Pañchopachara Puja
A Puja de cinco elementos
A palavra
“Puja” vêm da língua Sânscrita e uma importante escritura chamada Kularnava Tantra comenta que Pujá é aquilo
que dá origem aos méritos espirituais (Punya). Toda Puja possui conceitos e
procedimentos básicos que são comuns à todas as tradições embora a realização
destes procedimentos possa variar conforme a disponibilidade de tempo e
recursos materiais assim como do conhecimento da pessoa que os realiza. O
primeiro conceito que deve ser entendido sobre uma Puja é que ela é uma forma de
Yajña, esta palavra em Sânscrito significa sacrifício. No capitulo três da Bhagavad Gita há interessantes reflexões sobre o Yajña começando pelo verso 8 onde se afirma a superioridade da ação sobre a inércia.Do verso 9 até o verso 16 vários aspectos do Yajña e sua importancia são relembrados. A ciência do Yajña é minuciosamente estudada pelo ramo da filosofia Védica chamado de Purva Mimamsa.
Para fins didáticos se afirma que todo Yajña
possui, no mínimo, três elementos básicos: Devata – um ideal de perfeição,
aquilo que é almejado e que nos inspira; Dravya – aquilo que é oferecido,
aquilo que abrimos mão e “sacrificamos” para alcançar algo superior; e Mantra –
a vibração e ressonância desta ação de oferecer ou, no âmbito humano, a reflexão
verbal e inteligível expressa em palavras e que transmite o significado de
nossas ações.
O que chamamos de Puja de cinco elementos é aquela onde as cinco oferendas essenciais estão presentes. Cada uma destas oferendas possui um significado e uma justificativa
prática para o seu uso, por isso elas foram prescritas pelas injunções (Vidhi)
dos Agamas, Tantras e Puranas. Uma injunção não é algo para apenas
maravilhar-se ou louvar a sabedoria ou riqueza simbólica de suas reflexões, uma
injunção é algo para ser realizado, para ser feito, e seus frutos só são
alcançados através da ação.
Este tema é muitissimo extenso e exige um estudo detalhado por isso para resumir a relação entre as oferendas e a Divindade recorremos à um pequeno trecho do diálogo entre
Uddalaka e YajñaValkya descrito no BrahadAryanaka Upanishad. Este diálogo aconteceu na corte do rei Janaka após um grande Yajña aonde centenas de sábios estavam presentes. Este rei é mencionado na Bhagavad Gita capitulo três verso 20 como um homem que atingiu a auto-realização apenas por cumprir o seu dever. Nos versos seguintes (22 e 24) o Senhor Supremo menciona que até Ele se dedica à constante ação e que, sem ela, todo o Universo seria levado à destruição. Décima pergunta feita por Uddalaka após as respostas de 3339, 333, 33, 6 e 3 Deuses.
Uddalaka
perguntou: - “Quantos Deuses existem ?”
YajñaValkya
respondeu: - “Dois, Prana (a energia vital) e Anna (o alimento).”
Este trecho
nos ajuda à entender a perspectiva de Deus (Brahman) presente em todas as coisas mencionada nos Vedas. Brahman
assume múltiplas formas e apresentações e até as almas individuais (Jiva) são
manifestações de Brahman. Prana e Anna são “apresentações indiretas” (Paroksha)
de Brahman, estas apresentações indiretas permeiam todo o universo.
Por que
usamos cada um destes elementos numa Puja ?
Dipa (Luzes) – A presença da luz é uma
das analogias mais comuns sobre a Divindade e a espiritualidade. Mas por que a
luz assume este significado ? A luz pode ser diretamente produzida (Prakashana)
ou um reflexo (Vimarshana) porém, em ambos os casos, ela iluminará .... Sempre
que há luz há um combustível que permite a sua existência, há algo que queima e
é sacrificado para que o bem precioso da luminosidade esteja presente. Isso
acontece no fogo de uma lamparina, nas chamas de uma cerimônia de fogo (Homa,
Havana etc..) ou até mesmo no Sol onde o Hidrogênio é usado como combustível.
Portanto a presença da luz é o “selo”, o fruto, a testemunha visível (Drshya)
de todo Yajña. Sempre que temos a presença de uma chama no local do ritual
indicamos que ali realiza-se um Yajña. Onde há inércia, ou seja, a "não-ação" há escuridão; onde há a correta ação, o sacrificio, há luz.
Gandha (“óleo perfumado”) – Muito do que fazemos
diariamente não é fruto de uma reflexão ou de algum processo racional mas sim a
expressão de uma “tendência”, de um “reflexo adquirido” ou “impulso latente” em
nossas mentes. Esse impulso é chamado de Vasana em Sânscrito, palavra originada
do verbo vās/vāsavati (वास् वासवति) cuja raiz significa perfumar ou “dar
cheiro”. Quem não se vira para reconhecer a moça de delicioso perfume que entra
numa festa ? e ser abençoado pela visão de sua beleza. Quem não se preocupa
diante do cheiro de fumaça em sua casa ? com o pressentimento de eventual
perigo. Quem não aprecia o aroma de comida pronta para o almoço ? relembrando
seus sabores e satisfação. Vasana, o impulso de agir à partir de uma impressão
prévia, é a base do Karma que colhemos em nossas vidas. Somos e desfrutamos
daquilo que instintivamente nos aproximamos.
Pushpa (Flores) – O desabrochar das flores
é certamente um dos mais claros sinais de energia vital (Prana) na natureza. A
sua presença é indicadora de vida e anunciadora de frutos vindouros. O Prana
sendo energia vital é uma das manifestações de Chit Shakti, a Força Espiritual
da Consciência. As flores são geralmente representadas nas Mandalas onde
prestamos reverencias a “corte angelical” (Avarana Devatas) que acompanha toda
Deidade. As pétalas das flores refletem a verdade espiritual de que nenhuma
forma da Divindade atua sozinha e que sempre transborda vida e bem-aventurança
para outras entidades que a acompanham.
Dhupa (Incenso) – O ritmo respiratório é
um dos sinais de vitalidade de um organismo e suas variações indicam
indiretamente o aumento ou diminuição da energia vital (Prana). O aromático
incenso transforma o simples ato de respirar numa experiência diferente e
estimula instintivamente o aprofundamento do ritmo respiratório. Estar confortável
em ambiente onde o incenso é queimado indica que a pessoa pode lidar com níveis
mais elevados de energia em sua mente. Na presença de bloqueios energéticos ou
respiratórios a tendência natural é a de manter a respiração o mais superficial
possível para evitar a manifestação de lembranças ruins profundamente escondidas
na mente. Neste caso a queima do incenso pode ser interpretada como uma experiência
não-prazerosa.
Naivedya (Alimento) – Há inúmeras referencias
escriturais nas Upanishads sobre a sacralidade do alimento (vide Chandogya, Taittirya,
Maitra, Brhad Upanishads etc..). A presença de alimento chega à ser comparada à
presença de Brahman. É o alimento que nos permite agir, refletir, adorar e
buscar a Divindade. É o alimento que mantém a chama da vida. Em toda atividade
do Dharma como recitar Mantras, fazer uma Puja etc. deve manter-se uma porção
de alimento, mesmo que essa porção seja tão pequena como uma fruta.
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