O Sanatana Dharma afirma que deveríamos
prestar três ofertas de gratidão pelo privilégio de ter um nascimento humano.
Este nascimento é um dom muito especial pois somos a única espécie que pode
buscar e alcançar voluntariamente a Liberação Final (Moksha) após realizarmos
os outros três objetivos da vida humana – o Dharma, a vida em virtude; Artha,
aquisição do patrimônio necessário à nossa realização social; e Kama, a
realização dos prazeres lícitos e anseios estéticos. Portanto, ao todo, há quatro realizações
(ou seja, quatro Purusharthas) para uma vida plena.
As três ofertas de gratidão são um
reconhecimento pela oportunidade de realizar os quatro Purusharthas. Prestamos
gratidão aos Devas (as Deidades), aos Rshis (aos sábios) e aos Pitris (aos
nossos ancestrais). Aos Devas agradecemos as bênçãos da boa sorte, da boa chuva
(que permite a fartura de alimentos) e tudo aquilo que a natureza e as
condições propicias podem nos oferecer. Aos Rshis agradecemos todo o
conhecimento acumulado pela humanidade através dos séculos, agradecemos a
própria civilização que nos permitiu viver em condições melhores do que aquelas
dos animais. Aos Pitris, ou seja, aos nossos ancestrais agradecemos pelos
nossos corpos físicos e nossas aptidões que são herdados através do Linga
Sharira, agradecemos também o cuidado e o carinho que nos permitem viver na
terra onde nascemos e sob as condições sob as quais nos criamos.
O Linga Sharira é aquilo que nos
liga aos nossos mais remotos ancestrais, ele é algo como um “corpo
transmissível” que herda determinadas características e as repassa à geração
seguinte. Com uma mínima reflexão filosófica já podemos perceber que nossos
corpos e aptidões não surgem do nada, eles não aparecem por geração espontânea
durante o nosso parto. Nossos corpos e aptidões são o somatório daquilo que
nossos ancestrais cultivaram e preservaram. Nossa altura, tipo físico,
temperamento e outras características podem ser identificadas claramente
naqueles que vieram antes de nós. È nosso dever preservá-las e repassá-las a
geração seguinte.
Linga Sharira é um termo em língua
Sânscrita, ele vem das palavras “Linga” que significa gênero e Sharira que
significa alicerce ou corpo. Portanto o Linga Sharira é aquilo através do qual a linhagem familiar é mantida. A definição do Linga Sharira é dada numa escritura chamada
Samkhya Karika e ali encontramos a citação: “O Linga Sharira (“corpo
transmissível”) é independente, (porém) conectado (ao corpo físico), e precede
o desenvolvimento físico daquele que o carrega ...... Ele é transmitido sem
aderir ou receber características externas”.
Samkhya Karika 40.
A descrição é clara o
suficiente para estabelecermos um paralelo com algo só recentemente descoberto
através de metodologia cientifica – o código de DNA. O mito de que o Linga
Sharira seria algo “etérico” ou sobrenatural foi muito divulgado por uma certa
sociedade que alegava receber bilhetinhos de uns “Mahatmas” porém essa
interpretação não se sustenta diante do verso 41 que diz: “Não pode haver uma
pintura ou quadro sem uma tela ou base, não pode haver uma sombra sem um pilar.
Da mesma forma não pode haver Linga Sharira sem o alicerce das características
(do corpo físico) que o sustentam.” Ou seja, o Linga Sharira se mantém através
das mesmas características que ele promove. Daí podemos entender o quão
importante é a sua preservação e o respeito pelos nossos ancestrais. Desprezar
nossas raízes nos leva diretamente à destruição de nossa herança e de nós
mesmos.
A própria obtenção de Moksha, a
Liberação Final, não é possível sem que nossos ancestrais estejam satisfeitos e
a propiciação deles é muito relevante na jornada espiritual de todo Sadhaka.
Consulte seu Guru para saber como a sua tradição do Dharma realiza as três
ofertas de gratidão aos Devas, Rshis e Pitris.