segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Citações 01



Citações 01

  
Kularnava Tantra capitulo 2, versos 84 à 86.




षड्दर्शनानि मेऽङ्गानि पादो कुक्षिः करौ शिरः।

तेषु भेदन्तु यः कुर्यान्ममाङ्गं च्छेदयेत्तु सः॥ ८४॥

ṣaḍdarśanāni me'ṅgāni pādo kukṣiḥ karau śiraḥ |

teṣu bhedantu yaḥ kuryānmamāṅgaṁ cchedayettu saḥ || 84 ||



“ As seis filosofias (Darshanas) são Meus seis membros – Meus dois pés, Minhas duas mãos, Meu estomago e Minha cabeça. Portanto, quem quer que diferencia entre elas despedaça o Meu corpo. “



एतान्येव कुलस्यापि षडङ्गानि भवन्ति हि।

तस्माद्वेदात्मकं शास्त्रं विद्धि कौलात्मकं प्रिये॥ ८५॥

etānyeva kulasyāpi ṣaḍaṅgāni bhavanti hi |

tasmādvedātmakaṁ śāstraṁ viddhi kaulātmakaṁ priye || 85 ||



“ Da mesma forma, Ó minha Querida ! Estes seis Darshanas (que se originam dos Vedas) constituem os seis membros do Kula. Portanto, saiba que os Shastras do Kaula Tantra não são nada além dos Shastras dos Vedas. “



दर्शनेष्वखिलेष्वेव फलदं चैकदैवतम्।

भुक्तिमुक्तिप्रदं नृणां कुलेऽस्मिन् दैवतं प्रिये॥ ८६॥

darśaneṣvakhileṣveva phaladaṁ caikadaivatam |

bhuktimuktipradaṁ nṛṇāṁ kule'smin daivataṁ priye || 86 |


“ Uma é a Divindade que garante frutos nas diversas filosofias, e é esta mesma Divindade que garante felicidade e liberação no Kula também. “

Na gravura temos a Deusa Varahi, uma das oito Matrkas da tradição Tantrika que, junto com os oito Bhairavas que as acompanham, formam a Mandala de adoração em torno do casal Divino. A Deusa Varahi representa a manutenção do Dharma, da ordem cósmica, através do sacrificio, ou seja, do cumprimento do dever em detrimento das realizações menores.






Reflexões sobre a história do Kaula Dharma 01








Namaste amigos,

Algumas pessoas demonstram grande preocupação com os detalhes históricos envolvidos na propagação do Kaula Dharma e, às vezes, se vêem envolvidas com idéias e conceitos elaborados com considerável fragilidade. Em resposta à algumas duvidas postadas este texto foi preparado. Partilho-o agora com o grupo, Jaya Maa !

" A tradição Kaula está firmemente enraizada nos Vedas, observe que todos os Samkaras (ritos de passagem) do período Védiko estão preservados e possuem referência e instruções adequadas à esta Era (kaliyuga) e são descritos nos Kaula Tantras. Todo o sistema social Védiko baseado em Varna e Ashrama também é sancionado nos Kaula Tantras. O ideal da realização de Yajñas tão característico da busca espiritual do período Védiko também é mantido e seguido pela tradição Kaula, portanto afirmar que  esta tradição tem “ ... dimensão que não é Védika ...” é totalmente arbitrário e não possui nenhuma base. Tal afirmativa demonstra desconhecimento das escrituras e da linha sucessória mantidas pelos Gurus desta tradição.

tasmātvedātmakaṁ śastraṁ viddhi kaulātmakaṁ priye
" Portanto entenda que a essência das escrituras Vedikas estão no Kaula. " Kularnava Tantra

Afirmar que a escola Kaula seria “uma divisão do Shivaismo da Cashemira” também não possui nenhum fundamento. 1. A escola Kaula é predominantemente Shakta, ou seja, a Deusa em Suas muitas formas é a principal Deidade e raramente encontra-se grupos que tenham orientação Shivaista. 2. A tradição Kaula possui suas próprias escrituras que não são mencionadas pelos adeptos do Shivaismo da Cashemira. Existem poucas escrituras que estas (e outras) tradições têm em comum. 3. A tradição oral do Shivaismo da Cashemira mantém em seus Ashram a recitação do Shri Rudram enquanto que na tradição Kaula o texto recitado é o Chandi Path também conhecido como Devi Mahatmyam ou Durga Saptashati – onde a principal Deidade é a Deusa e o Senhor Shiva é mencionado como “embaixador da Deusa”. 4. A tradição Kaula mantém práticas originadas no período Védiko como o ritual de Bali descrito no Krsna Yajur Veda. Estas práticas foram esquecidas no Shivaismo da Cashemira.

