terça-feira, 24 de setembro de 2013

Karna junto ao Senhor Yama, o Deus Morte

Karna é derrotado quando tentava consertar a roda de sua carruagem.



Uma estória interessante nos fala da importância da quinzena dedicada aos ancestrais, o Pitr Paksha. Se diz que Karna, considerado o maior de todos os guerreiros, e que foi apreciado até mesmo pelo Senhor Krishna, só pode ser derrotado por Arjuna após a intervenção de vários Deuses, inclusive do Senhor Indra. Sua derrota só foi possível pela autorização de sua própria Mãe, a rainha Kunti, que o gerou pela Divina intervenção de Surya, O Deus Sol.
 
Pindas - oferendas dedicadas aos ancestrais.

Karna era admirado por sua grande coragem e generosidade. Mesmo tendo se envolvido em algumas atividades contrárias ao Dharma, seus méritos espirituais (Punya) eram muito grandes. Quando de seu desencarne, Karna recebeu nos paraísos celestiais 100 vezes mais oferendas do que aquelas que tinha oferecido em vida. Porém, quando em vida, sua mentalidade era a de um guerreiro e suas oferendas eram em ouro e prata, e somente isto é o que ele poderia desfrutar nos paraísos celestiais. Não havia comida ! Nenhuma comida foi dada em caridade durante suas grandes austeridades.
 
Karna roga ao Senhor Yama pela oportunidade de aperfeiçoar suas austeridades.
Ele então rogou ao Senhor Yama, o Deus Morte, e devido aos seus méritos espirituais, pode ser atendido. Ele pode retornar á Terra por uma quinzena lunar para que todas as deficiências em seus serviços rituais pudessem ser suprimidas naquele período. Então, por uma quinzena ele se dedicou exclusivamente à oferecer alimentos aos sacerdotes, os Brahmanes, e aos pobres e à oferecer oblações de água (Tarpana) à todos os seres. Impressionado pela austeridade de Karna, o Senhor Yama declarou que todas aquelas oferendas seriam partilhadas pelas almas que tivessem sido engolidas pela Morte. E assim foi feito ! Ao fim de seu período de expiação o guerreiro Karna retornou aos paraísos celestiais e os encontros repletos dos mais perfeitos banquetes.

Preparando oferendas aos ancestrais.
 
Há um ditado nos Tantras que diz que falar sobre comida não satisfaz ao faminto, da mesma forma falar de disciplinas espirituais sem praticá-las é de pouco beneficio. O Tantra é um caminho espiritual onde as três grandes Shaktis do conhecimento (Jñana Shakti), da vontade (Iccha Shakti) e da ação (Kriya Shakti) caminham juntas. Por isto se diz que Shiva, a consciência Universal que contempla todos os fenômenos, é apenas um cadáver se não estiver acompanhado de Shakti, a Força Dinâmica que move, cria e dissolve Universos.


Aos pés de Mãe Kali.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Datas Especiais - Setembro de 2013




Existem dias que são especiais para adoração pois neles acontecem momentos astrológicos especificos que aumentam os méritos (Punya) adquiridos através dos ritos. As escrituras Tantricas nos dão uma lista destas ocasiões.

कृष्णाष्टमीचतुर्द्दश्यावमावास्याथ पूर्णीमा।
संक्रान्तिः पञ्च पर्वाणि तेषु पुण्यदिनेषु च॥ ८॥
kṛṣṇāṣṭamīcaturddaśyāvamāvāsyātha pūrṇīmā |
saṁkrāntiḥ pañca parvāṇi teṣu puṇyadineṣu ca || 8 ||

“ O oitavo, o décimo-quarto e o Amavasya da quinzena escura, a lua cheia, e o dia de transição do Sol entre os signos são as cinco ocasiões auspiciosas para adoração. " 
Kularnava Tantra, capítulo X verso VIII.

