Sociedades
organizadas possuem diferentes graus de
especializações de forma que cidadãos capacitados executem funções para as
quais foram preparados e possam garantir segurança, bons resultados e correta
transmissão de conhecimento conforme o caso.
Mas nem
sempre as coisas funcionam de uma maneira sensata, justa ou até mesmo honesta,
ou seja, uma maneira baseada no Dharma, numa interrelação harmoniosa e
equilibrada.
Os
escândalos que regularmente surgem envolvendo falsos médicos, falsos
advogados e
até falsos desportistas e falsos Gurus demonstram que alguns cidadãos não tem
respeito pelo conhecimento, empatia pelo próximo ou ética em suas relações.
Enquanto os
falsos médicos e advogados respondem diante da justiça pelos crimes de
falsidade ideológica e exercício ilegal da profissão o mesmo não ocorre com
falsos desportistas ou falsos faixas preta e também com falsos Gurus.
Até o meio
desportivo sofre com elementos que desejam ostentar uma posição para a qual não
estão preparados. No Jiu Jitsu, por exemplo, falsos faixas preta são
regularmente identificados e denunciados porém estes casos raramente vêm à
conhecimento publico e ficam restritos aos ambientes das academias e
federações.
No meio da
espiritualidade e do Yoga o mesmo acontece. A inexistência de um padrão ou de
um organismo regulador faz com que elementos mal-intencionados possam circular
livremente com a certeza do anonimato e impunidade.
Que dicas
poderíamos partilhar para identificar estes elementos e evitar dissabores em
nossos estudos, treinos ou formação ?
O farsante
não surge do “nada”, ele deliberadamente tenta construir uma imagem de
autoridade e confiabilidade. Em geral participa de Fóruns da área ou redes
sociais e expõe sua opinião de forma chamativa.
Para criar
sua imagem de autoridade o criminoso busca ser testemunhado junto à verdadeiras
referencias da área. No Jiu Jitsu era comum que falsos faixas preta tirassem
fotos junto à membros da família Gracie como o Rickson Gracie e outros para,
então, postar estas fotos em redes sociais alegando uma proximidade,
treinamento ou qualificação que nunca tiveram.
A
estratégia no meio espiritual é semelhante. O farsante divulga imagens de
viagens à Índia sempre junto à verdadeiros Sadhakas e Sadhus que, provavelmente
estavam apenas sendo simpáticos, mas são apresentados como “seguidores” ou “discípulos” do falso mestre.
Forjar
autoridade dentro de uma linhagem (Sampradaya) inexistente ou pouco conhecida
no Brasil é bastante comum. O falso mestre pode chegar ao ponto de criar falsos
perfis de supostos discípulos nas redes sociais, isso é feito de forma à
aparentar popularidade ou legitimidade.
Uma vez
preparado com um acervo de fotos, apoio de “seguidores” virtuais e evidencias
de sua legitimidade o elemento assimila o vocabulário de conhecedores da área.
A tentativa é de apresentar-se de forma condizente apropriando-se do jargão
usado.
A presença
do farsante, em algumas situações, pode ser presumida pelo seu distanciamento
de colegas de sua linhagem desportiva ou espiritual. O elemento teme ser
exposto e evita aqueles que tem o conhecimento ou habilidade necessários para
fazê-lo. Uma estratégia usada é acusar legítimos Sadhakas ou Gurus para
colocar-se numa posição de igualdade à eles.
O que
podemos fazer para evitar cair numa situação desta ?
Primeiro,
alicerce a sua fé (Shraddha) com austeridades espirituais (Tapasya) antes de
tomar abrigo junto à uma tradição. Podemos fazê-lo através:
a. da
recitação do Mantra do Senhor Shiva que é o Guru Primordial. Peça por
discernimento e proteção para que encontre a pessoa adequada para ser
consagrada Guru em seu coração;
b. Faça um
Sankalpa (determinação de objetivo) para que lhe seja revelado em sonhos o
caráter auspicioso ou não desta associação. Tenha lápis e papel ao lado da cama
para a eventualidade de acordar e voltar à dormir.
c. procure
conhecer a história pregressa da pessoa em questão. “Sábios” que vieram de
cidades distantes e não deixaram um legado por lá deveriam ser melhor
conhecidos. Alguém que sai, por exemplo, de São Paulo e estabelece-se em
Brasília para “recomeçar” certamente teria deixado testemunhos de sua boa
reputação por lá.
d. Farsantes
são muito cuidadosos para não deixar vestígios de seus ilícitos. Geralmente não
informam seus nomes civis e escondem-se através de nomes espirituais
transitórios, por exemplo, podem adotar o nome que remeta à um sábio como
Shankara por um período e, depois, (re)surgir com outro nome. Ora, o nome
espiritual é dado pelo Guru e não muda ..... esse é um sinal que o farsante
nunca envolveu-se verdadeiramente com a linhagem que alega pertencer.
Que Mãe
Kali nos abençoe à todos.