Como é claro pelo o que foi exposto,não é verídico afirmar que uma tradição seria apenas uma divisão da outra.

Afirmar que a tradição Kaula foi “revivida por pesquisas literárias” também não tem qualquer fundamento. Esta tradição possui uma forte e influente prática e produção tanto literárias quanto orais. Nenhuma outra tradição Tantrika possui tantos textos relevantes ou uma prática de recitação de textos sagrados tão intensa que chega ao ponto de influenciar populações de todo o subcontinente Indiano, observe a recitação do Chandi Path que é mantida viva e vigorosa desde o período Pauraniko e encontra nos grupos Kaula uma organizada disciplina de ensino e prática devocional.

Dentre as características observáveis dos Gurus e adeptos podemos ressaltar: 1. a discrição e elegância na transmissão de ensinamentos, sempre respeitando as normas sociais das sociedades onde estão inseridos, valorizam contatos pessoais e atuando à partir de pequenos grupos onde “Cada casa é um Templo e seus ocupantes são os Sacerdotes”. Não há aqui a necessidade de chocar a opinião publica ou trazer uma "idéia revolucionária" 2. A evidente erudição da maiores de seus mestres e expoentes, que geralmente são (bem) versados no conhecimento das escrituras e no estudo do Sânscrito. A genialidade de AbhinavaGupta um de nossos maiores mestres é inegável, grande conhecedor de Sânscrito, comentador de tratados filosóficos, escritor de livros sobre Arte e dança que influenciam ainda hoje os artistas da Índia, criador de uma profunda explanação sobre os elementos que caracterizam a estética humana e homem que valorizou a prática ritualística e a eternizou em seu excelente TantraLoka Tantra.

Desde antes de Abhinavagupta (século IX) até os dias de hoje grandes homens banharam-se nestas águas de uma viva tradição espiritual, veja os exemplos de JayaRatha, HariHarananda Bharati e Sir John Woodroffe , este ultimo um cidadão Inglês, juiz da Suprema Corte Indiana que se apaixonou por tão bela tradição e patrocinou a tradução de várias escrituras para a língua Inglesa de onde conquistaram o coração de muitos Ocidentais interessados no Dharma.

A tradição Kaula passou por momentos de grande evidência no cenário da sociedade medieval Indiana e era comum encontrar cortes inteiras iniciadas por seus Gurus e reis ardentes devotos de Kali Devi – A Mãe do Universo. O Kulagama sempre foi um Dharma seguido por homens e mulheres que se esforçavam em ser eficientes (siddhas) tanto em suas atribuições mundanas e sociais quanto em suas buscas espirituais. Isto contribuiu para a inegável influencia que a tradição exerce até os dias de hoje mantendo seu caráter liberal, universalista e cosmopolita – tão característico à grupos e sociedades acostumadas à exercer o poder com dignidade e tolerância. Um ditado Kaula reafirma esta característica ao dizer: “ Da mesma forma que todas as pegadas desaparecem dentro da pegada do elefante, todas as tradições estão presentes e absorvidas dentro do Kaula. ”

Uma característica bastante interessante da tradição Kaula, presente tanto nas suas inúmeras escrituras quanto na atuação de seus Gurus e Mathikas é a grande discrição adotada. São poucas as escrituras que ressaltam seu caráter Kaula em seus títulos, na maioria dos casos o vínculo é observado no corpo do texto e na descrição de rituais; da mesma forma os Gurus nem sempre divulgam abertamente serem membros do Kaula Dharma. Isto demonstra a ausência de proselitismo religioso ou da necessidade (um tanto pueril) de se afirmar membro desta ou daquela linhagem em detrimento da escolha feita pelos demais.

