quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Sabores da Adoração

Talvez vocês já conheçam o “cidadão” da fotografia .... mas não o conhecem pelo seu nome Indiano. Sim, é um pé de moleque. Naquele País mantém-se ainda o costume de preparar este e outros doces em casa, junto à família.

A Índia e o Brasil partilham um clima semelhante e muitos alimentos disponíveis por lá também estão disponíveis por aqui e, aos poucos, estão sendo (re)descobertos. Temos exemplos no Açafrão da terra (Haridram), no Tribulus Terrestris (Gokshura) e no Pulao que é um tipo de arroz à Grega .... só que Indiano.

Como já sabemos, numa Puja o alimento (Naivedyam) é um dos cinco itens essenciais. Os demais são o óleo essencial (Gandha), as flores (Pushpa), o incenso (Dhupa) e a lamparina (Dipa). A opção mais simples é a oferta de frutas porém os Sadhakas e devotos que conhecem as injunções para o preparo de alimento à ser servido no altar se beneficiarão muitíssimo ao incluir esta atividade em suas Sadhanas.

Juntar os amigos para partilhar e preparar receitas antes da Puja será um agradável upgrade de nossas Sadhanas e tornarão o evento ainda mais festivo. Não é necessário que seja um alimento sofisticado. O segredo está na simplicidade e alegria de estar juntos. Começar com as receitas de Modaka (doces em forma de bolinhas) que são oferecidas ao Senhor Ganesha é uma boa escolha.

Após a descontração no momento do preparo dos alimentos, que pode incluir até as crianças e os mais novinhos nas tarefas mais simples, todos podem se congregar diante do altar (que pode ser uma pequena prateleira decorada), fazer a saudação inicial (Devata Pranama), colocar ali uma gotinha de perfume (Gandha) e flores, acender o incenso e a lamparina, colocar o pratinho com os alimentos selecionados e, então, recitar o mantra escolhido para a ocasião. Após um mínimo de 108 recitações, ou seja, uma volta do JapaMala (rosário para Mantras) o alimento estará consagrado e passa à ser chamado de “Prasada” – a opulência da Divindade.

Estas sugestões nos afastam da avareza da adoração insípida tão comum em nossos dias. Esta forma de adoração é uma crendice de origem protestante que tenta interagir com a Divindade apenas através de embromação (embroma + oração) improvisada. Tornar o momento de rezar um momento especial onde celebramos o privilégio de comungar com a forma da Divindade escolhida é algo muito auspicioso.

Certamente a Divindade “não precisa” de nossas oferendas, elas são sacrificadas e consumidas como símbolo de nossa união com o Deus escolhido. União esta partilhada por todos os nossos sentidos – olfato, tato, paladar, visão e audição. Isso é um nível mais profundo e intenso de experiência muito distante da adoração insípida, tão distante como ler num livro a descrição de uma refeição ou tê-la diante de nós servida sobre a mesa. O Dharma é uma vivência diária e real não apenas palavras escritas num livro.