quarta-feira, 1 de março de 2023

Introdução às Dasha MahaVidyas


 

A Divindade assume inúmeras formas e todas elas garantem bençãos (Dharma, Artha, Kama) outras vão além e trazem também a libertação final (Moksha). Numa compreensão ideal, suprema, além dos três Gunas que mantém todo o Universo, estas formas são entendidas como manifestações de uma única Força. Entretanto todas as almas encarnadas, todos os seres, e toda a Criação estão sujeitos aos três Gunas portanto as diferenciações identificadas são efetivas e devem ser levadas em consideração.

 

No âmbito dos Tantras várias formas da Divindade são reconhecidas e propiciadas através de suas disciplinas espirituais especificas. Numa perspectiva mais externa, geográfica, há os dez DikPalas – os dez protetores das direções. Num âmbito mais sutil e profundo há as oito Matrkas, as oito formas da Mãe Divina que também cuidam da função de proteger o Dharma e seus praticantes porém atuam também na correção de eventuais desvios internos (subjetivos) e externos (na natureza). Estas Matrkas podem estar acompanhadas de oito formas de Shiva Bhairava associadas as oito direções.

 

Num circulo ainda mais interno temos os Cinco Grandes Devas (Pañchayatana) cujas práticas espirituais são muito relevantes à todas as pessoas espiritualizadas sejam elas iniciadas em Mantras ou não. A propiciação diária de Shakti, Ganesha, Surya Deva, Senhor Vishnu e Senhor Shiva geram resultados muito harmonizadores. Isso pode ser feito de maneiras muito simples seja através de uma breve recitação de seus Mantras, da oferta de flores ou grãos de arroz diante de suas representações (quadros ou estátuas) ou de um pequeno “Arati” (Aratrikam).

 

Para o iniciado Tântrico um grupo de Mães Divinas é muito relevante – as Dez Grandes Sabedorias ou Técnicas (Dasha MahaVidyas). Na escritura sagrada MahaNirvana Tantra o Senhor Deus Shiva inicialmente se dirige à Senhora Kali e diz: “Tu és a Primordial, Tu és a origem de todas as Vidyas.” Por isso o primeiro Mantra à ser transmitido é o desta forma primordial – Adya Kali. Nos versos seguintes o Senhor continua esta revelação: “Tu és Kali, Tarini, Durga, Shodashi, Bhuvaneshvari, Dhumavati, Bagala, Bhairavi e Chinnamasta. Tu és AnnaPurna, VagDevi e a Deusa Kamalalaya.” Estas doze formas reveladas correspondem às Dasha MahaVidyas e mais duas outras formas muito relevantes nas tradições Tântricas – Durga e AnnaPurna.

 

Vejamos em breve detalhe as Deusas que o Senhor menciona. Primeiro as Dasha MahaVidyas e depois Durga e AnnaPurna: 1. Kali – que pode apresentar-se sob várias formas individuais conforme sua função litúrgica. 2. Tarini – uma forma terrível também conhecida como Tara, UgraTara ou NilaSarasvati (a “Sarasvati azul marinho”). 3. Shodashi – a linda forma da Deusa representada como uma eterna jovem de 16 anos. É considerada Suprema em algumas outras tradições onde é chamada como Lalita ou Tripura Sundari. 4. Bhuvaneshvari – a Suprema Senhora do Universo. Adi ParaShakti no Devi Bhagavatham. Bhuvaneshi ou Bhagavati. 5. Dhumavati – uma forma assustadora porém a Grande Purificadora. Mencionada como Jyeshtha e ALakshmi. 6. Bagala – conhecida também como Pitambari, Brahmastra Rupini e BagalaMukhi. Seus nomes indicam a importância de suas funções. 7. Bhairavi – forma bastante irada que rege, entre outros aspectos, a energia vital. Também chamada de Tripura Bhairavi pois seus “movimentos” interferem em três aspectos do Universo. 8 Chinnamasta – extremamente dinâmica. Relevante em várias disciplinas espirituais. Chamada de VajraVairochani ou PraChanda Chandika. Estas são as formas mencionadas no verso 13.

 

Já no verso quatorze a nona MahaVidya é mencionada: 9. VagDevi – Também conhecida como Matangi, Chandalini ou Ucchishtha Devi. Ela é aspecto supremo de uma categoria de Devas mencionados e propiciados apenas nos Tantras. 10. KamalaLaya – Aquela que está estabelecida numa flor de Lótus. Seus outros nomes incluem: Kamala, SiddhiLakshmi e Siddheshvari.

 

Duas formas de Devi foram mencionadas pelo Senhor junto às Dasha MahaVidyas: Durga no verso 13 e AnnaPurna no verso 14. O nome Durga, Aquela difícil de ser alcançada, é mencionado com bastante freqüência e se tornou o termo mais popular quando nos referimos à Deusa. Porém dentro de um contexto escritural onde ele é mencionado junto às dez formas esotéricas que exigem iniciação prévia para sua propiciação uma atenção especial é necessária. Quem é esta Durga mencionada pelo Senhor Shiva ?  A resposta está numa visualização (Dhyanam) prescrita na escritura sagrada Chandi Patha: “Saudamos esta Durga possuidora de três olhos”. Três Dhyanam-s são prescritos antes da recitação do Navarna Mantra e um quarto Dhyanam é feito após o Mantra. É neste Dhyanam que Chandi se revela ao povo como Durga. O iniciado, o sacerdote do santuário doméstico, sabe que o que o povo conhece como Durga é verdadeiramente Chandi. Já AnnaPurna é a própria representação da misericórdia da Grande Deusa. Ela é Aquela que restabele os plenos poderes do Senhor Bhairava após ele ter sido banido e renegado à uma posição meramente humana (vide MahaVrata Kapalika). Ao exercer esta função AnnaPurna se torna Aquela que abre as portas das iniciações Tântricas e restabece no homem comum o seu contato direto com a Divindade.