quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Como celebrar o Navaratri

 

 O Navaratri, o festival de nove noites dedicado à Deusa, pode ser celebrado de diferentes maneiras conforme a tradição familiar ou o Sampradaya ao qual o devoto pertença. Então teremos diversas possibilidades conforme o devoto 1. Não seja iniciado em nenhuma tradição; 2. seja Shivaista ou 3. seja Vaishnava. Entre os iniciados Shakta-s ou Tântricos há três procedimentos básicos que devem ser instruídos pelo Guru de cada família espiritual. Portanto o Tântrico deve procurar seu Guru para receber orientação.

 

 

Entre aqueles que não são iniciados em nenhuma tradição porém  que apreciam a Deusa e desejam prestar-Lhe reverencias o NavaRatri é celebrado da seguinte forma: 1. os três primeiros dias são dedicados à MahaKali, 2. os três dias seguintes à MahaLakshmi e 3. os três últimos dias à MahaSarasvati. Estas três formas da Deusa Shakti correspondem aos três Charitas (partes) da escritura Devi Mahatmyam. Aqui o procedimento pode ser bem simples como jejuar durante o dia e ter uma única refeição à noite. Ouvir os Charitas correspondentes também será muito auspicioso.

 

 

Entre os iniciados Shaiva, ou seja, aqueles que receberam um Mantra do Senhor Shiva em suas iniciações o festival de Navaratri é celebrado da seguinte maneira: 1. no primeiro dia celebra-se Shailaputri, 2. no segundo dia Brahmacharini, 3. no terceiro Chandraganta, 4. no quarto Kushmanda, 5. no quinto Skandamata, 6. no sexto Katyayani, 7. no sétimo dia Kalaratri, 8. no oitavo dia MahaGauri e 9. no nono Siddhidatri. Observemos que esta seqüência de Shaktis nos noves dias é igual ao BhadraKali Vidhanam praticado entre Shaktas e Tântricos porém as Pujas e Mantras correspondentes podem variar.

 

 

Entre os Vaishnavas (Shri, Ramananda, VishnuSvami, Vallabhacharya, Pushtimarga, Nimbarkacharya e Kumara Sampradayas) a celebração será feita â nove Shaktis correspondentesà cada um dos nove dias: 1. ShriDevi, 2. AmritodBhava, 3. Kamala, 4. ChadraShobhini, 5. VishnuPatni, 6. Vaishnavi, 7. Vararoha, 8. HariVallabha e 9. Shangini. Há também uma correspondência astronômica na celebração do NavaRatri entre estas tradições – no décimo dia o Shravana Nakshatra deverá estar nos céus, esse é o Nakshatra mais querido ao Senhor Vishnu e, portanto, um festival é feito em honra à Venkateshvara no grande Templo de Tirumala. Aqui a adoração de Lakshmi e Hayagriva é realizada diariamente junto à Shakti correspondente ao dia.

 

 

Entre os Sampradayas de Madhvacharya e Gaudiya o festival de NavaRatri é festejado com ênfase em nove Shaktis que recebem nomes regionais conforme a língua falada, são elas: 1. “Alicerce e Topo” no primeiro dia, 2. Inteligência, 3. Força Pessoal, 4. Fama, 5. Paciência, 6. Coragem, 7. Saúde, 8. Agilidade e 9. Eloqüência. A adoração à Hanuman é realizada diariamente junto à Shakti correspondente à cada dia.

 

Um Feliz NavaRatri à todos !

 

sábado, 17 de setembro de 2022

Virilidade Espiritual

 

É compreensível que o homem impotente em espírito, incapaz de esforçar-se ou verdadeiramente apaixonar-se por tudo o que há na Criação transfira e, então, identifique suas características na Divindade, em deus. Surgem então as crendices: “deus não precisa de incenso, nem de alimentos”; “deus é apenas um serviçal do homem, ele é fiel”.

 

Por misericórdia da Divindade Todo-Poderosa e para resgatar os homens fracos e decadentes do Kali Yuga, as escrituras Tantricas foram reveladas para este período histórico no qual vivemos. Escrituras para a salvação dos “heróis” (Vira em Sânscrito). O Vira é aquele que possui “Virya”, palavra cuja raiz deu origem à “Virilitas” em Latim, virilidade em Português.

 

Os Deuses providos de virilidade apreciam o perfume do incenso, aceitam as ofertas de flores e alimentos e ..... até dançam. Já o deus desprovido de virilidade ..... bem, esse já não é mais um “deus”, transformou-se em apenas um fantoche nas mãos dos homens. Homens tão frágeis quanto ele, homens que se saciam apenas com a “palavra”.