Outro fato interessante e que torna a visibilidade da tradição ainda mais discreta é o fato da maioria de seus ritos serem práticas pessoais, viáveis de realização na própria residência do devoto ou em lugares solitários. Na realidade os Templos (Mathikas) são, predominantemente, locais destinados ao encontro e confraternização de devotos.

antaḥśāktāḥ bahiḥśaivaḥ sabhāyāṁ vaiṣṇavā mataḥ
nānārūpadharāḥ kaulāḥ vicaranti mahītale
" No coração, um Shakta, na aparência, um Shaiva, nas congregações,
um Vaishnava. Sob todas as aparências os Kaulas perambulam pelo mundo. "

O PancaMakara pode ser visto a continuidade de práticas originadas e mantidas no período védico: 1. O consumo do “Soma” védiko – bebida embriagante preparada liturgicamente, utilizada como uma forma de eucaristia pelos membros do grupo têm sua continuidade no Madya – o vinho consagrado. O ritual de consagração deste elemanto faz uso do Tryambakam mantra que foi revelado no Krsna Yajur Veda. 2. O consumo de carne e peixe consagrados ritualisticamente é continuidade das práticas de Bali realizadas no período Védiko, todos sabem que a maioria dos Brahmanes do período védiko não era vegetariana. Para confirmação verifique os próprios Vedas, em especial o Yajur. 3. O Maithuna é reminiscência de um Samskara Védiko: o “Garbha Dhana” – a benção do útero. Todos os membros das três castas superiores passavam por este Samskara que visa a geração de crianças com inclinações espirituais. 4. Os grãos servidos à Deidade representam o Naivedya – alimento preparado oferecido ritualisticamente.

Pode-se observar que não existe nada de alheio às práticas do período védiko dentro do PancaMakara. Na verdade, se analisarmos de forma apropriada, veremos que o Kaula pode ser considerado como uma das tradições mais ortodoxas e fiéis aos princípios e práticas da antiguidade.

Não é necessário recorrer à um fantasioso “revivacionismo” para encontrar a presença da prática Kaula até os dias atuais. Observe os escritos de Devadatta Kali, Swami Satyananda Saraswati e ShankaraNarayanam e encontrará grandes adeptos contemporâneos. No século XIX temos gurus que foram iniciadores de grandes personalidades veja Bhairavi Brahmani que iniciou Shri RamaKrishna nas disciplinas Tantrikas, veja MahendraNath Gupta. Temos também Sir John Woodroffe, que embora fosse um iniciado e não um guru, realizou uma imensa obra ao financiar a tradução de várias escrituras Kaula para o Inglês.

A tradição é mantida sem estardalhaços, poucos Gurus se revelam abertamente como membros do Kaula Dharma. Tudo é feito dentro da tradição de reserva e discrição tão características do ensinamento Tantriko, observe que no caso dos Gurus estabelecidos no Ocidente sequer a palavra “Tantra” é mencionada nos ensinamentos dando lugar à termos como “Sanatana Dharma” ou simplesmente “fé”.

O trabalho têm sido feito ininterruptamente através dos séculos, e um olhar mais atento revelará que muitas personalidades e mestres que receberam ensinamentos Tantrikos foram iniciados dentro da tradição Kaula, muito embora isto não seja divulgado abertamente. Observe o exemplo das iniciações Tantrikas de Shri RamaKrishna que felizmente foram documentadas, porém esta referencia clara e inequívoca, no caso da tradição Kaula, é uma exceção. "

Que Mãe Kali nos abençoe

Templo de Kali
Rudrananda Saraswati

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Dias Auspiciosos - Dezembro 2012

Dias de Adoração Kaulika


Existem dias que são especiais para adoração pois neles acontecem momentos astrológicos especificos que aumentam os méritos (Punya) adquiridos através dos ritos. As escrituras Tantricas nos dão uma lista destas ocasiões.

