No estudo
do Dharma vários alunos acabam por perder-se em especulações filosóficas antes
de ter a oportunidade de vivenciar o cotidiano e a prática real de alguma de
suas tradições. Muitos aproximam-se do Dharma com a perspectiva de que este
seria “apenas um objeto de estudo” e não um estilo de vida que envolve ações e
comprometimentos e que, com o tempo, gera seus frutos. Um dos temas que
geralmente mais afligem o novato é a questão do dualismo ou não-dualismo e para
analisá-lo precisaremos levar alguns fatos em consideração.
A distinção
entre dualismo e não-dualismo está relacionada a escola do Uttara Mimamsa também
conhecido como Vedanta. Há, respectivamente: Dvaita Vedanta (Dualista) e Advaita
Vedanta (Não-Dualista). Ambas as escolas possuem inúmeros adeptos e parecem ser
incompatíveis. Para contemplar as diferenças (e similaridades) entre estas duas
perspectivas devemos buscar a sua origem – o Purva Mimamsa, ou seja, a investigação
inicial. Tanto um quanto outro fazem parte dos seis Darshanas, ou seja, dos
seis grandes ramos filosóficos auxiliares aos Vedas. Eles se apresentam aos
pares que envolvem a práxis e a reflexão sobre ela. Temos então: 1. o Yoga e o Samkhya,
2. o Nyaya e o Vaisheshika e 3. o Purva Mimamsa e o Vedanta (Uttara Mimamsa).
O Uttara
Mimamsa é a investigação mais elevada ou investigação final e (soa óbvio) seria
mais adequado conhecer as suas raízes para então se aventurar em seus
conceitos. Tanto o Dvaita Vedanta como o Advaita Vedanta chegam a suas conclusões
usando elementos do Purva Mimamsa e seus conceitos lógicos. Estes conceitos são chamados de Nyayas e
alguns exemplos são:
Savakasha
Niravakasha Nyaya – a conclusão de que a experiência direta se mostra mais
forte do que as inferências ou os testemunhos verbais.
Samyoga
Prthakta Nyaya – a reflexão se haveria separação ou união numa palavra mencionada
em dois textos diferentes.
Samanya
Vishesha Nyaya – a regra de interpretação das escrituras que coloca em posição
superior a referencia diferencial diante da referencia geral.
Tanto Shankaracharya
(Advaita Vedanta) quanto Madhva (Dvaita Vedanta) usam a lógica dos Nyayas do
Purva Mimamsa para justificar suas afirmações. Shankaracharya se refere ao
Purva Mimamsa como Purva Kanda (o Tópico Inicial) e Prathama Tantra (o Primeiro
Tantra). Influenciado por este Darshana Shankaracharya inicia seu BrahmaSutra
Bhashya (comentários aos Brahma Sutras) com as mesmas reflexões que são tema
central do Purva Mimamsa – a autoridade das injunções e proibições
estabelecidas nos Vedas.
Estabelecido
que a distinção entre dualismo e não-dualismo é relevante ao Vedanta Darshana,
ou seja, a filosofia do Vedanta devemos agora refletir se isso seria de algum
interesse aos Sadhakas Tantrikos. Inicialmente devemos observar alguns aspectos
do Tantra:
1. o Tantra
NÃO é uma filosofia, ou seja, um dos seis Darshanas auxiliares aos Vedas. Embora
não seja contrário aos Vedas, baseie sua autoridade nos próprios textos Védicos
e faça uso de Mantras Védicos em muitos de seus rituais, não há nenhuma
passagem das escrituras Tantrikas que justifique sua definição como “uma
filosofia”.
2. As
escrituras Tantrikas trazem injunções (Vidhis) a serem praticadas e que
levariam o próprio Sadhaka a experenciar a realidade de um plano sutil e divino.
3. Há nos
Tantras a clara valorização de experiências possíveis através de suas
disciplinas espirituais. ShaktiPat (a “pancada” de Shakti, a Força Espiritual),
os Bhavanas (estados de mudança da perspectiva mental comum) e o Samadhi
(transes místicos) estão entre estas.
Portanto,
ao interessado em conhecer o Tantra, é muito mais produtivo: a. buscar as próprias
escrituras para formar sua opinião e evitar cair nas apreciações de terceiros
que vêem o Tantra sob a ótica das tradições de onde vieram; b. buscar orientação
sobre as disciplinas espirituais que possa praticar; c. consagrar um Guru em
sua vida.
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