Todos aqueles que buscam um caminho espiritual
certamente o fazem por um anseio interno, uma busca pela Divindade que vêm do
mais intimo de suas almas. A maioria daqueles que buscam o fazem com
sinceridade em seus corações. Da mesma forma talvez a maioria daqueles que se
propõe à auxiliar neste caminho o fazem com sinceridade pois acreditam naquilo
que estão fazendo.
Entretanto a sinceridade do buscador ou do instrutor
não são absolutas para garantir o sucesso (Siddhi) numa iniciativa. Mesmo o
pedreiro mais sincero pode ver a ponte construída por ele cair se o
conhecimento necessário para erguê-la não for seguido. Erguer pontes é um
trabalho de grande responsabilidade que exige maiores capacitações do que
aquelas de um homem que só dispõe da prática à seu favor, sem ter seguido os
requisitos básicos para alcançar uma formação superior.
Os requisitos que se que se referem à um Guru
Tantriko podem ser verificados diretamente nas escrituras que preservam este
Vidya (este conhecimento, esta ciência). È lá que o buscador sincero pode
encontrar referências para guiá-lo na direção de um Guru capacitado. O
Kularnava Tantra em seu capítulo XIII fala que o Guru se dedica á prática dos
três tipos de rituais: diários, ocasionais e voluntários (respectivamente
Nitya, Naimittika e Kamya Karmas); é equânime diante do elogio ou da critica; é
fiel ao seu Dharma (à sua tradição) e é conhecedor do significado dos Mudras,
entre outras características. Neste mesmo capítulo o Guru de um tipo superior é
descrito como aquele que conhece o simbolismo do Chakra, dos Mantras e da Puja
(verso 81); aquele que conhece as técnicas para oferendas tanto internas quanto
externas e, (portanto) sabe preparar (desenhar) belos Yantras para adoração
(verso 87) e aquel que conhece o procedimento de todos os ritos (verso 117).
Os versos finais do capítulo também sugerem o
procedimento que o discípulo pode adotar na sua busca, caso tenha tido um equivoco:
“ Entretanto se o alguém seguir um Guru que não
possui conhecimento e que cria duvidas, não há demérito em buscar um outro Guru
”. Verso 131
“ Tal qual a abelha sedenta por mel indo de flor em
flor. O discípulo sedento de conhecimento vai de Guru à Guru “. Verso 132
Isto entretanto não deve ser interpretado como um
estimulo ao diletantismo ou à mera especulação intelectual estéril.
“ Ao obter um Guru que condiz com todas as
características, que esclarece todas as duvidas e passa o conhecimento de forma
que o satisfaça, o discípulo não deve buscar outro “. Verso 130
“ ... apesar de vários Gurus, é somente aquele que
dá a iniciação completa que deve ser venerado “. Verso 129
Bem, vemos então que o discípulo pode buscar o
conhecimento em várias fontes sem futilizar sua jornada. As escrituras têm um
grande exemplo na estória de DashaRatha, ele era discípulo do sábio Vasishtha.
Ele deseja ter filhos e havia ouvido falar de um grande Yajña que lhe daria
aquela benção, ao indagar seu Guru sobre aquele ritual, Vasishtha lhe
respondeu: “Eu sou um celibatário e, portanto, não conheço este Yajña. Vá até o
sábio Shringa, ele vai realizar este rito para você.” Neste caso o próprio Guru
sugeriu que o discípulo buscasse outro mestre de forma à obter um conhecimento
muito especifico. O Guru principal é um Mula Guru enquanto os demais são os Upa
Gurus, aqueles que nos ensinam procedimentos específicos.
Na busca de um Guru algumas dicas podem ser de
grande utilidade. Pergunte sobre seus mestres anteriores. Verifique se ele
segue o exemplo da tradição que representa. Esta fidelidade vai muito além das
roupas que ele veste ou dos símbolos que usa. Por exemplo, um Guru de linhagem
Hindu que fala usando termos Budistas é alguém que pode parecer um tanto
confuso. Alguém que alega passar conhecimentos muito profundos porém que não
conhece o mais básico e simples de sua tradição demonstra que não seguiu os
passos necessários para apresentar-se como “um mestre”. Tal qual nosso exemplo
do pedreiro, que embora muito sincero, não pode salvar sua ponte. O mesmo
acontece com um grande engenheiro sem conhecimentos práticos do cotidiano, que,
portanto, não poderia supervisionar a obra em seus estágios mais básicos.
Que Mãe Kali nos abençoe, Jaya Ma !