domingo, 28 de julho de 2019

Dvaita ou Advaita


No estudo do Dharma vários alunos acabam por perder-se em especulações filosóficas antes de ter a oportunidade de vivenciar o cotidiano e a prática real de alguma de suas tradições. Muitos aproximam-se do Dharma com a perspectiva de que este seria “apenas um objeto de estudo” e não um estilo de vida que envolve ações e comprometimentos e que, com o tempo, gera seus frutos. Um dos temas que geralmente mais afligem o novato é a questão do dualismo ou não-dualismo e para analisá-lo precisaremos levar alguns fatos em consideração.


A distinção entre dualismo e não-dualismo está relacionada a escola do Uttara Mimamsa também conhecido como Vedanta. Há, respectivamente: Dvaita Vedanta (Dualista) e Advaita Vedanta (Não-Dualista). Ambas as escolas possuem inúmeros adeptos e parecem ser incompatíveis. Para contemplar as diferenças (e similaridades) entre estas duas perspectivas devemos buscar a sua origem – o Purva Mimamsa, ou seja, a investigação inicial. Tanto um quanto outro fazem parte dos seis Darshanas, ou seja, dos seis grandes ramos filosóficos auxiliares aos Vedas. Eles se apresentam aos pares que envolvem a práxis e a reflexão sobre ela. Temos então: 1. o Yoga e o Samkhya, 2. o Nyaya e o Vaisheshika e 3. o Purva Mimamsa e o Vedanta (Uttara Mimamsa).


O Uttara Mimamsa é a investigação mais elevada ou investigação final e (soa óbvio) seria mais adequado conhecer as suas raízes para então se aventurar em seus conceitos. Tanto o Dvaita Vedanta como o Advaita Vedanta chegam a suas conclusões usando elementos do Purva Mimamsa e seus conceitos lógicos.  Estes conceitos são chamados de Nyayas e alguns exemplos são: 

Savakasha Niravakasha Nyaya – a conclusão de que a experiência direta se mostra mais forte do que as inferências ou os testemunhos verbais. 

Samyoga Prthakta Nyaya – a reflexão se haveria separação ou união numa palavra mencionada em dois textos diferentes. 

Samanya Vishesha Nyaya – a regra de interpretação das escrituras que coloca em posição superior a referencia diferencial diante da referencia geral.


Tanto Shankaracharya (Advaita Vedanta) quanto Madhva (Dvaita Vedanta) usam a lógica dos Nyayas do Purva Mimamsa para justificar suas afirmações. Shankaracharya se refere ao Purva Mimamsa como Purva Kanda (o Tópico Inicial) e Prathama Tantra (o Primeiro Tantra). Influenciado por este Darshana Shankaracharya inicia seu BrahmaSutra Bhashya (comentários aos Brahma Sutras) com as mesmas reflexões que são tema central do Purva Mimamsa – a autoridade das injunções e proibições estabelecidas nos Vedas.


Estabelecido que a distinção entre dualismo e não-dualismo é relevante ao Vedanta Darshana, ou seja, a filosofia do Vedanta devemos agora refletir se isso seria de algum interesse aos Sadhakas Tantrikos. Inicialmente devemos observar alguns aspectos do Tantra:

1. o Tantra NÃO é uma filosofia, ou seja, um dos seis Darshanas auxiliares aos Vedas. Embora não seja contrário aos Vedas, baseie sua autoridade nos próprios textos Védicos e faça uso de Mantras Védicos em muitos de seus rituais, não há nenhuma passagem das escrituras Tantrikas que justifique sua definição como “uma filosofia”.

2. As escrituras Tantrikas trazem injunções (Vidhis) a serem praticadas e que levariam o próprio Sadhaka a experenciar a realidade de um plano sutil e divino. 

3. Há nos Tantras a clara valorização de experiências possíveis através de suas disciplinas espirituais. ShaktiPat (a “pancada” de Shakti, a Força Espiritual), os Bhavanas (estados de mudança da perspectiva mental comum) e o Samadhi (transes místicos) estão entre estas.


Portanto, ao interessado em conhecer o Tantra, é muito mais produtivo: a. buscar as próprias escrituras para formar sua opinião e evitar cair nas apreciações de terceiros que vêem o Tantra sob a ótica das tradições de onde vieram; b. buscar orientação sobre as disciplinas espirituais que possa praticar; c. consagrar um Guru em sua vida.