कृष्णाष्टमीचतुर्द्दश्यावमावास्याथ पूर्णीमा।
संक्रान्तिः पञ्च पर्वाणि तेषु पुण्यदिनेषु च॥ ८॥
kṛṣṇāṣṭamīcaturddaśyāvamāvāsyātha pūrṇīmā |
saṁkrāntiḥ pañca parvāṇi teṣu puṇyadineṣu ca || 8 ||


“ O oitavo, o décimo-quarto e o Amavasya da quinzena escura, a lua cheia, e o dia de transição do Sol
entre os signos são as cinco ocasiões auspiciosas para adoração. " 
Kularnava Tantra, capítulo X verso VIII.

Em Dezembro de 2012 estes dias serão: dia 06 – Ashtami (oitavo dia da quinzena escura); dia 11 – Chaturdashi (décimo-quarto dia da quinzena escura); dia 12 – Amavasya; dia 15 – Sankranti (Sol entra em Sagitário); dia 27 - Purnima (Lua cheia).

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Kali Puja simples




Kali Puja Simples



Segue abaixo o texto de introdução do livro "Simple Kali Puja" de nosso amigo Swami Bhajanananda do Kali Mandir. Nele o Swami comenta sobre sua bela tradição de adoração à Mãe Kali. Jaya Ma !


“ Reze à Mãe Divina com um coração buscador. Vê-la dissolve todo o anseio pelo mundo e destrói completamente todo o desejo e toda ambição. Isto acontece instantaneamente se você pensar Nela como se fosse sua própria mãe. Ela não é, de forma alguma, sua madrasta. Ela é sua própria mãe. “
- Shri RamaKrishna

Na Índia têm havido, por milhares de anos, uma tradição contínua de adorar à Deus na forma da Divina Mãe Kali. Ma Kali é aquela para A qual todos nascem e para A qual todos devem eventualmente retornar. Ela é o poder final de criação, preservação e destruição. Apesar da iconografia da Deusa Kali possuir um profundo significado místico e simbólico, a essência Dela é simples: transformação. Amá-La transforma as nossas vidas. Ela aniquila as limitações, purifica os corações, preenche as vidas com prazer e protege Seus filhos de formas que só são compreensíveis àqueles que prestam adoração, amam e dependem Dela.

O Kali Puja é a antiga ciência e arte de invocar e prestar adoração à Mãe Divina – um poderoso método de oferecer nosso amor e devoção. Este pequeno manual apresenta uma cerimonia simples na tradição de Shri RamaKrishna, que adorou a Mãe Divina com devoção desapegada e um coração buscador. Com a prática, esta Puja pode ser completada em um tempo reduzido. Ela pode ser usada para a adoração diária ou para os dias especiais que são sagrados à Ela, como o dia da lua nova (Amavasya).

A nossa meta numa Puja é evocar a Divindade, tornar a presença Divina algo perceptível. Para fazê-lo nós primeiro despertamos a Divindade  em nosso interior através de uma série de atos purificatórios. A Puja é um redirecionamento consciente da nossa mente e nossos sentidos em direção à Realidade sempre presente. A nossa fala se torna purificada pela recitação de Mantras sagrados; as nossas ações pelo uso de gestos manuais e oferendas físicas; os nossos pensamentos pela meditação e visualização. Redirecionamento, purificação e transformação: este é o processo pelo qual o Divino é desperto.

A Puja contém uma sintaxe única em si-mesma, utilizando convenções sagradas para expressar intenções espirituais. Os Mantras em língua Sânscrita recitados na Puja são fórmulas sagradas – o Divino como vibração sonora. Cada som do alfabeto Sânscrito é uma manifestação vibratória de um aspecto da consciência. Estes sons simples combinam-se para formar sílabas-semente as quais são qualitativamente idênticas à Deidades especificas. Quando pronunciadas com intenção focada, estas sílabas possuem um tremendo poder.

Para esta Puja você vai precisar de um Achamana-Patra (um copinho com uma colher de cobre, bronze ou prata) cheio de agua fresca. Você também vai precisar de um sino sobre um pequeno pratinho; incenso e incensório; uma vela ou lamparina de óleo; fósforos;  pasta de sândalo recém ralada; perfume; uma pratinho de flores enxaguadas; e um prato de doces, frutas ou nozes com um copo d’agua. Todos os utensílios devem ser usados somente para Puja. Todas as oferendas são feitas com a mão direita e o sino é tocado com a mão esquerda.