Em Setembro de 2013 temos o festival do Senhor Ganesha (Ganesha Chathurti), a quinzena lunar de adoração aos antepassados e os demais dias auspiciosos:
dia 03 – Krishna ChaturDashi (décimo-quarto dia da quinzena escura);
dia 04 – Amavasya (“Lua Negra”, a noite mais escura do mês lunar);
dia 09 – Ganesha Chathurti (Festival dedicado ao Senhor Ganesha);
dia 17 – Sankranti (Sol entra em Virgo);
dia 18 - Purnima (Lua cheia);
dia 19 de Setembro até o dia 04 de Outubro – Pitr Paksha, a quinzena lunar dedicada à adoração aos antepassados.
dia 26 – Krishna Ashtami (oitavo dia da quinzena escura);

Mêses Védicos: Shravana até o dia 05 de Setembro. BhadraPada desde o dia 06 até o dia 04 de Outubro.

Pitr Paksha - Quinzena de Adoração aos Ancestrais




               Todos os anos antes do Grande Festival da Deusa, o NavaRatri, que é realizado próximo aos equinócios de Outono e de Primavera, nós temos um período para expressar nossa gratidão aos nossos ancestrais. Esse período de uma quinzena é chamado de Pitr Paksha. Neste ano de 2021 o Pitr Paksha do NavaRatri acontece no período de 21 de até  Setembro até o dia 05 de Outubro (Amavasya). Nestes dias vamos relembrar com carinho nossos ancestrais, meditar sobre suas vidas e seus anseios e sobre como eles nos ajudaram à conquistar todos os nossos objetivos e a estar aqui, em adoração, nos dias de hoje. Vamos rever fotos antigas, lembrar bons momentos e estórias que nos foram contadas e, quem sabe, preparar alguns pratos que eram apreciados por nossos avós e bisavós. Reviver nossa história pessoal é prestar gratidão à todos aqueles que nos antecederam.


               Basta uma pequena reflexão para apreciarmos que tudo o que somos e o que conquistamos foi devido ao alicerce oferecido por nossos ancestrais. Os corpos que habitamos nesta vida não “surgiram do nada” quando tomamos consciência de quem somos. Poderíamos dizer que estes corpos foram “emprestados” por nossos ancestrais e serão transmitidos à nossos descendentes. Este corpo que é transmitido à cada geração e que permite a auto-realização de cada membro das famílias é chamado de Linga Sharira. È através do Linga Sharira que recebemos duas importantes heranças Divinas: Bhaga e Amsha, que são personificadas como dois dos doze Adityas - filhos da Grande Deusa Aditi. Bhaga é a herança física que pode ser interna ou externa. Internamente ele (Bhaga) é a nossa força física, nossa imunidade e outros “dons” manifestados no corpo físico que recebidos de nossos pais e avós. Externamente ele é o patrimônio e outros bens materiais herdados. Já Amsha é a fração da partilha Divina que nos coube, nossa “sorte”, as bênçãos que recebemos e o fruto dos méritos espirituais (Punya) que nos permitem uma vida mais harmoniosa. 


               Uma prática tradicional nestes dias de Pitr Paksha é oferecer “Tarpanam” aos nossos ancestrais. Esta pequena cerimônia pode ser feita por todos. Para o devoto os preparativos são bem simples: basta dispor de um pequeno vasilhame, tipo um copinho de metal, e uma pequena colher. Preencheremos este copinho com água da fonte mais pura possível, podemos usar água mineral, recitamos então uma volta (108 vezes) de JapaMala do Mantra de nosso Ishta Deva que é o nosso ideal de Perfeição (Durga, Ganesha, Kali, Shiva, Krishna ...) e à seguir o seguinte Mantra:


