A Divindade
assume inúmeras formas e todas elas garantem bençãos (Dharma, Artha, Kama)
outras vão além e trazem também a libertação final (Moksha). Numa compreensão
ideal, suprema, além dos três Gunas que mantém todo o Universo, estas formas
são entendidas como manifestações de uma única Força. Entretanto todas as almas
encarnadas, todos os seres, e toda a Criação estão sujeitos aos três Gunas
portanto as diferenciações identificadas são efetivas e devem ser levadas em
consideração.
No âmbito
dos Tantras várias formas da Divindade são reconhecidas e propiciadas através
de suas disciplinas espirituais especificas. Numa perspectiva mais externa,
geográfica, há os dez DikPalas – os dez protetores das direções. Num âmbito
mais sutil e profundo há as oito Matrkas, as oito formas da Mãe Divina que
também cuidam da função de proteger o Dharma e seus praticantes porém atuam
também na correção de eventuais desvios internos (subjetivos) e externos (na
natureza). Estas Matrkas podem estar acompanhadas de oito formas de Shiva
Bhairava associadas as oito direções.
Num circulo
ainda mais interno temos os Cinco Grandes Devas (Pañchayatana) cujas práticas
espirituais são muito relevantes à todas as pessoas espiritualizadas sejam elas
iniciadas em Mantras ou não. A propiciação diária de Shakti, Ganesha, Surya
Deva, Senhor Vishnu e Senhor Shiva geram resultados muito harmonizadores. Isso
pode ser feito de maneiras muito simples seja através de uma breve recitação de
seus Mantras, da oferta de flores ou grãos de arroz diante de suas
representações (quadros ou estátuas) ou de um pequeno “Arati” (Aratrikam).
Para o
iniciado Tântrico um grupo de Mães Divinas é muito relevante – as Dez Grandes
Sabedorias ou Técnicas (Dasha MahaVidyas). Na escritura sagrada MahaNirvana
Tantra o Senhor Deus Shiva inicialmente se dirige à Senhora Kali e diz: “Tu és
a Primordial, Tu és a origem de todas as Vidyas.” Por isso o primeiro Mantra à
ser transmitido é o desta forma primordial – Adya Kali. Nos versos seguintes o
Senhor continua esta revelação: “Tu és Kali, Tarini, Durga, Shodashi,
Bhuvaneshvari, Dhumavati, Bagala, Bhairavi e Chinnamasta. Tu és AnnaPurna,
VagDevi e a Deusa Kamalalaya.” Estas doze formas reveladas correspondem às
Dasha MahaVidyas e mais duas outras formas muito relevantes nas tradições
Tântricas – Durga e AnnaPurna.
Vejamos em
breve detalhe as Deusas que o Senhor menciona. Primeiro as Dasha MahaVidyas e
depois Durga e AnnaPurna: 1. Kali – que pode apresentar-se sob várias formas
individuais conforme sua função litúrgica. 2. Tarini – uma forma terrível
também conhecida como Tara, UgraTara ou NilaSarasvati (a “Sarasvati azul
marinho”). 3. Shodashi – a linda forma da Deusa representada como uma eterna
jovem de 16 anos. É considerada Suprema em algumas outras tradições onde é
chamada como Lalita ou Tripura Sundari. 4. Bhuvaneshvari – a Suprema Senhora do
Universo. Adi ParaShakti no Devi Bhagavatham. Bhuvaneshi ou Bhagavati. 5.
Dhumavati – uma forma assustadora porém a Grande Purificadora. Mencionada como
Jyeshtha e ALakshmi. 6. Bagala – conhecida também como Pitambari, Brahmastra
Rupini e BagalaMukhi. Seus nomes indicam a importância de suas funções. 7.
Bhairavi – forma bastante irada que rege, entre outros aspectos, a energia
vital. Também chamada de Tripura Bhairavi pois seus “movimentos” interferem em
três aspectos do Universo. 8 Chinnamasta – extremamente dinâmica. Relevante em
várias disciplinas espirituais. Chamada de VajraVairochani ou PraChanda
Chandika. Estas são as formas mencionadas no verso 13.
Já no verso
quatorze a nona MahaVidya é mencionada: 9. VagDevi – Também conhecida como
Matangi, Chandalini ou Ucchishtha Devi. Ela é aspecto supremo de uma categoria
de Devas mencionados e propiciados apenas nos Tantras. 10. KamalaLaya – Aquela
que está estabelecida numa flor de Lótus. Seus outros nomes incluem: Kamala,
SiddhiLakshmi e Siddheshvari.
Duas formas
de Devi foram mencionadas pelo Senhor junto às Dasha MahaVidyas: Durga no verso
13 e AnnaPurna no verso 14. O nome Durga, Aquela difícil de ser alcançada, é
mencionado com bastante freqüência e se tornou o termo mais popular quando nos
referimos à Deusa. Porém dentro de um contexto escritural onde ele é mencionado
junto às dez formas esotéricas que exigem iniciação prévia para sua propiciação
uma atenção especial é necessária. Quem é esta Durga mencionada pelo Senhor
Shiva ? A resposta está numa visualização
(Dhyanam) prescrita na escritura sagrada Chandi Patha: “Saudamos esta Durga
possuidora de três olhos”. Três Dhyanam-s são prescritos antes da recitação do
Navarna Mantra e um quarto Dhyanam é feito após o Mantra. É neste Dhyanam que
Chandi se revela ao povo como Durga. O iniciado, o sacerdote do santuário doméstico,
sabe que o que o povo conhece como Durga é verdadeiramente Chandi. Já AnnaPurna
é a própria representação da misericórdia da Grande Deusa. Ela é Aquela que
restabele os plenos poderes do Senhor Bhairava após ele ter sido banido e renegado
à uma posição meramente humana (vide MahaVrata Kapalika). Ao exercer esta função
AnnaPurna se torna Aquela que abre as portas das iniciações Tântricas e
restabece no homem comum o seu contato direto com a Divindade.
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