O seu altar deve ter uma gravura, foto ou estátua de Kali, uma foto de seu Guru e uma imagem de Ganesha. Você também deveria ter um Asana (assento de meditação) para sentar-se, tal qual um tapetinho feito de fibras naturais. A limpeza, a pureza, a atenção e a devoção são importantes e vitais numa Puja. As escrituras declaram que o adepto deve ser devidamente iniciado por um Guru antes de realizar rituais Tantrikos.

Antes de começar, escove seus dentes, tome um banho completo e vista roupas limpas usadas apenas para Puja. È tradição que os homens usem apenas um tecido sem costuras (Dhoti) durante a adoração, deixando a parte superior do corpo sem trajes. Certifique-se que você tem tudo o que é necessário antes de começar. Preste reverências, sente-se em seu Asana numa postura meditativa, acenda a lamparina e o incenso e silenciosamente repita o seu Mantra. Sinta que a sua Mãe Divina está perante você, aguardando para aceitar sua adoração.

Texto de introdução do livro “Simple Kali Puja – Instructions for Ritualistic Worship of Dakshina Kali”, páginas 4 e 5. Escrito por Swami Bhajanananda Saraswati.
Contatos em Inglês ou Espanhol com Swami Bhajanananda Saraswati: bhajanananda@yahoo.com

Que Mãe Kali nos abençoe

Templo de Kali
Rudrananda Saraswati

domingo, 11 de novembro de 2012

Dias Auspiciosos - Novembro 2012

 

Dias de Adoração Kaulika

Alguns dias são considerados especiais para adoração com KulaDravyas (oferendas Tantrikas) pois neles acontecem momentos astrológicos especificos que aumentam os méritos (Punya) adquiridos através dos ritos. As escrituras Tântricas nos dão uma lista destas ocasiões.

कृष्णाष्टमीचतुर्द्दश्यावमावास्याथ पूर्णीमा।
संक्रान्तिः पञ्च पर्वाणि तेषु पुण्यदिनेषु च॥ ८॥
kṛṣṇāṣṭamīcaturddaśyāvamāvāsyātha pūrṇīmā |
saṁkrāntiḥ pañca parvāṇi teṣu puṇyadineṣu ca || 8 ||

“ O oitavo, o décimo-quarto e o Amavasya da quinzena escura, a lua cheia, e o dia de transição do Sol
entre os signos são as cinco ocasiões auspiciosas para adoração. " 
Kularnava Tantra, capítulo X verso 8.

Em Novembro de 2012 estes dias serão:  dia 06 – Ashtami (Oitavo dia Lunar); dia 12 – Chaturdashi (Décimo-quarto dia Lunar); dia 13 – Amavasya (Lua Negra); dia 15 – Sankranti (Sol entra em Virgo); dia 27 – Purnima (Lua Cheia);

domingo, 16 de setembro de 2012

Kaula Puja - Ritual



kaEl pUja

Kaula Püjä




Toda Puja é realizada através de procedimentos tradicionais passados através das gerações, esses procedimentos podem sofrer considerável variação, de acordo com o Sampradaya (a tradição) do devoto ou do Pujari (do sacerdote) responsável. 

Neste pequeno manual seguiremos as regras básicas estabelecidas pela escola Kaula do Tantrismo Hindu, de forma que uma versão simplificada possa ser feita.

Uma Puja pode ser realizada em três esquemas distintos: Panchopacara, Dashopacara ou Shodashopacara, ou seja, a puja realizada com cinco elementos, dez elementos ou dezesseis elementos (vide MahaNirvana Tantra capítulo 13, versos 203 ao 206).

O rito deve ser precedido por etapas preliminares que são descritas abaixo. Estas etapas são comuns à todas as Deidades que possam ser adoradas, elas são os preparativos para a puja , ou seja, as etapas necessárias antes da cerimônia propriamente dita.


