
Nos rituais Tantrikos uma das formas mais celebradas do Senhor Shiva é
a sua forma esotérica e irada de Bhairava, sobre a qual se afirma que traz
Moksha (Liberação do ciclo de renascimentos) de maneira mais imediata. O próprio Bhairava se apresenta sob multiplas manifestações que são relevantes as disciplinas espirituais praticadas pelos
Sadhakas Tantrikos. Vamos conhecer algumas delas:
Começaremos por
Ananda Bhairava, que junto à sua consorte Ananda Bhairavi, são as formas da Divindade que
garantem a presença de Ananda (bem-aventurança) nos ritos onde se oferecem os
cinco Ms. Seu Mantra é usado nesta consagração especial juntamente à Mudras e
procedimentos específicos.
Uma outra manifestação importante é a de MahaKala Bhairava é um grande protetor da tradição
Tantrika e pode ser adorado num ShivaLingam. Ele remove obstáculos que
dificultam a prática e abençoa o Sadhaka com uma objetividade centrada nos
aspectos mais espirituais do ser. MahaKala Bhairava é o consorte de Dakshina Kali, é Ele que se apresenta sob os pés Dela nas famosas Murtis produzidas no estado da Bengala - India.
Ambas as formas (Ananda Bhairava e MahaKala Bhairava) são comumente propiciadas
através de um cabeça ritual que é preparada de forma especial. Esta prática é
anterior ao período das dinastias dos reis Malla do Nepal que eram assistidos pela classe sacerdotal
dos Newar. Ela permanece até hoje em vários círculos Kaula.
Bastante comum é a
representação das oito formas de Bhairava que estão associados as direções do
espaço e tem como consortes as oito Matrkas (Mães Divinas) formando uma bela
Mandala de adoração Tantrika. Estes Bhairavas possuem características
peculiares que os diferenciam entre si e fornecem elementos à suas liturgias.
São eles: Asitanga Bhairava, Ruru Bhairava, Chanda Bhairava, Krodha Bhairava,
Unmatta Bhairava, Kapala Bhairava, Bhishana Bhairava e Samhara Bhairava. Destes,
Asitanga Bhairava é o primeiro e está posicionado em direção ao Leste.
Ruru Bhairava é associado às formas mais viris de Shiva. Chanda Bhairava, de cor
vermelha, possue características guerreiras e protege seus Sadhakas das forças
do submundo e do reino dos mortos. Também está associado às oito Shaktis que
formam uma das cortes da Mandala de Kali Devi. Krodha Bhairava se apresenta numa postura
de dança e protege dos malefícios. Um de Seus Mantras facilita o desapego às
coisas do plano material. Unmatta Bhairava é belo e atraente e representa a própria consolidação do Dharma, ou seja, das forças de
coesão social. Sua consorte entre as oito Matrkas é Varahi, a Deusa que
simboliza o sacrifício ritual. Possui Urdhva Linga e apresenta-se embriagado.
Kapala Bhairava é patrono de todos aqueles que realizam Sadhanas nos campos crematórios
e simboliza o Maha Vrata. Ele também carrega um peixe e teria sido propiciado
pelo próprio Matsyendra Natha, o mítico revelador do Kaula Dharma neste
Kali-Yuga. Bhishana Bhairava é o terrível iniciador e auxilia aqueles que querem superar
a visão dualista do mundo. Ele instila o terror porque é aquele que lembra da
inevitabilidade da morte. Samhara Bhairava está diretamente associado à Kala Agni, o fogo do Tempo, e a dissolução
final que acontece ao término de cada ciclo de existência e, portanto, nos remete
à obtenção de Moksha.
Os oito Bhairavas (AshtaBhairava) são geralmente adorados
junto à suas consortes que são as oito Matrkas, formando os seguintes casais:
01. Asitanga Bhairava e Brahmani (Brahmi) Matrka, 02. Ruru Bhairava e Maheshvari,
03. Chanda Bhairava com Kaumari Matrka, 04. Krodha Bhairava junto à Vaishnavi (Narayani),
05. Unmatta Bhairava e Varahi Devi Matrka, 06. Kapala Bhairava com Indrani (também
conhecida como Aindri, Indrayani ou Aparajita) Matrka, 07. Bhishana Bhairava
junto à Chamunda Matrka e por fim 08. Samhara Bhairava e Narasimhi Matrka.
Há também uma representação de Bhairava como menino que é
chamada de Batuka Bhairava. Juntamente com Ganesha ele é adorado através de
dois meninos que os representam. Esta prática é belamente descrita no Kularnava
Tantra que também menciona, e fornece a base escritural, ao Kumari Puja
inicialmente praticado pelas cortes dos reis Malla do Nepal e que
posteriormente se popularizou entre todas as tradições Tantrikas do
subcontinente Indiano. No Kumari Puja uma menina é escolhida para representar a
própria Deusa encarnada e é adorada com doces, roupas e muitas homenagens. Ser
escolhida para representar a Deusa durante as celebrações de NavaRatri é uma
grande honra para qualquer menina das famílias tradicionais e é
motivo de muitas alegrias.
Os ritos Tantrikos são, em geral, finalizados pela adoração de
uma Deidade que representa a pura e inocente satisfação com tudo o que foi oferecido
e a complacência diante de eventuais falhas. Esta Deidade é chamada de
Uchchishta Devata e todas as formas de Bhairava tem como Uchchishta Devata o
próprio Uchchishta Bhairava que recebe oferta de flores, perfumes e grãos de
arroz para eliminar todos os obstáculos às disciplinas espirituais, conforme descrito
em seu Dhyanam:
गन्धपुष्पाक्षतैः पूज्य ध्यायेदुच्छिष्टभैरवम् ।
gandhapuṣpākṣataiḥ pūjya dhyāyeducchiṣṭabhairavam |
गदात्रिशूलडमरुपात्रहस्तं त्रिलोचनम् ।
gadātriśūlaḍamarupātrahastaṁ trilocanam |
कृष्णाभं भैरवं ध्यायेत् सर्वविघ्नवारणम्
॥
kṛṣṇābhaṁ bhairavaṁ dhyāyet sarvavighnavāraṇam ||
Um das principais escrituras com práticas Tantrikas é o
“Vijñana Bhairava” onde 112 meditações (Dharanas) são mencionadas para auxiliar
o adepto na obtenção de estados contemplativos muito relevantes em sua jornada
espiritual. Estas meditações podem ser ainda mais aprofundadas através do
contexto ritual apropriado e a adoração em Chakra apresenta um momento bastante
auspicioso para a sua prática.
" Ò nobre Senhora, apesar desta ser a parte mais secreta
dos Tantras eu falarei
à Ti sobre ela que foi exposta para esclarecer sobre as formas de Bhairava.
"
Vijñana Bhairava verso 8