domingo, 8 de maio de 2022

Sampradayas Contemporaneos

 

Namaste,

 

O Sanatana Dharma (“Hinduísmo”) é bastante diversificado e há inúmeras tradições historicamente estabelecidas à milênios. Comentemos sobre as principais tradições (Sampradayas) estabelecidas atualmente. Estas surgem, como movimentos independentes, no periodo Puraniko do sub continente Indiano. Este período histórico se desenvolve na medida em que o Brahmanismo (antiga forma do Sanatana Dharma) perde popularidade. Vejamos:

 

Smarta

Religiosidade não-sectária que adora os Cinco Grandes Devas). É baseado em elementos dos Mimamsas (Purva e Uttara) e do Yoga. Algumas de suas práticas mesclam elementos Védicos e Tântricos. Esta tradição apresenta um caráter bastante ortodoxo e influencia várias escrituras de outras tradições como o “Mantra Yoga Samhita” e o texto Tântrico (Shri Vidya) “Mantra MahoDadhi”.

 

O Shaktismo

Apresenta religiosidades centradas no aspecto feminino da Divindade que é personificado como Shakti. O culto à Mãe Divina é muito presente na Índia entretanto é indevidamente colocado num segundo plano onde as Shaktis femininas, embora constituam o foco das práticas, são reconhecidas apenas através de seus consortes masculinos. Esta tradição apresenta linhagens Pauranikas, mais comuns, e Tantrikas como o Shri Vidya e o Kaula Dharma. 

 

O Shivaismo

Religiosidades centradas no Senhor Shiva presentes desde o período Védico sob a forma de Rudra. Seus principais expoentes são: o ViraShaiva, o Shaiva Siddhanta, os Lingayatas e a linhagem Natha. Também os Kapalikas e Aghoris, ambos de forte influencia Tântrica, fazem parte deste grupo. Muitas práticas Shaiva tem origem em tradições hoje extintas como os KalaMukhas e os Pashupatas porém elas persistem em linhagens contemporâneas.

 

O Vaishnavismo

Religiosidades centradas em Vishnu ou em um de seus Avatares. As quatro principais tradições deste grupo são todas originadas no período Puraniko, são elas: 1. Vishisthadvaita baseada nos ensinamentos do sábio Ramanuja; 2. Dvaitadvaita do sábio Nimbarkacharya; 3. Dvaita do sábio Madhva; e 4. PushtiMarga do sábio Vallabhacharya. O Gaudya Vaishnavismo, popular no Ocidente, vem da doutrina TattvaVada promulgada por Madhva (3).

 

O Ganapatya

Religiosidade centrada em Ganesha e que tem como principais referencias escriturais o Ganesha Purana e o Mudgala Purana. Esta linhagem e a tradição Saurya foram as que mais sofreram com as invasões muçulmanas pois estavam nas principais rotas de ataque. Enquanto as linhagens Saurya foram extintas o culto ao Senhor Ganesha prosperou e se muito relevante em todas as demais tradições, Ganapati é honrado antes de quaisquer empreendimentos. Entretanto detalhes exclusivos de sua liturgia, mencionados nos seus Puranas, estão hoje quase esquecidos.

 

Os Saurya-s

Religiosidades centradas na adoração ao Sol. Estima-se que o centro geográfico desta tradição estava na região de Magha, entre o atual Gujarat e a Pérsia antiga. Observemos que Magha também é o nome do mês Védico onde o Sol está em seu domicilio – signo de Leão. Talvez muitas religiosidades do antigo Crescente Fértil até Roma possam ser consideradas aspectos desta tradição tendo em vista que o Sol era a mais relevante forma da Divindade entre elas. O Samba e o Bhavishya Puranas são suas principais escrituras e o seu festival Cchath foi preservado em vários locais.