Preliminar 1. Saudação às Deidades. Aqui temos as saudações às principais Deidades do Sanatana Dharma amplamente divulgada pelo sábio Shri Sañkaracharya durante suas peregrinações.
श्रीमन्महागणाधिपतये नमः       śrīmanmahāgaṇādhipataye namaḥ - Saudações a MahaGanapati.
लक्ष्मीनारायणभ्यां नमः       lakṣmīnārāyaṇabhyāṁ namaḥ - Saudações à Lakshmi e Vishnu.
उमामहेश्वराभ्यां नमः          umāmaheśvarābhyāṁ namaḥ - Saudações à Parvati e Shiva.
वाणीहिरण्यगर्भाभ्यां नमः    vāṇīhiraṇyagarbhābhyāṁ namaḥ - Saudações à Sarasvati e Brahma.
शचीपुरन्दराभ्यां नमः         śacīpurandarābhyāṁ namaḥ - Saudações à Indra e sua esposa.
मातापितृभ्यां नमः              mātāpitṛbhyāṁ namaḥ - Saudações à minha Mãe e meu Pai.
इष्टदेवताभ्यो नमः               iṣṭadevatābhyo namaḥ - Saudações à Deidade preferida (Ishta Devata) de cada um dos presentes.
कुलदेवताभ्यो नमः             kuladevatābhyo namaḥ - Saudações à Deidade familiar de cada um dos presentes.
ग्रामदेवताभ्यो नमः          grāmadevatābhyo namaḥ - Saudações à Deidade protetora deste “bairro”.
वास्तुदेवताभ्यो नमः        vāstudevatābhyo namaḥ - Saudações à Deidade protetora do solo.
स्थानदेवताभ्यो नमः        sthānadevatābhyo namaḥ - Saudações à Deidade protetora desta região.
सर्वेब्यो देवेभ्यो नमः        sarvebyo devebhyo namaḥ - Saudações à todos as Deusas e Deuses.
सर्वेभ्यो ब्रह्मणेभ्यो नमः    sarvebhyo brahmaṇebhyo namaḥ - Saudações à todos os sacerdotes.


Preliminar 2. Achamanya – a limpeza ritual dos lábios que deve ser feita antes de realizar uma Sadhana ou pronunciar Mantras de forma audivel.

Após cada Mantra coloca-se um pouco de água na mão direita e oferece-se aos lábios, tocando-os. Repete-se o processo com os três Mantras.
 आत्मतत्त्वाय स्वाहा      om ātmatattvāya svāhā - OM, Eu saúdo a essência da alma individual
 विद्यातत्त्वाय स्वाहा      om vidyātattvāya svāhā - OM, Eu saúdo a essência do conhecimento Tantriko (Vidya)
 शिवतत्त्वाय स्वाहा      om śivatattvāya svāhā - OM, Eu saúdo a essência do Senhor Shiva


Preliminar 3. Samanyarghya – Estabelecimento das aguas de oferecimento.
Em frente, ou à esquerda do local onde será realizado a Puja deve-se instalar o Samanyarghya (oblação universal), ou seja, as águas que serão utilizadas durante toda(s) a(s) cerimônia(s). 

Primeiro é feito um Yantra, o oficiante deve desenhar um triângulo, em torno dele um círculo e em torno deste um quadrado sobre uma superfície lisa (pode-se utilizar suportes de granito negro, mármore ou metal) para isso deve usar seu anelar direito (ou o polegar) umedecido em pasta de sândalo, Kumkuma ou apenas água pura. Deve em seguida saudar o Yantra desenhado com flores, folhas e grãos, utilizando os seguintes Mantras :
 आधारशक्तये नमः       om ādhāraśaktaye namaḥ
 कूर्माय नमः       om kūrmāya namaḥ
 अनान्ताय नमः       om anāntāya namaḥ
 पृतिव्यै नमः       om pṛtivyai namaḥ

Deve-se então tomar o vasilhame principal e purificá-lo com o Bija Mantra: “Phat”  (फट्) , colocando-o então sobre o Yantra. Utilizando-se de um segundo vasilhame cheio de água, deve-se preencher o vasilhame principal (aquele sobre o Yantra) , recitando :
गङ्गे जमुने चैव गोदावरि सरस्वति 
om gaṅge ca jamune caiva godāvari sarasvati   |

नर्मदे सिन्धु कावेरि जलेऽस्मिन् सन्निधिं कुरु 
narmade sindhu kāveri jale'smin sannidhiṁ kuru   ||

Pode-se então lançar flores, folhas, perfume ou até jóias (ouro e prata) e pedras preciosas junto à grãos de cevada e/ou arroz dentro do vasilhame. Deve-se então recitar dez vezes o Maya Bija Mantra “Hrim”  (ह्रीं)  sobre o conjunto. 
·         O Sadhaka realiza então as Mudras corespondentes.