 

Boa parte das religiosidades deste nosso tempo estão contaminadas pelas crendices do protestantismo cultural. Pela fantasia de que apenas mencionar as palavras “almoço” ou “jantar” saciariam a fome. A fome, do corpo ou do espírito, é saciada pela Ação. E, uma vez, a fome saciada, o corpo cresce em Força (Bala) e o espírito cresce em Força Espiritual (Shakti).  

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Prayashchitta - Expiação Hindu


 

Prayashchitta

 

               Todos os homens e mulheres estão envolvidos em ações (Karman). Enquanto encarnados não há como evitar agir. Na Bhagavad Gita o Senhor Krishna comenta  que a própria inércia não significa de forma alguma uma “inação” mas sim uma ação passiva e estática.

 

               Se tomarmos como referência os frutos de cada ação (Karma Phala) poderemos distinguir as ações entre: 1. Aquelas que desejam alcançar um resultado e 2. Aquelas onde o autor abdica antecipadamente dos seus frutos. Ao abdicar antecipadamente dos frutos da ação o homem desapega-se da ânsia de resultados – sejam eles positivos ou adversos.

 

               Quanto às ações realizadas pelos homens para atingir objetivos podemos afirmar que elas geram méritos (Punya) ou deméritos espirituais (Papa) em diversas camadas e proporções. Esses méritos e deméritos, em ultima instância, são os responsáveis pela qualidade de vida e desfrute (Bhoja) que a alma (Jiva) alcança à cada encarnação.

 

               Como todos nós estamos enredados pelas ações nos vemos não apenas na expectativa de acumular méritos mas também nas estratégias para evitar ou, ao menos, contornar o demérito eventualmente resultante. Os Sadhakas e todos aqueles envolvidos com disciplinas espirituais tem uma perspectiva à mais à apreciar – não apenas acumular Shakti, Força Espiritual, mas também prevenir-se contra o seu eventual desperdício muitas vezes inconsciente.

 

               O Dharma reconhece a importância de um procedimento em ambos os casos – o Prayashchitta, a expiação. Muitos, devido à uma formação cristã, poderão estranhar a importância desta prática no Dharma. Entretanto se olharmos de perto perceberemos que a presença dela, desde os primeiros cristãos, tem sua origem nos Dharmas pré-cristãos praticados na Grécia, Roma, Egito e nações do oriente médio.

 

               Tertuliano, ao final do século II, menciona as expiações praticadas pelos Mitraistas (iniciados no culto do Deus Mitra): - “ ... eles honram aos próprios Deuses através destas abluções (* Abhisheka em Sânscrito). Eles em todos os lugares realizam estas expiações ao carregar águas consagradas e, com elas, banhar altares, casas, templos e até cidades inteiras.”

 

               O Senhor Deus Mitra teve a origem de seu culto nos próprios Vedas onde Ele é mencionado como uma das doze formas do Sol, ou seja, um dos Adityas. Esse culto foi levado até a antiga Pérsia (País de Magha mencionado nos Saura Puranas como foco da adoração à Surya Deva). Ali Mitra era representado envolto pelos doze signos do zodíaco e seus locais de culto eram adornados com leões, signo de domicilio do Sol. Da antiga Pérsia o Mitraismo chegou à Roma e obteve grande popularidade entre as legiões pelas quais foi levado à todo o mundo conhecido.

 

               Há muitas palavras de uso litúrgico no Dharma que apresentam o mesmo significado em Grego mesmo em periodo histórico anterior à Teurgia NeoPlatonica. Termos como Abhisheka, Tarpana, Marjana e Ahuti encontram paralelos em Váptisma (“batismo”), Ierotelestiki plysis (“ablução sagrada”), Afiérosis (“santificação”) e Kameni Prosfora (“oferenda lançada no fogo”).

 

               Tendo em vista que a ação realizada inevitavelmente vai em direção aos seus frutos o Prayshchitta não anula ou invalida as ações. A função deste procedimento é gerar uma energia (ou um estado de consciência) de mesma potencia (ou intensidade) porém em direção contrária àquela que daria origem aos resultados do demérito. Vemos então que o Prayashchitta não é realizado sob uma perspectiva de hierarquização moral porém sob um ponto de vista energético, ou seja, de Shakti.

 

               Há inúmeros procedimentos descritos nos Tantras como Prayashchitta. Estes devem ser aplicados após a apreciação da ação que pode eventualmente gerar deméritos e das circunstancias envolvidas. As injunções (Vidhi-s) prescritas variam de Mantras específicos, banhos (Snanam), oferendas ao fogo (Ahuti-s), jejuns ou recitação de hinos (Stotram-s) específicos. Diante da eventual necessidade de uma purificação ou expiação verifique com seu Guru o que é feito em sua tradição.

 

Na foto: judeus ortodoxos realizam o ritual de Kaparot onde um frango é sacrificado ao deus Jeová como expiação.