Um dos
aspectos essenciais da vida espiritual é ser sincero, ou seja, estar alicerçado
na Verdade e saber evitar fantasias e auto-ilusões. A nossa “natureza intrínseca”
não é mutável ou caprichosa. Ela é estável e plena, apta em todos os sentidos
para a nossa realização e felicidade. Não se pode ser feliz sendo uma pessoa
pela manhã e outra completamente diferente a noite da mesma forma que não se
pode seguir um Dharma pela manhã e outro a noite. Aqueles que seguem um Dharma
Vaishnava serão felizes e realizados sendo Vaishnavas, o Tântrico será feliz e
realizado seguindo as injunções de seu Dharma e assim por diante. Todos são
felizes sendo o que verdadeiramente são.
O
MahaNirvana Tantra comenta:
सत्यधर्मं समाश्रित्य यत्कर्म कुरुते नरः ।
तदेव सफलं कर्म सत्यं जानीहि सुव्रते ॥ ४-७४॥
satyadharmaṁ samāśritya
yatkarma kurute naraḥ |
tadeva saphalaṁ karma satyaṁ jānīhi
suvrate || 4-74 ||
“ Oh Deusa Virtuosa, esteja certa de que quaisquer ações que
o homem execute num Dharma Verdadeiro (SatyaDharma) trarão frutos.”
MahaNirvana Tantra IV, verso 74
Um Dharma não é uma escolha caprichosa de elementos distintos,
muitas vezes incompátiveis, feita apenas para satisfazer inseguranças ou para
ostentar supostas virtudes. Um Dharma é algo pleno, algo que faz sentido e está
logicamente estabelecido para gerar os resultados desejados. Num Dharma
estabelecido, ou seja, num estilo de vida consistente, todos os elementos são
harmoniosos entre si e não há antagonismos ou contradições. Não se pode ser
vegetariano de dia e jantar numa churrascaria ...... Da mesma forma, não se
pode ter uma devoção doce pela manhã e frequentar campos crematórios (ou cemitérios)
a noite. Na vida espiritual não podemos mentir para nós mesmos, ou fantasiar
justificativas para nossos caprichos.
A Bhagavad Gita comenta:
श्रेयान्स्वधर्मो विगुणः परधर्मात्स्वनुष्ठितात् ।
स्वधर्मे निधनं श्रेयः परधर्मो भयावहः ॥ ३-३५॥
śreyānsvadharmo viguṇaḥ
paradharmātsvanuṣṭhitāt |
svadharme nidhanaṁ śreyaḥ paradharmo bhayāvahaḥ || 3-35||
“E melhor seguir o seu próprio Dharma (SvaDharma) mesmo que
de maneira imperfeita do que seguir o Dharma dos outros de forma integral. E
preferivel estar centrado em si-mesmo (Nidhana), no seu próprio Dharma. O
Dharma dos outros produz apreensão.”
Bhagavad Gita III, verso 35
Um Dharma pode ser também entendido como uma linha de ação,
uma estratégia de atuar no mundo. Um cirurgião, por exemplo, segue determinadas
prescrições para realizar seu trabalho com segurança e qualidade. Um mecanico
faz o mesmo com referencia ao seu trabalho. Porém se o cirurgião estivesse
atordoado e tentasse realizar uma cirurgia com as ferramentas de um mecanico o
resultado seria desastroso. A mesma infelicidade teria um mecanico iludido
tentando higienizar o motor dos carros com éter antes de consertá-los.
Cada Deidade, cada aspecto da Divindade possui seus próprios
atributos que devem ser respeitados em suas disciplinas espirituais de forma a
obter resultados. O devoto de Krishna não
toca em cranios e nem faz Sadhana em campos crematórios pois isso é
ofensivo a sua Deidade, da mesma forma um Aghori não despreza a manifestação de
Shiva que dá nome a sua tradição (Aghora Shiva, a face voltada para o Sul) para
adorar outras Deidades. O Aghori adora Shiva acima de todas as outras Deidades.
E muito simples observar que estes Dharmas dados como exemplo, válidos e
legitimos quando praticados de forma não adulterada, possuem elementos imcompatíveis
entre si. Não se pode ser um Vaishnava e um Aghori ao mesmo tempo. Não é
possivel conciliar estilos de vida incompativeis numa mesma vida.
Na gravura 1: Ursinho inseguro imagina que é malvado enquanto
se olha no espelho.
Na gravura
2: pizza de feijoada com ovo frito e outras misturas.....
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