पिता स्वर्गः पिता धर्मः पिता हि परमं तपः 

पितरि प्रीतिमापन्ने प्रीयन्ते सर्वदेवताः 

om pitā svargaḥ pitā dharmaḥ pitā hi paramaṁ tapaḥ   |

pitari prītimāpanne prīyante sarvadevatāḥ   ||


“ OM, meus ancestrais são o meu paraíso. Meus ancestrais são o meu Dharma. Meus ancestrais são a minha mais elevada austeridade. Meus ancestrais estão satisfeitos, todos os Deuses estão satisfeitos. “


               Então, com a colher, uma pequena quantidade da água consagrada (Tarpanam) é oferecida ao solo ou sobre um pequeno pires de barro. O restante do que foi preparado pode ser lançado num jardim ou canteiro, ou ainda aos pés de uma árvore bem frondosa. O Sadhaka, aquele que foi iniciado no Dharma e mantém disciplinas espirituais regulares, pode oferecer Tarpanam logo após sua Sadhana diária ou junto com as práticas do Sandhya Vandanam,  usando os artigos rituais condizentes com a situação – Kosha e Koshi ou vasilhames de metal apropriados. Lembremos que esta prática é muitíssimo importante para aqueles que se dedicam a Kapala Sadhana e outras disciplinas espirituais semelhantes. 


               Na noite de 05 de Outubro de 2021 será celebrado o MahaLaya que simboliza a Grande Dissolução anterior à criação de um novo Universo. Este novo ciclo manifesta-se através do NavaRatri. Esta noite é muito especial para a realização de determinados rituais Tantricos.


               È só depois deste período de reflexão e de prática de gratidão que a Deusa é adorada em sua magnífica manifestação como MÃE. Seguindo o calendário litúrgico teremos então o NavaRatri de Outono, as nove noites da Deusa, começando no dia 06 de Outubro de 2021. 


Jaya Maa, Louvada seja a Mãe do Universo.


Varuni, o oceano de vinho



Namaste amigos, aproveito uma citação feita por um amigo para comentar sobre a importância do vinho nas tradições Tantrikas. 

“ O vinho é vida para o homem, quando o bebe com moderação. Que vida se vive quando falta o vinho? Ele foi criado para a alegria dos homens. Gozo do coração e alegria da alma: eis o que é o vinho, bebido a seu tempo e o necessário. Amargura para a alma: eis o que é o vinho, bebido em excesso, por vício e por desafio. “
Eclesiástico 31:27-29


" Oh Mãe, Tu finalizas Eras infinitas. Eu Lhe ofereço este vinho supremo e Shuddhi. Por favor os aceite e garanta-me Liberação Eterna. " MahaNirvana Tantra VI verso 88

Neste trecho do MahaNirvana Tantra o vinho é mencionado através do mesmo epiteto pelo qual é conhecido no Kaula Upanishad, “Varuni”, a Deusa que personifica o oceano de vinho, ou seja, de bem-aventurança, onde todos os Universos estão mergulhados. Este vinho é o primeiro e o mais importante dos cinco itens Tantrikos de adoração, PanchaMakara-s, e sobre ele o MahaNirvana Tantra diz: “ A característica do primeiro Tattva é que ele é o grande remédio da humanidade, que lhes garante a felicidade que lhes faz esquecer as suas tristezas. “ MNT VII, verso 103.

No mesmo capitulo, no verso 104, o texto nos informa das condições nas quais o remédio universal à de ser consumido: “ Ó Querida, os Kaulas devem sempre evitar o Tattva que não está consagrado pois ele traz embriaguez e confusão dos sentidos os quais geram conflitos e e doenças (da alma). “

O vinho é o primeiro e o mais importante dos PanchaMakara-s, os outros dois itens mais importantes são a carne e o peixe. A carne representa o próprio Senhor Shiva, a consciência de infinita bondade, em união Divina com as energias do universo (Shakti). O peixe representa o Guru primordial, Matsyendra Natha, que foi o revelador da ciência Tantrika neste Kali Yuga. Esta representação do vinho, da carne e do peixe é comum à algumas outras correntes iniciáticas que influenciaram e continuam à influenciar silenciosamente as multidões. Jaya Maa.