sábado, 17 de fevereiro de 2024

Utsavas, os festivais do Tantra.

A expressão “festival religioso” em língua Sânscrita é “Utsava” um substantivo composto pelo prefixo “Ud” (superior, para cima) e “Sava” (impulso ou ritual). Pois bem, cada Utsava, cada festival, é um momento de incrementar as atividades espirituais que já estavam ali. No festival algo especial é realizado e superamos assim as ações comuns, cotidianas, as quais retornaremos ao final do festival.

 

A celebração dos Utsavas é a maneira prescrita pelo Dharma para cultivar Shakti e expandir nossas Forças Espirituais. Estes Utsavas são tornados efetivos e reais a partir das nossas ações realizadas durante o período prescrito. Sem estas ações os festivais seriam apenas simples datas marcadas num calendário.

 

As datas do calendário litúrgico foram escrituralmente reveladas e marcam conjunções astronômicas que propiciam a aquisição dos frutos de cada ação. Portanto as datas litúrgicas não devem ser celebradas conforme as conveniências pessoais mas sim no momento prescrito. Os Tantras sancionam o conceito já expresso nos Vedas de que é melhor realizar um ação, mesmo em menor escala, no momento prescrito do que realizá-la, mesmo que completa, fora de seu tempo.


 

domingo, 1 de outubro de 2023

Tantra não se aprende em livros

 


Frequentemente mencionamos a importancia de flores, bom incenso, lamparinas etc no processo de Sadhana porém a mente rasa ou o pensamento superficial nem sempre sente-se capaz de compreender a relevancia destes itens no processo das disciplinas espirituais e posterior iluminação da alma (Moksha) conforme entendidas pelos Tantras.

Tentaremos introduzir brevemente essa perspectiva Tantrica com o apoio das suas escrituras e de seus grandes e reconhecidos sábios. UtPalaDeva o grande expositor da Doutrina do Reconhecimento (PratyAbhiJña) afirmava que o estado supremo da alma seria fruto fomentado por Samavesha - a absorção dos 10 sentidos (Karmendriyas e Jñanendriyas) e da mente em uma única idéia. Estes sentidos seriam previamente purificados pelo uso consciente de ofertas (Dravya: incenso, luzes, comida etc ...) no plano físico, ofertas essas que estimulariam estes sentidos, como o que é geralmente feito na realização de uma Puja.

"Rupam Dehi, Jayam Dehi, Yasho Dehi, Dvisho Jahi".
Refrão do Argala Stotram, hino auxiliar (Anga Stotra) do Chandi Patha.
" ..... Dai-nos o Esplendor (Yasha) .....".

Esse "algo esplendido", esse "Esplendor" que nos deslumbra e maravilha era chamado de "ChamatKara" por UtPalaDeva, ou seja, a expressão de jubilo e surpresa feita pela mente encantada e em extase.

É este impacto daquilo que é sensorial (ChamatKara) e foi previamente consagrado através dos ritos que manifesta o impacto de Força Espiritual (ShaktiPat) que é, então, reconhecido (pelo Sadhaka) como a Consciência Divina por trás de todos os fenomenos.

Para o sábio Tantrico AbhinavaGupta a interação destas poderosas Forças com a mente gerariam "Shanta Rasa", ou seja, a profunda sensação de base estética que leva a percepção de uma Paz Perpetua. Esse Shanta Rasa é descrito assim nas próprias palavras do grande mestre: "Aquilo que traz uma Suprema Paz e Bem-Estar à todos os seres e os torna Perfeitamente estabilizados (Samsthita) em Si- Mesmos."

"Ya Devi SarvaBhuteshu ShantiRupena Samthita, Namastasyai, Namastasyai, Namastasyai Namo NamaH".
Um dos refrões do Tantroktam Devi Suktam, parte do capitulo V da escritura Chandi Path.
" Aquela Deusa que existe em todos os seres perfeitamente estabelecida (Samsthita) sob a forma de Paz .....".

Ora, diante do exposto é natural perceber que não seria possivel entender a obra de AbhinavaGupta e de outros mestres Tantricos sem ter uma apreensão estética, bela, sensorial de seus trabalhos. Imaginar que esta perspectiva pudesse ser entendida no ambiente frio e asséptico de uma sala de aula ou através de uma video-aula na tela do computador ou celular é ter uma idéia por demais limitada do que é Tantra e do que praticam os seus adeptos.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Inicio da recitação do Chandi Path


 

As disciplinas espirituais do Chaṇḍī Pāṭha são consideradas um importante instrumento na transformação espiritual e progresso de todos os Sādhakas. A maneira mais simples de iniciar estas Sādhanas consiste em familiarizar-se com os três poderosos Añga Stotras (Hinos Auxiliares) que antecedem a escritura: o DevyāH Kavacham, o Ārgalā Stotram  e, então, o Kīlaka Stotram.

 

O primeiro é “a colocação da armadura da Deusa”, neste hino inúmeras Forças Espirituais (Shaktis) são evocadas para a proteção e progresso do Sādhaka. Ele é também usado para afastar influências espirituais negativas que possa intervir em pessoas, objetos ou lugares.

 

O segundo é o “levantamento das travas”, ou seja, a remoção de obstáculos à jornada espiritual e ao auto-conhecimento. Este hino clareia a mente e restabelece nosso ponto de equilíbrio. Seu uso é especialmente recomendado em fases criticas da vida.

 

O terceiro é o misterioso “hino que remove os ferrolhos”. Esse hino traz as chaves para que a recitação do Chaṇḍī Pāṭha  e todas as demais ações sejam bem sucedidas. Ele pode ser recitado sempre que desejamos mudanças em nossas mentes ou na realidade coletiva.

 

Inicie as disciplinas de recitação sentando-se em um Asana que lhe seja confortável e que você possa sustentar por um bom tempo. Uma das metas deste Sādhana é conquistar um Āsana estável.

 

Antes de usar as recitações dos Añga Stotras em Kāmya Pūjās, ou seja, Pūjās para obter graças especificas, recomenda-se que o Sādhaka faça um acumulo de méritos espirituais através de 108 recitações completas. Sugerimos que mantenha um caderninho ou bloco de notas no celular para anotar quantas recitações são feitas por semana até atingir a meta.