terça-feira, 2 de março de 2021

Falsos Gurus

 

Sociedades organizadas possuem  diferentes graus de especializações de forma que cidadãos capacitados executem funções para as quais foram preparados e possam garantir segurança, bons resultados e correta transmissão de conhecimento conforme o caso.

 

Mas nem sempre as coisas funcionam de uma maneira sensata, justa ou até mesmo honesta, ou seja, uma maneira baseada no Dharma, numa interrelação harmoniosa e equilibrada.

 

Os escândalos que regularmente surgem envolvendo falsos médicos, falsos

advogados e até falsos desportistas e falsos Gurus demonstram que alguns cidadãos não tem respeito pelo conhecimento, empatia pelo próximo ou ética em suas relações.

 

Enquanto os falsos médicos e advogados respondem diante da justiça pelos crimes de falsidade ideológica e exercício ilegal da profissão o mesmo não ocorre com falsos desportistas ou falsos faixas preta e também com falsos Gurus.

 

Até o meio desportivo sofre com elementos que desejam ostentar uma posição para a qual não estão preparados. No Jiu Jitsu, por exemplo, falsos faixas preta são regularmente identificados e denunciados porém estes casos raramente vêm à conhecimento publico e ficam restritos aos ambientes das academias e federações.

 

No meio da espiritualidade e do Yoga o mesmo acontece. A inexistência de um padrão ou de um organismo regulador faz com que elementos mal-intencionados possam circular livremente com a certeza do anonimato e impunidade.

 

Que dicas poderíamos partilhar para identificar estes elementos e evitar dissabores em nossos estudos, treinos ou formação ?

 

O farsante não surge do “nada”, ele deliberadamente tenta construir uma imagem de autoridade e confiabilidade. Em geral participa de Fóruns da área ou redes sociais e expõe sua opinião de forma chamativa.

 

Para criar sua imagem de autoridade o criminoso busca ser testemunhado junto à verdadeiras referencias da área. No Jiu Jitsu era comum que falsos faixas preta tirassem fotos junto à membros da família Gracie como o Rickson Gracie e outros para, então, postar estas fotos em redes sociais alegando uma proximidade, treinamento ou qualificação que nunca tiveram.

 

A estratégia no meio espiritual é semelhante. O farsante divulga imagens de viagens à Índia sempre junto à verdadeiros Sadhakas e Sadhus que, provavelmente estavam apenas sendo simpáticos, mas são apresentados como  “seguidores” ou “discípulos” do falso mestre.

 

Forjar autoridade dentro de uma linhagem (Sampradaya) inexistente ou pouco conhecida no Brasil é bastante comum. O falso mestre pode chegar ao ponto de criar falsos perfis de supostos discípulos nas redes sociais, isso é feito de forma à aparentar popularidade ou legitimidade.

 

Uma vez preparado com um acervo de fotos, apoio de “seguidores” virtuais e evidencias de sua legitimidade o elemento assimila o vocabulário de conhecedores da área. A tentativa é de apresentar-se de forma condizente apropriando-se do jargão usado.

 

A presença do farsante, em algumas situações, pode ser presumida pelo seu distanciamento de colegas de sua linhagem desportiva ou espiritual. O elemento teme ser exposto e evita aqueles que tem o conhecimento ou habilidade necessários para fazê-lo. Uma estratégia usada é acusar legítimos Sadhakas ou Gurus para colocar-se numa posição de igualdade à eles.

 

O que podemos fazer para evitar cair numa situação desta ?

 

Primeiro, alicerce a sua fé (Shraddha) com austeridades espirituais (Tapasya) antes de tomar abrigo junto à uma tradição. Podemos fazê-lo através:

a. da recitação do Mantra do Senhor Shiva que é o Guru Primordial. Peça por discernimento e proteção para que encontre a pessoa adequada para ser consagrada Guru em seu coração;

b. Faça um Sankalpa (determinação de objetivo) para que lhe seja revelado em sonhos o caráter auspicioso ou não desta associação. Tenha lápis e papel ao lado da cama para a eventualidade de acordar e voltar à dormir.

c. procure conhecer a história pregressa da pessoa em questão. “Sábios” que vieram de cidades distantes e não deixaram um legado por lá deveriam ser melhor conhecidos. Alguém que sai, por exemplo, de São Paulo e estabelece-se em Brasília para “recomeçar” certamente teria deixado testemunhos de sua boa reputação por lá.

d. Farsantes são muito cuidadosos para não deixar vestígios de seus ilícitos. Geralmente não informam seus nomes civis e escondem-se através de nomes espirituais transitórios, por exemplo, podem adotar o nome que remeta à um sábio como Shankara por um período e, depois, (re)surgir com outro nome. Ora, o nome espiritual é dado pelo Guru e não muda ..... esse é um sinal que o farsante nunca envolveu-se verdadeiramente com a linhagem que alega pertencer.

 

Que Mãe Kali nos abençoe à todos.

 

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