ocasiões auspiciosas para adoração. " 
Kularnava Tantra, capítulo X verso VIII.

Em Agosto de 2013 estes dias auspiciosos serão:
dia 04 – Chaturdashi (décimo-quarto dia da quinzena escura);
dia 05 – Amavasya (“Lua Negra”, a noite mais escura do mês lunar);
dia 16 – Sankranti (Sol entra em Leo);
dia 20 - Purnima (Lua cheia);
dia 27 – Ashtami (oitavo dia da quinzena escura);

Mêses Védicos: Ashadha até o dia 05. Shravana do dia 06 até o final do mês.

Algumas formas de Bhairava





Nos rituais Tantrikos uma das formas mais celebradas do Senhor Shiva é a sua forma esotérica e irada de Bhairava, sobre a qual se afirma que traz Moksha (Liberação do ciclo de renascimentos) de maneira mais imediata. O próprio Bhairava se apresenta sob multiplas manifestações que são relevantes as disciplinas espirituais praticadas pelos Sadhakas Tantrikos. Vamos conhecer algumas delas:
Começaremos por Ananda Bhairava, que junto à sua consorte Ananda Bhairavi, são as formas da Divindade que garantem a presença de Ananda (bem-aventurança) nos ritos onde se oferecem os cinco Ms. Seu Mantra é usado nesta consagração especial juntamente à Mudras e procedimentos específicos.
Uma outra manifestação importante é a de MahaKala Bhairava é um grande protetor da tradição Tantrika e pode ser adorado num ShivaLingam. Ele remove obstáculos que dificultam a prática e abençoa o Sadhaka com uma objetividade centrada nos aspectos mais espirituais do ser. MahaKala Bhairava é o consorte de Dakshina Kali, é Ele que se apresenta sob os pés Dela nas famosas Murtis produzidas no estado da Bengala - India.
Ambas as formas (Ananda Bhairava e MahaKala Bhairava) são comumente propiciadas através de um cabeça ritual que é preparada de forma especial. Esta prática é anterior ao período das dinastias dos reis Malla do Nepal que eram assistidos pela classe sacerdotal dos Newar. Ela permanece até hoje em vários círculos Kaula.

Bastante comum  é a representação das oito formas de Bhairava que estão associados as direções do espaço e tem como consortes as oito Matrkas (Mães Divinas) formando uma bela Mandala de adoração Tantrika. Estes Bhairavas possuem características peculiares que os diferenciam entre si e fornecem elementos à suas liturgias. São eles: Asitanga Bhairava, Ruru Bhairava, Chanda Bhairava, Krodha Bhairava, Unmatta Bhairava, Kapala Bhairava, Bhishana Bhairava e Samhara Bhairava. Destes, Asitanga Bhairava é o primeiro e está posicionado em direção ao Leste. Ruru Bhairava é associado às formas mais viris de Shiva. Chanda Bhairava, de cor vermelha, possue características guerreiras e protege seus Sadhakas das forças do submundo e do reino dos mortos. Também está associado às oito Shaktis que formam uma das cortes da Mandala de Kali Devi. Krodha Bhairava se apresenta numa postura de dança e protege dos malefícios. Um de Seus Mantras facilita o desapego às coisas do plano material. Unmatta Bhairava é belo e atraente e representa a própria consolidação do Dharma, ou seja, das forças de coesão social. Sua consorte entre as oito Matrkas é Varahi, a Deusa que simboliza o sacrifício ritual. Possui Urdhva Linga e apresenta-se embriagado. Kapala Bhairava é patrono de todos aqueles que realizam Sadhanas nos campos crematórios e simboliza o Maha Vrata. Ele também carrega um peixe e teria sido propiciado pelo próprio Matsyendra Natha, o mítico revelador do Kaula Dharma neste Kali-Yuga. Bhishana Bhairava  é o terrível iniciador e auxilia aqueles que querem superar a visão dualista do mundo. Ele instila o terror porque é aquele que lembra da inevitabilidade da morte. Samhara Bhairava  está diretamente associado à Kala Agni, o fogo do Tempo, e a dissolução final que acontece ao término de cada ciclo de existência e, portanto, nos remete à obtenção de Moksha.

Os oito Bhairavas (AshtaBhairava) são geralmente adorados junto à suas consortes que são as oito Matrkas, formando os seguintes casais: 01. Asitanga Bhairava e Brahmani (Brahmi) Matrka, 02. Ruru Bhairava e Maheshvari, 03. Chanda Bhairava com Kaumari Matrka, 04. Krodha Bhairava junto à Vaishnavi (Narayani), 05. Unmatta Bhairava e Varahi Devi Matrka, 06. Kapala Bhairava com Indrani (também conhecida como Aindri, Indrayani ou Aparajita) Matrka, 07. Bhishana Bhairava junto à Chamunda Matrka e por fim 08. Samhara Bhairava e Narasimhi Matrka.

Há também uma representação de Bhairava como menino que é chamada de Batuka Bhairava. Juntamente com Ganesha ele é adorado através de dois meninos que os representam. Esta prática é belamente descrita no Kularnava Tantra que também menciona, e fornece a base escritural, ao Kumari Puja inicialmente praticado pelas cortes dos reis Malla do Nepal e que posteriormente se popularizou entre todas as tradições Tantrikas do subcontinente Indiano. No Kumari Puja uma menina é escolhida para representar a própria Deusa encarnada e é adorada com doces, roupas e muitas homenagens. Ser escolhida para representar a Deusa durante as celebrações de NavaRatri é uma grande honra para qualquer menina das famílias tradicionais e é motivo de muitas alegrias.

Os ritos Tantrikos são, em geral, finalizados pela adoração de uma Deidade que representa a pura e inocente satisfação com tudo o que foi oferecido e a complacência diante de eventuais falhas. Esta Deidade é chamada de Uchchishta Devata e todas as formas de Bhairava tem como Uchchishta Devata o próprio Uchchishta Bhairava que recebe oferta de flores, perfumes e grãos de arroz para eliminar todos os obstáculos às disciplinas espirituais, conforme descrito em seu Dhyanam:
गन्धपुष्पाक्षतैः पूज्य ध्यायेदुच्छिष्टभैरवम् 
gandhapuṣpākṣataiḥ pūjya dhyāyeducchiṣṭabhairavam   |
गदात्रिशूलडमरुपात्रहस्तं त्रिलोचनम् 
gadātriśūlaḍamarupātrahastaṁ trilocanam   |
कृष्णाभं भैरवं ध्यायेत् सर्वविघ्नवारणम् 
kṛṣṇābhaṁ bhairavaṁ dhyāyet sarvavighnavāraṇam   ||

Um das principais escrituras com práticas Tantrikas é o “Vijñana Bhairava” onde 112 meditações (Dharanas) são mencionadas para auxiliar o adepto na obtenção de estados contemplativos muito relevantes em sua jornada espiritual. Estas meditações podem ser ainda mais aprofundadas através do contexto ritual apropriado e a adoração em Chakra apresenta um momento bastante auspicioso para a sua prática.

" Ò nobre Senhora, apesar desta ser a parte mais secreta dos Tantras eu falarei
à Ti sobre ela que foi exposta para esclarecer sobre as formas de Bhairava. "
Vijñana Bhairava verso 8