As formas da Divindade (Rupa)
descritas pelo Sanatana Dharma nos cativam por sua beleza e pela riqueza de
detalhes de sua simbologia. Elas nos servem de inspiração para
(re)aproximar-mo-nos de um plano divino e de plena harmonia. Quem não se sente
cativado pela aparência do Senhor Krishna ? ou contemplativo diante da
representação do Senhor Shiva em meditação ? ou encantado pelo aspecto doce e
brincalhão do Senhor Ganesha ?
A representação destas formas
que são usadas como referencia em práticas de meditação e outras disciplinas
espirituais (Sadhanas) foram reveladas por profetas (Rshis) quando estavam em
estado de comunhão com a Divindade, em profundo êxtase místico. Estes profetas tiveram
a visão direta (Darshana) da beleza do Universo e então ...... cantaram ! Estes
cânticos sagrados estão preservados nas escrituras (Shastras) e detalham a
forma que foi visualizada pelo profeta (o Dhyanam da Divindade), os atributos
que foram contemplados (descritos nos Stotras) e a freqüência vibratória
associada à esta revelação (que, quando audíveis, são chamadas de Mantras).
Entretanto, nesta Era de escuridão
(Kali Yuga) muitos não compreendem o que seria a visão de uma realidade divina
e insistem na perspectiva materialista de que tudo o que seria espiritualmente
válido deveria estar manifesto no plano físico. Nesse obscurantismo teológico
apela-se para a busca de evidencias materiais da manifestação e existência
física das formas da divindade. Este obscurantismo tornou-se ainda mais intenso
à partir do momento em que pode ser abertamente pregado à partir de 31 de
Outubro de 1517.
Temos um exemplo no Cristianismo
que nas suas origens era bem diferente do que muitos o concebem hoje. No século
XX com o forte proselitismo e influência cultural de outras religiões como o
Protestantismo (espécie de Judaísmo Messiânico baseado na Torah/Antigo
Testamento) e o Satanismo (Inversão moderna das polaridades do Maniqueísmo)
houve praticamente um esquecimento total das crenças da antiguidade Cristã.
Dentre estas crenças podemos citar três exemplos marcantes: 1. a proibição dos
ensinamentos referentes a reencarnação; 2. a perseguição e extermínio dos antigos
Gnósticos e 3. o total esquecimento do conceito de Docetismo.
Os ensinamentos sobre a
reencarnação se apresentam como uma resposta ao dilema de uma alma imortal
encarnada num corpo mortal e, portanto, transitório. Há muitas diferenças sutis
nas perspectivas de diferentes escolas e um estudioso prudente jamais trataria a
crença na reencarnação como um fenômeno ou idéia única e indiferenciada. Há
descrições como a do Samkhya Karika que nos remetem ao conceito moderno do
código de DNA até pontos de vista mais místicos. Grandes filósofos da
antiguidade como Pitágoras – o Pai da Matemática afirmam a realidade da
reencarnação e descrevem com clareza e acuidade histórica suas encarnações
anteriores. O ensinamentos sobre reencarnação foram proibidos à partir do
Concilio de Constantinopla no ano de 553 por decisão do Imperador Justiniano
que casou como uma ex-prostituta chamada Theodora que temia reencarnar-se como
escrava ..... Esta proibição foi efetivada apesar da reencarnação ter sido
declarada como dogma fundamental do Cristianismo no concilio da Calcedônia em
451.
Já o movimento Gnóstico era
composto por várias escolas e bastante popular nos primeiros anos do
Cristianismo, ele competia diretamente com outras seitas Cristãs como os
Romano-Alexandrinos, os Coptas e outros. Os Gnósticos acreditavam que jesus era
uma encarnação (Avatar) do Verbo Divino (Vak/Savitri) adequada para aquela
época ou Eon (Yuga). A influência espiritual do Grande Iniciado, do “Ungido”
(“Chrestus” em Grego) era aceita e cultivada através de ritos, entretanto eles
não concebiam o Chrestus como uma pessoa física mas sim como um arquétipo de
luz. Estes ritos, posteriormente, influenciaram a Theugia neo-Platonica que era
praticada tanto por Cristãos como por Pagãos na adoração de suas Divindades. O
Gnosticismo foi combatido por Irineu de Lyon (que viveu entre os anos 130 e
202) e proscrito nos primeiros dois séculos do Cristianismo.
Logo no inicio do Cristianismo
muitos de seus adeptos buscaram as evidencias de uma suposta existência física
do jesus. A ausência de evidencias em fontes diretas como os registros
documentais de Poncio Pilatos ou indiretas como a pesquisa do historiador
Flávio Josefo fortaleceram a percepção de que o Chrestus é uma realidade
espiritual que independe de uma encarnação física num corpo humano para exercer
a sua influência benéfica. Esta percepção partilhada por muitos Cristãos cultos
e viajados do mundo antigo foi chamada de Docetismo que vem do Grego “Dokesis”
que significa “aparência, aparição”. Esse conceito muito difundido na antiguidade
foi considerado perigoso para a expansão da nova religião e, portanto, foi rejeitado
e proibido à partir do concilio de Nicéia em 325.
A apreciação dos fatos
históricos citados visa fomentar uma nova percepção sobre o Dharma, não como
algo exótico e alheio à tradição espiritual do Ocidente mas sim como algo que
foi preservado em outras terras e resgatado nos tempos modernos. Algo que pode
trazer vida renovada à um Ocidente que sofre as mazelas de um materialismo
embrutecedor e fatal.
Que Mãe Kali no abençoe à todos.
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