 

Kaumara

Religiosidade centrada em Murugan/Kartikeya cujo principais centros de culto encontram-se no sul da Índia. Ali Kartikeya é reconhecido como a principal forma da Divindade e todos os demais Devas formam sua corte celestial. Muitas de suas práticas são oriundas do Shivaismo que lhe precede historicamente porém há também relevantes elementos que lhe são exclusivos, vide o festival de Thaipusam que celebra a lança usada pelo Deus e que foi recebida como presente da Mãe Divina.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Temor de Magia Negra


Namaste,

 

È relevante comentar sobre o (indevido) temor que alguns Sadhakas podem apresentar diante de algo que denominam “Magia Negra”. Bem, este termo se refere à possibilidade de uma pessoa intervir no bem-estar, saúde ou “sorte” de uma outra pessoa através de meios sutis, energéticos ou “mágicos”.

 

Essa definição afasta, logo em primeira instancia, uma outra situação que é a possibilidade de um elemento mal-intencionado fazer uso de rumores para prejudicar a reputação, o trabalho ou os negócios de seu desafeto. A simples maledicência é, de longe, a estratégia mais comum usada para prejudicar alguém. Pouquíssimos desafetos possuem o conhecimento, a aptidão ou a determinação para usar métodos mais sutis.

 

Ao ser descartada uma eventual fofoca maliciosa ou um possível diagnóstico de hoisofobia (medo de sofrer encantamentos) por trás de má sorte, estagnação ou insatisfação geral do Sadhaka com as condições de sua vida, devemos analisar o que poderia causar este momento de tribulação.

 

Observem a prudência em se afirmar a possibilidade de “Magia Negra” logo à principio pois um Sadhaka que recebe um Mantra de maneira tradicional e o pratica com regularidade estaria além de uma eventual vulnerabilidade à tais atos maliciosos. Portanto, devemos buscar as causas de infortúnio na esfera pessoal do próprio Sadhaka.

 

Existem algumas possibilidades que podem intervir no fluxo benéfico de nossas próprias energias e, da mesma forma que um banho físico nos previne dos dissabores da ausência de asseio corporal, uma rotina de “limpeza energética” nos manterá sempre tranqüilos em nossas disciplinas espirituais.

 

Enumeramos abaixo alguns fatores que podem afetar negativamente:

 

Shakti Sthambana – A estagnação da energias elementais à nossa volta.

Sabemos que Shakti atua no plano físico através dos cinco grandes elementos (Pañcha MahaBhutas). A adoração puramente mental sem o alicerce dos cinco sentidos (Jñanendriyas - que são o vinculo entre os grandes elementos e a mente (Manas) não é prescrita para aqueles que mantém rotinas de trabalho, estudos e/ou cuidar da casa e família, ou seja, para os Grhastas. Portanto a rotina de Sadhana deve, periodicamente, incluir frutas, flores e outras ofertas (Dravyas) que interajam com os sentidos.

 

Mantra Dosha – “Impurezas” internas, comportamentais, que contaminam o Mantra após o seu recebimento na cerimônia de Diksha.

O Tantra entende os Mantras como seres “vivos” que interagem com os indivíduos e as condições sob as quais são praticados da mesma forma que os próbióticos benéficos interagem com o metabolismo de seu hospedeiro. O Kularnava Tantra e o Sharada Tilaka Tantra apresentam dezenas de Doshas que podem afetar um Mantra, mesmo que este tenha sido recebido através de uma Diksha legitima.

 

Ari Mantra Kriya – Um Mantra que não foi recebido de boca à ouvido, que não se sabe seu Viniyoga ou seu real Dhyanam (visualização prescrita) ou feito sem regularidade ou outras “deficiências” (Chidram) pode acumular inúmeros Doshas. Após algum tempo este Mantra pode tornar-se “Ari”, ou seja, inauspicioso. Algo como um inimigo interno que criará obstáculos às realizações da pessoa que se dedicou ao seu uso.

 

Em ordem decrescente de probabilidade apresentamos possíveis causas de infortúnio entre Sadhakas iniciados. Este pequeno texto introdutório visa apenas trazer a reflexão que muitos de nossos problemas ou insatisfações não tem origem externa mas sim dentro de nós e que muitas vezes não vemos as soluções que estão à nossa frente e nos entretemos em buscar longe, à um custo considerável, aquilo que já estava ali o tempo todo, à nossa disposição.

 

Que a Mãe Divina tenha misericórdia de todos.