O Kaula
Dharma é apresentado em sete “estágios” conforme a afinidade e competência
(Adhikari) do Sadhaka. O Guru “apresenta” o trabalho nestes estágios na medida
em que certas características se demonstram no Sadhaka. Estes estágios, em
ordem de aprofundamento, são: Vedikachara, Vaishnavachara, Shaivachara,
Dakshinachara, Vamachara, Siddhantachara e Kaulachara. Os quatro primeiros
estágios (Vedikachara, Vaishnavachara, Shaivachara e Dakshinachara) estão associados
ao momento espiritual de PraVrtti quando a alma busca compreender e realizar-se
no plano material, ou seja, ser bem sucedida na obtenção de Dharma, Artha e
Kama. Quando essa busca está amadurecida (mas não necessariamente realizada) surge
a afinidade com as aspirações espirituais e a tendência (Vikalpa) ao retorno a
Divindade (Moksha). Este “retorno à Divindade” só é possível na medida em que a
alma já não anseia mais pelas experiências no mundo e as ações não são mais
executadas visando o proveito próprio mas apenas para o cumprimento do Dharma. Para
este momento espiritual que é chamado de NiVrtti são prescritas as disciplinas
do Vamachara, Siddhantachara e Kaulachara. Em linhas gerais nos referimos aos quatro primeiros estágios como DakshinaMarga e aos três ultimos como VamaMarga.
Atentemos que
Kaula Dharma e Kaulachara são termos diferentes embora associados. O Kaulachara
é o conjunto de disciplinas espirituais (Sadhanas) únicas que acabaram por se tornar
características do Kaula Dharma. Estas Sadhanas incluem o oferecimento dos
PanchaMakaras à Divindade, Kapala Sadhanas entre outras. A usurpação destas
disciplinas espirituais para o deleite e prazer de indivíduos incapazes
obtê-los sem o disfarce de “pessoas espiritualizadas” é o que trouxe má fama ao
Tantra no Ocidente onde surgiram “terapias” e “massagens” que não possuem
nenhuma referencia nas escrituras e nem compatibilidade com o cotidiano de um
Sadhaka. O Kaula Dharma é o conjunto das Sadhanas dos sete estágios descritos,
Sadhanas estas que são aplicadas conforme oportuno e relevante para o
desenvolvimento do Sadhaka. Portanto Kaula Dharma não é um sinônimo de
Vamachara (VamaMarga) embora nos seus níveis mais profundos faça uso destas
disciplinas. Há escolas Tântricas que assimilaram elementos do Kulachara e
também praticam seus ritos mas estas possuem outras características que lhes
são próprias e são distintas do Kaula Dharma descrito nos Kaula Tantras.
É à partir
do acréscimo das disciplinas espirituais de Vamachara e Siddhantachara para o
grupo de disciplinas pessoais que já eram praticadas pelo adepto que o trabalho
com as formas iradas da Divindade torna-se mais intenso. Estas formas iradas e
aterrorizantes (Bhaya Murti) são trazidas para o Sadhaka que já foi treinado
nas disciplinas anteriores e elas o convidam à “Busca pela Verdade” (SatTarka).
Devemos entender que estas formas representam tudo aquilo que é assustador ao
ego do adepto que, ao enfrentá-las, torna-se “Vira”, um “herói”. Estas formas
iradas não são uma simples alegoria e não devem ser tratadas como um vídeo game
ou fantasia teatral. Na Sadhana elas tornam-se reais personificando o que é
temido e apontando tudo aquilo que é desagradável ao ego – “Eu não sou tão
competente como gostaria de ser”; “Eu não sou tão bom/forte/belo quanto
gostaria de ser” etc .... O Sadhaka é então confrontado à superar a fantasia de
que tudo aconteceria de forma perfeita se você apenas “pensar positivo”. Ele
percebe que o mundo, manifestação da Shakti Suprema, é “real” e não tem que se
sujeitar as nossas crenças sobre ele. Shakti, a Força Espiritual que rege o
mundo segue as suas próprias regras que se manifestam na força da gravidade,
termodinâmica e outras propriedades da Física assim como nas regras de outras
forças mais sutis ainda não foram devidamente estudadas pela nossa ciência. O Tantra reconhece a impermanencia da criação diante de Brahman, o Absoluto, porém a visão da "realidade" do mundo é uma ferramenta importante para gerar gerar certos resultados na Sadhana.
O “valente” que não sente apreensão ao realizar as Sadhanas das formas iradas não colhe os frutos desta ação. Ele perde uma valiosa oportunidade de crescimento pessoal e de aproximação à Moksha, a Libertação Final. Um dos perigos sutis na jornada espiritual através das Sadhanas Tântricas é a crença de que os obstáculos foram totalmente superados e que as mais altas realizações foram alcançadas. Esta auto-ilusão gera a estagnação pessoal e a conseqüente indisciplina e irreverência diante da Sadhana, o adepto então cai das alturas conquistadas e passa à ver a realização como mero fruto do acaso ou como uma embriagues temporária. É mais fácil candidatar-se à iniciação ao Kaula Dharma e alcançá-la do que manter-se devidamente, como um iniciado, ao longo do tempo.
O “valente” que não sente apreensão ao realizar as Sadhanas das formas iradas não colhe os frutos desta ação. Ele perde uma valiosa oportunidade de crescimento pessoal e de aproximação à Moksha, a Libertação Final. Um dos perigos sutis na jornada espiritual através das Sadhanas Tântricas é a crença de que os obstáculos foram totalmente superados e que as mais altas realizações foram alcançadas. Esta auto-ilusão gera a estagnação pessoal e a conseqüente indisciplina e irreverência diante da Sadhana, o adepto então cai das alturas conquistadas e passa à ver a realização como mero fruto do acaso ou como uma embriagues temporária. É mais fácil candidatar-se à iniciação ao Kaula Dharma e alcançá-la do que manter-se devidamente, como um iniciado, ao longo do tempo.
As
disciplinas espirituais de cada Dharma possuem um começo, um meio e um fim e o
fruto de sua realização só é alcançado através da prática consistente baseada
no correto entendimento dos princípios que são ali aplicados. A mistura
aleatória ou caprichosa de sistemas independentes, quer seja em suas práticas
ou em seus conceitos, acaba por se tornar um obstáculo nos níveis mais
profundos destes mesmos sistemas. A prática de recitar Mantras, por exemplo, é
comum a maioria das tradições espiritualizadas entretanto, nas disciplinas
espirituais mais profundas e reservadas, cada tradição terá suas próprias
perspectivas e aspectos únicos.
A prática
das Sadhanas das Deidades Iradas possui regras especificas que permitem que as
energias geradas atuem de forma positiva na vida do Sadhaka. O descumprimento
destas regras libera forças que podem atuar de forma diversa ao que foi
prescrito trazendo revés, má sorte e desventura. No meio espiritual é comum
vermos o surgimento de aventureiros trazendo supostos grandes conhecimentos e
que, depois de algum tempo, desaparecem tragados pelos problemas em suas vidas pessoais.
A má sorte, falta de longevidade e infortúnio não são frutos gerados pela
correta Sadhana das formas iradas da Divindade.
Jaya
Bhairava.
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