terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Ame o seu próprio Dharma (SvaDharma)



Um dos aspectos essenciais da vida espiritual é ser sincero, ou seja, estar alicerçado na Verdade e saber evitar fantasias e auto-ilusões. A nossa “natureza intrínseca” não é mutável ou caprichosa. Ela é estável e plena, apta em todos os sentidos para a nossa realização e felicidade. Não se pode ser feliz sendo uma pessoa pela manhã e outra completamente diferente a noite da mesma forma que não se pode seguir um Dharma pela manhã e outro a noite. Aqueles que seguem um Dharma Vaishnava serão felizes e realizados sendo Vaishnavas, o Tântrico será feliz e realizado seguindo as injunções de seu Dharma e assim por diante. Todos são felizes sendo o que verdadeiramente são.

O MahaNirvana Tantra comenta:

सत्यधर्मं समाश्रित्य यत्कर्म कुरुते नरः 
तदेव सफलं कर्म सत्यं जानीहि सुव्रते  -७४॥
satyadharmaṁ samāśritya yatkarma kurute naraḥ   |
tadeva saphalaṁ karma satyaṁ jānīhi suvrate   || 4-74 ||

“ Oh Deusa Virtuosa, esteja certa de que quaisquer ações que o homem execute num Dharma Verdadeiro (SatyaDharma) trarão frutos.”
MahaNirvana Tantra IV, verso 74

Um Dharma não é uma escolha caprichosa de elementos distintos, muitas vezes incompátiveis, feita apenas para satisfazer inseguranças ou para ostentar supostas virtudes. Um Dharma é algo pleno, algo que faz sentido e está logicamente estabelecido para gerar os resultados desejados. Num Dharma estabelecido, ou seja, num estilo de vida consistente, todos os elementos são harmoniosos entre si e não há antagonismos ou contradições. Não se pode ser vegetariano de dia e jantar numa churrascaria ...... Da mesma forma, não se pode ter uma devoção doce pela manhã e frequentar campos crematórios (ou cemitérios) a noite. Na vida espiritual não podemos mentir para nós mesmos, ou fantasiar justificativas para nossos caprichos.

A Bhagavad Gita comenta:

श्रेयान्स्वधर्मो विगुणः परधर्मात्स्वनुष्ठितात्
स्वधर्मे निधनं श्रेयः परधर्मो भयावहः -३५॥
śreyānsvadharmo viguṇaḥ paradharmātsvanuṣṭhitāt  |
svadharme nidhanaṁ śreyaḥ paradharmo bhayāvahaḥ  || 3-35||

“E melhor seguir o seu próprio Dharma (SvaDharma) mesmo que de maneira imperfeita do que seguir o Dharma dos outros de forma integral. E preferivel estar centrado em si-mesmo (Nidhana), no seu próprio Dharma. O Dharma dos outros produz apreensão.”
Bhagavad Gita III, verso 35





Um Dharma pode ser também entendido como uma linha de ação, uma estratégia de atuar no mundo. Um cirurgião, por exemplo, segue determinadas prescrições para realizar seu trabalho com segurança e qualidade. Um mecanico faz o mesmo com referencia ao seu trabalho. Porém se o cirurgião estivesse atordoado e tentasse realizar uma cirurgia com as ferramentas de um mecanico o resultado seria desastroso. A mesma infelicidade teria um mecanico iludido tentando higienizar o motor dos carros com éter antes de consertá-los.

Cada Deidade, cada aspecto da Divindade possui seus próprios atributos que devem ser respeitados em suas disciplinas espirituais de forma a obter resultados. O devoto de Krishna não  toca em cranios e nem faz Sadhana em campos crematórios pois isso é ofensivo a sua Deidade, da mesma forma um Aghori não despreza a manifestação de Shiva que dá nome a sua tradição (Aghora Shiva, a face voltada para o Sul) para adorar outras Deidades. O Aghori adora Shiva acima de todas as outras Deidades. E muito simples observar que estes Dharmas dados como exemplo, válidos e legitimos quando praticados de forma não adulterada, possuem elementos imcompatíveis entre si. Não se pode ser um Vaishnava e um Aghori ao mesmo tempo. Não é possivel conciliar estilos de vida incompativeis numa mesma vida.


Na gravura 1: Ursinho inseguro imagina que é malvado enquanto se olha no espelho.
Na gravura 2: pizza de feijoada com ovo frito e outras misturas.....

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