Preliminar 4. Dvara Puja – A Puja do portal. Esta adoração visa estabelecer os limites do local de adoração e protegê-lo para que forças indesejadas não obstruam o rito e não comprometam o resultado almejado.
Neste nosso exemplo saudaremos os oito protetores dos portais do Senhor Vishnu. Esta saudação é feita oferecendo-se um pouco de água sobre o solo ou sobre um pequeno pote de barro.  Os Mantras são:
ॐ नन्दाय नमः               om nandāya namaḥ
ॐ सुनन्दाय नमः            om sunandāya namaḥ
ॐ चण्डाय नमः              om caṇḍāya namaḥ
ॐ प्रचण्डाय  नमः           om pracaṇḍāya  namaḥ
ॐ बलाय नमः                om balāya namaḥ
ॐ प्रबलाय नमः              om prabalāya namaḥ
ॐ बलभद्राय नमः            om balabhadrāya namaḥ
ॐ सुभद्राय नमः               om subhadrāya namaḥ
·         Então purifica-se o solo com o Mantra correspondente.


Preliminar 5. Shodana resumido – Com a agua preparada pelo Samanyarghya realizam-se algumas purificações chamadas de Shodhana. Basta aspergir a agua sobre o local ou item à ser purificado: 
a. Bhu Shuddhi – purificação do solo;  
b. Asana Shuddhi – purificação do local onde se senta; 
c. Dravya Shuddhi – purificação dos itens e oferendas rituais;  
d. Bhuta Shuddhi – purificação dos elementos do corpo.
e. Nyasas e Dhyanam – Os Kara Nyasas e Anga Nyasas são realizados e, então,  Deidade que receberá a Puja é visualizada e o respectivo verso de meditação pode ser recitado nesta hora. Caso o verso não seja conhecido apenas o Gayatri Mantra correspondente pode ser recitado três vezes. Neste momento lembramos que toda Deidade tem três aspectos principais: um aspecto criativo (Rajas Guna), um aspecto preservador (Sattvas Guna) e um terceiro, inercial, que tende ao repouso (Tamas Guna).
f. Murti Shodana – Purificação da representação da Divindade que usaremos como foco para nossa atenção. Aspergir um pouco de agua sobre a representação (Murti), que pode ser uma estatua, um Yantra etc, e recitar:
स्नन्यम् देव ते तुभ्यम्       snanyam deva te tubhyam + Mula Mantra da Deidade adorada


Puja
Teremos como exemplo uma Puja dedicada ao Senhor Vishnu. Caso o devoto deseje realizar uma Puja à alguma outra Deidade basta seguir o modelo apresentado e alterar apenas o Mula Mantra, ou seja, o Mantra principal (que neste caso é “Om Vishnave NamaH”).
Esta Puja pode ser realizada em seu aspecto puramente devocional (como Nitya Karma) ou como Kamya Karma. Antes de cada Mantra de oferecimento um Shloka (verso) é recitado para energizar o artigo oferecido.

Puja.01 - Asanam
Utilizando flores, folhas ou grãos de arroz , oferecer um assento à Deidade .
विष्णवे नमः आसनं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ āsanaṁ samarpayāmi

Puja.02 - Svagatam
Utilizando flores, folhas ou grãos , colocando-os em frente à Deidade, dar boas vindas :
विष्णवे नमः स्वागतं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ svāgataṁ samarpayāmi

Puja.03 - Padyam
Tomando com a colher um pouco de água e lançando-a aos pés da Deidade, oferecer água para a limpeza dos pés :
विष्णवे नमः पद्यं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ padyaṁ samarpayāmi

