domingo, 4 de agosto de 2013

Algumas formas de Bhairava





Nos rituais Tantrikos uma das formas mais celebradas do Senhor Shiva é a sua forma esotérica e irada de Bhairava, sobre a qual se afirma que traz Moksha (Liberação do ciclo de renascimentos) de maneira mais imediata. O próprio Bhairava se apresenta sob multiplas manifestações que são relevantes as disciplinas espirituais praticadas pelos Sadhakas Tantrikos. Vamos conhecer algumas delas:
Começaremos por Ananda Bhairava, que junto à sua consorte Ananda Bhairavi, são as formas da Divindade que garantem a presença de Ananda (bem-aventurança) nos ritos onde se oferecem os cinco Ms. Seu Mantra é usado nesta consagração especial juntamente à Mudras e procedimentos específicos.
Uma outra manifestação importante é a de MahaKala Bhairava é um grande protetor da tradição Tantrika e pode ser adorado num ShivaLingam. Ele remove obstáculos que dificultam a prática e abençoa o Sadhaka com uma objetividade centrada nos aspectos mais espirituais do ser. MahaKala Bhairava é o consorte de Dakshina Kali, é Ele que se apresenta sob os pés Dela nas famosas Murtis produzidas no estado da Bengala - India.
Ambas as formas (Ananda Bhairava e MahaKala Bhairava) são comumente propiciadas através de um cabeça ritual que é preparada de forma especial. Esta prática é anterior ao período das dinastias dos reis Malla do Nepal que eram assistidos pela classe sacerdotal dos Newar. Ela permanece até hoje em vários círculos Kaula.

Bastante comum  é a representação das oito formas de Bhairava que estão associados as direções do espaço e tem como consortes as oito Matrkas (Mães Divinas) formando uma bela Mandala de adoração Tantrika. Estes Bhairavas possuem características peculiares que os diferenciam entre si e fornecem elementos à suas liturgias. São eles: Asitanga Bhairava, Ruru Bhairava, Chanda Bhairava, Krodha Bhairava, Unmatta Bhairava, Kapala Bhairava, Bhishana Bhairava e Samhara Bhairava. Destes, Asitanga Bhairava é o primeiro e está posicionado em direção ao Leste. Ruru Bhairava é associado às formas mais viris de Shiva. Chanda Bhairava, de cor vermelha, possue características guerreiras e protege seus Sadhakas das forças do submundo e do reino dos mortos. Também está associado às oito Shaktis que formam uma das cortes da Mandala de Kali Devi. Krodha Bhairava se apresenta numa postura de dança e protege dos malefícios. Um de Seus Mantras facilita o desapego às coisas do plano material. Unmatta Bhairava é belo e atraente e representa a própria consolidação do Dharma, ou seja, das forças de coesão social. Sua consorte entre as oito Matrkas é Varahi, a Deusa que simboliza o sacrifício ritual. Possui Urdhva Linga e apresenta-se embriagado. Kapala Bhairava é patrono de todos aqueles que realizam Sadhanas nos campos crematórios e simboliza o Maha Vrata. Ele também carrega um peixe e teria sido propiciado pelo próprio Matsyendra Natha, o mítico revelador do Kaula Dharma neste Kali-Yuga. Bhishana Bhairava  é o terrível iniciador e auxilia aqueles que querem superar a visão dualista do mundo. Ele instila o terror porque é aquele que lembra da inevitabilidade da morte. Samhara Bhairava  está diretamente associado à Kala Agni, o fogo do Tempo, e a dissolução final que acontece ao término de cada ciclo de existência e, portanto, nos remete à obtenção de Moksha.

Os oito Bhairavas (AshtaBhairava) são geralmente adorados junto à suas consortes que são as oito Matrkas, formando os seguintes casais: 01. Asitanga Bhairava e Brahmani (Brahmi) Matrka, 02. Ruru Bhairava e Maheshvari, 03. Chanda Bhairava com Kaumari Matrka, 04. Krodha Bhairava junto à Vaishnavi (Narayani), 05. Unmatta Bhairava e Varahi Devi Matrka, 06. Kapala Bhairava com Indrani (também conhecida como Aindri, Indrayani ou Aparajita) Matrka, 07. Bhishana Bhairava junto à Chamunda Matrka e por fim 08. Samhara Bhairava e Narasimhi Matrka.

Há também uma representação de Bhairava como menino que é chamada de Batuka Bhairava. Juntamente com Ganesha ele é adorado através de dois meninos que os representam. Esta prática é belamente descrita no Kularnava Tantra que também menciona, e fornece a base escritural, ao Kumari Puja inicialmente praticado pelas cortes dos reis Malla do Nepal e que posteriormente se popularizou entre todas as tradições Tantrikas do subcontinente Indiano. No Kumari Puja uma menina é escolhida para representar a própria Deusa encarnada e é adorada com doces, roupas e muitas homenagens. Ser escolhida para representar a Deusa durante as celebrações de NavaRatri é uma grande honra para qualquer menina das famílias tradicionais e é motivo de muitas alegrias.

Os ritos Tantrikos são, em geral, finalizados pela adoração de uma Deidade que representa a pura e inocente satisfação com tudo o que foi oferecido e a complacência diante de eventuais falhas. Esta Deidade é chamada de Uchchishta Devata e todas as formas de Bhairava tem como Uchchishta Devata o próprio Uchchishta Bhairava que recebe oferta de flores, perfumes e grãos de arroz para eliminar todos os obstáculos às disciplinas espirituais, conforme descrito em seu Dhyanam:
गन्धपुष्पाक्षतैः पूज्य ध्यायेदुच्छिष्टभैरवम् 
gandhapuṣpākṣataiḥ pūjya dhyāyeducchiṣṭabhairavam   |
गदात्रिशूलडमरुपात्रहस्तं त्रिलोचनम् 
gadātriśūlaḍamarupātrahastaṁ trilocanam   |
कृष्णाभं भैरवं ध्यायेत् सर्वविघ्नवारणम् 
kṛṣṇābhaṁ bhairavaṁ dhyāyet sarvavighnavāraṇam   ||

Um das principais escrituras com práticas Tantrikas é o “Vijñana Bhairava” onde 112 meditações (Dharanas) são mencionadas para auxiliar o adepto na obtenção de estados contemplativos muito relevantes em sua jornada espiritual. Estas meditações podem ser ainda mais aprofundadas através do contexto ritual apropriado e a adoração em Chakra apresenta um momento bastante auspicioso para a sua prática.

" Ò nobre Senhora, apesar desta ser a parte mais secreta dos Tantras eu falarei
à Ti sobre ela que foi exposta para esclarecer sobre as formas de Bhairava. "
Vijñana Bhairava verso 8

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