domingo, 8 de janeiro de 2023

Religiosidade é fruto de reflexão



 Todos os seres tem fome e, portanto, buscam alimento porém apenas o homem sofisticou seu paladar e desenvolveu a culinária.

Todos os seres buscam "espiritualidade" porém apenas o homem sofisticou suas reflexões e desenvolveu a religiosidade.

Nenhuma forma de conhecimento ou conclusão baseada em reflexões é baseada no medo disto ou daquilo. O conhecimento nasce do aprofundamento do pensamento.

O fruto do conhecimento, em geral, se manifesta como um método. A certeza, baseada na expêriencia consciente, de que as coisas feitas de um modo correto geram os resultados esperados.

Aqueles que seguem uma metodologia testada e aprovada alcançam resultados e obtém generosos frutos. Os aventureiros colhem os frutos de seus esforços improvisados.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Kalika Purana


Namaste,

 

O Kalika Purana é um dos primeiros registros claramente identificáveis do inicio de uma Teologia centrada no aspecto feminino da Divindade. Elementos trazidos à tona naquela escritura são bastante relevantes na estruturação do que veio à tornar-se o Shaktismo contemporâneo. Estes elementos parecem também ter auxiliado na evolução Teológica dos Tantras que lhes são historicamente posteriores.

 

Nos cinco primeiros capítulos uma interessante narrativa é apresentada – a criação do Desejo (Kama Deva) que foi necessária para que o Senhor Shiva cumprisse a sua função na TriMurti - a destruição para renovação de ciclos cósmicos. Essa iniciativa é planejada pelos Senhor Brahma e Vishnu que pedem à MahaMaya (Kali) que assuma a forma do desejos de Shiva (KamaRupini) de forma que Ele pudesse ser trazido à atividade.

 

Outras narrativas inspiradoras são apresentadas nesta primeira parte (Purva Khanda) do Purana. Alguns exemplos são: 1. preparativos para que Shiva, o asceta, aceitasse uma esposa. As disciplinas espirituais de Daksha para tornar-se o pai de MahaMaya. O casamento e a destruição de seu Yajña que encerra mitologicamente o ciclo dos ritos Brahmanicos. 2. A função de Varaha Avatar como personificação do sacrifício cósmico. 3. o dilúvio universal. 4. a encarnação de Chandra Shekhara e TaraVati, Avatares do Senhor Shiva e da Mãe Divina, e posterior nascimento de Vetala e Bhairava. Etc...

 

À partir do capitulo 51 deste Purana inicia-se o Uttara Khanda, a parte superior, onde os ritos e práticas espirituais são descritos. O primeiro Vidhi (injunção) apresentada é sobre a maneira bem sucedida de se propiciar o Senhor Shiva. Este conhecimento é dado à Vetala e Bhairava, seus filhos, para que eles resgatem sua verdadeira identidade e opulências.

 

Os 13 capitulos seguintes, do 52 ao 65, descrevem o Devi Kalpa – os rituais propiciatórios para diferentes formas de Shakti. As disciplinas espirituais relacionadas à Vaishnavi, MahaMaya, Kamakhya, Sharada e Tripura são descritas neste trecho.

 

A partir do capitulo 66 detalhes específicos de cada Puja são orientados com clareza. Capitulo 66 – descrição das saudações e Mudras usadas em ritos; 67 – ritos de BaliDana e seus eventuais substitutos; 68 – como preparar e oferecer o Asana em Pujas; 69 – detalhes sobre as ofertas de tecidos, incenso e lamparinas; 70 – a seleção, preparo e oferta de alimentos à Shakti; 71 – a importância da oferta de Pradakshina e saudações finais (Namakara).

 

Os cinco capitulos de 72 à 76 descrevem aspectos e detalhes especiais (Vishesha) numa Puja. O Guru saberá elucidar quando, como e por que realizá-los.

 

O trecho dos capítulos 77 à 79, sendo três capítulos no total descreve detalhes geográficos na região da montanha onde está instalado o Templo de Kamakhya.

 

Dos capítulos 80 à 90 uma miscelânea de assuntos é abordada com destaque para o Raja Dharma (código de conduta social e litúrgica dos reis e nobres) e Dharma Shastra. A importância e os detalhes da realização do festival do Senhor Indra são orientados no capitulo 87. Este Purana encerra-se com a descrição das dinastias originadas por Vetala e Bhairava após seguirem as orientações apresentadas.

 

 

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Oferta de carne para os ancestrais


 

Namaste, ou seja, olá.

 

Os Tantras prescrevem e orientam também sobre a adoração aos ancestrais. Em alguns textos afirma-se que Moksha, a Libertação Final, não é obtida sem que os ancestrais sejam anteriormente propiciados.

 

Este conceito não é exclusivo dos Tantras pois estas escrituras dão continuidade ao mesmo Dharma prescrito nos Vedas e nos Puranas. O Tantra não é considerado Adharmico (antagônico ao Dharma) nem tampouco Vedabahya (alheio aos Vedas).

 

Há inúmeras referencias de ritos de propiciação aos ancestrais descritas nos Tantras e Puranas assim como também descritas nos Vedas. As injunções Védicas são seguidas por aqueles cujas famílias preservaram o Dharma Védico. As injunções Tantricas para gratidão aos ancestrais devem ser seguidas apenas por aqueles que foram iniciados nesta tradição.

 

Já aqueles que desejam expressar sua gratidão dentro da perspectiva do Hinduísmo de uma forma responsável e harmoniosa podem seguir as injunções prescritas nos Puranas.

 

Há Puranas Vaishnavas como o Garuda Purana e o Vishnu Purana que detalham estes ritos de forma que possam ser seguidos por todos. No Vishnu Purana estas orientações são descritas no livro III, capítulos XIII à XVI. Vamos ao que é recomendado no capitulo XVI e pode ser feito mensalmente no Amavasya, último dia de cada mês lunar.

 

“O sábio Aurva disse:

Os ancestrais permanecem satisfeitos por um mês pela oferta de itens comestíveis (numa cerimônia de fogo), peixe ou (um dos sete tipos) de carne (de coelho, pássaros, suína, de cabra, de antílope, cordeiro ou bisão). Ou de maneira permanente pela carne de rinoceronte.”

Vishnu Purana, livro III, capitulo XVI, versos 1 e 2.

 

Observemos que o Sanatana Dharma (“Hinduísmo”) não baseia-se apenas nos dados escriturais, ele é uma religião viva ! A orientação dos Gurus e eruditos devidamente preparados pelos anos de estudo é essencial quando quaisquer duvidas ou orientações sejam necessárias.