Puja.04 - Arghyam
Utilizando a água , oferecer água sobre a cabeça da  Deidade :
विष्णवे नमः अर्घ्यम् समर्पयामि       om Vishnave namaḥ  arghyam samarpayāmi

Puja.05 - Achamanyam
Utilizando água , oferecer água para a limpeza dos lábios da Deidade :
विष्णवे नमः अचमन्यं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ acamanyaṁ samarpayāmi

Puja.06 - Madhuparkam
Utilizando uma mistura de iogurte, ghee e mel, ou apenas água, oferecer Madhuparkam (oferenda especial) à Deidade :
विष्णवे नमः मधुपर्कं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ madhuparkaṁ samarpayāmi

Puja.07 - Punarachamanyam
Utilizando água, oferecer novamente água para a limpeza da boca da Deidade :
विष्णवे नमः पुनरचमन्यं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ punaracamanyaṁ samarpayāmi

Puja.08 - Snanam
Oferece-se então “banhos” à Deidade, sempre em número ímpar, podendo-se oferecer em seu significado literal ou substituí-los por água. Sendo aceitos : água pura, leite, iogurte, ghee, mel, vinho e etc.
विष्णवे नमः स्नानं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ snānaṁ samarpayāmi

Puja.09 - Vastram
Utilizando-se um tecido, folhas, flores ou grãos, oferecer trajes para a Deidade :
विष्णवे नमः वस्त्रं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ vastraṁ samarpayāmi

Puja.10 - Bhushanam
Utilizando-se jóias, flores, folhas ou grãos , oferecer ornamentos à Deidade :
विष्णवे नमः भूषणानि समर्पयामि       om Vishnave namaḥ bhūṣaṇāni samarpayāmi

Puja.11 - Gandham
Utilizando-se pasta de sândalo, óleo perfumado, flores, folhas ou grãos, oferecer essências à Deidade :
विष्णवे नमः गन्धं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ gandhaṁ samarpayāmi

Puja.12 - Pushpam
Oferecer flores, folhas ou grãos à Deidade :
विष्णवे नमः पुष्पं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ puṣpaṁ samarpayāmi

Puja.13 - Dhupam
Oferecer incenso, folhas ou flores ou grãos à Deidade :
विष्णवे नमः धूपं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ dhūpaṁ samarpayāmi

Puja.14 - Dipam
Oferecer uma lamparina que pode ser substituida por flores, folhas ou grãos.
विष्णवे नमः दीपं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ dīpaṁ samarpayāmi

Puja.15 - Naivedyam
Utilizando-se frutas, ou apenas grãos de arroz, oferecer alimento à Deidade :
विष्णवे नमः नैवेद्यं समर्पयामि       om Vishnave namaḥ naivedyaṁ samarpayāmi

Puja.16 – Arghya final
Oferecer água para a Deidade:
विष्णवे नमः अर्घ्यम् समर्पयामि       om Vishnave namaḥ arghyam samarpayāmi

Ao final da Puja os participantes devem recitar o Mantra da Deidade 108 ou 1080 vezes. A Puja externa num contexto Tantriko é uma disciplina espiritual que preparará o adepto para as disciplinas mais avançadas que são realizadas internamente. O foco se mantém em práticas mentais que ajudem à nos concentrar – portanto o Japa (recitação de Mantras) é prioritário à Bhajanas (canticos devocionais).

Ao celebrar-se a Puja de cinco elementos somente os passos de Puja.11 até Puja.15 serão realizados; na Puja de dez elementos os passos de Puja.03 à Puja.07 e aqueles de Puja.11 até Puja.15 devem ser realizados. Todas as ações preliminares devem ser realizadas, porém, na adoração à mais de uma Deidade, estas devem ser feitas apenas uma vez .

Este roteiro se ateve ao mais básico possível para realizar uma Puja. Vários aspectos não foram mencionados aqui: os Mantras de meditação na forma da divindade, os Mantras para estabelecer o Asana, o Shloka completo (verso Mantrico) para oferecer cada um dos 16 elementos ... Estes podem ser aprendidos depois de estar familiarizado com o básico apresentado aqui. As instruções sobre a simbologia de todo o procedimento assim como as visualizações pertinentes são passadas apenas pessoalmente. Jaya Maa.