quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Varaha Pralaya - o Diluvio Hindu

 

 

Varāha Pralaya (o “Dilúvio”)

 

               Apresentaremos um brevíssimo resumo da narrativa do Varāha Pralaya conhecido entre as religiosidades Abrahâmicas como “dilúvio”. Nosso resumo, embora breve, é relevante tendo em vista que aquilo que foi registrado pelos letrados Sumérios e Babilônios foi posteriormente bastante reduzido nos textos da Torah judaica que formam a base do que é, hoje, conhecido como “bíblia”.

 

               O Varāha Pralaya é descrito em vários Purāṇas e tomaremos como referencia o Kālikā Purāṇa que é aquele mais intimamente relacionado à tradição Tântrica. Observemos a importância do Kālikā Purāṇa através da preservação e constante utilização de Mantras que foram revelados naquela escritura e que são recitados por várias escolas Tântricas.

 

               Os capítulos do Kālikā Purāṇa que se referem ao Varāha Pralaya vão do 30 ao 34 sendo que os capítulos 30 e 31 nos remetem as origens históricas e metafísicas que tornaram o dilúvio necessário. A narrativa propriamente dita inicia-se no capitulo 32. O Rshi (“profeta”) que descreve a narrativa é Markandeya, o mesmo registrou para a humanidade o Markandeya Purāṇa e o Chaṇḍi Patha, a importante escritura recitada em grandes cerimônias de fogo realizadas por Tântricos e Shaktas ao redor do mundo. Vamos ao nosso resumo.

 

               O sábio Kapila Muni surgiu durante o governo e regência de Svāyambhuva Manu e o procurou para ter um de seus desejos atendidos: obter um local para realizar suas disciplinas espirituais. Svāyambhuva Manu lhe replicou que nenhum dos sábios anteriores lhe havia pedido um local e que, no mundo, haviam muitos Templos sagrados para ele praticar suas disciplinas.

 

               A réplica de Svāyambhuva Manu deixou Kapila Muni muito irado e ele disse que, em breve, Svāyambhuva veria todo o mundo totalmente destruído, aniquilado, e submerso nas águas e que isso acabaria com seu orgulho e arrogância. Após estas palavras Kapila Muni desapareceu e não foi mais visto.

 

               Aterrorizado, Svāyambhuva Manu silenciou-se e decidiu realizar intensa Tapasya (austeridades espirituais). Ele se dirigiu à sagrada arvore Badari (“Joazeiro”, Ziziphus Jujube) na nascente de um rio. Ali a arvore fornecia sombra permanente, estava sempre verde e plena em frutos, não apresentava nem espinhos e nem folhas secas. Aquela arvore estava sempre úmida pois recebia gotas que espirravam do rio e era adorava por inúmeros sábios.

 

               Ali Svāyambhuva Manu recitou o Mantra “Saudações à VasuDeva, Aquele que tem a forma do conhecimento puro”. Então o Senhor Deus Viṣhṇu apareceu à Svāyambhuva Manu na forma de um pequeno peixe esverdeado como a sagrada grama Durva (grama Bermuda, Cynodon Dactylon). O peixe se dizia assustado e pediu que Svāyambhuva Manu o protegesse. Isso foi feito. Primeiro o peixe foi levado à uma aquário e depois à um grande lago e Svāyambhuva Manu cuidava dele como se fosse seu próprio filho.

 

               O peixinho tornou-se enorme, gigantesco, e precisou ser retirado do lago. Svāyambhuva Manu temeu não conseguir retirar o enorme peixe e levá-lo para o oceano porém ao pegá-lo surpreendeu-se ao perceber sua leveza. Ao refletir sobre a leveza daquele animal Svāyambhuva Manu lhe disse: “Oh bondoso Mahattara (Grande Alma), me diga a verdade, se isto não for um segredo. Tu és Brahma, Viṣhṇu ou Shambhu em forma de peixe. Quem és tu ?”

 

               Então o Senhor Deus Viṣhṇu falou através do peixe, foi propiciado por hinos e proclamou numa voz profunda como os trovões: “Tu tens me adorado e lhe darei o que pedires”. Svāyambhuva Manu então relatou as palavras de Kapila Muni e implorou que o mundo não fosse submerso pelas águas.

 

               O Senhor Deus Viṣhṇu disse que as palavras de Kapila Muni eram verdadeiras e que nada poderia ser feito e orientou as medidas para que Svāyambhuva Manu construisse um imenso barco para acomodar todos os seres vivos e repovoar a Terra. Ele garantiu que Jagaddhatri, a Mãe do Mundo, usaria sua Maya, seu poder espiritual, para que as cordas de amarração do barco fossem indestrutíveis. Todas as sementes do mundo, os livros sagrados dos Vedas e sete Munis (sábios) deveriam ser levados ao barco. Afirmou que atenderia à todos que recitassem o Mantra previamente usado para evocá-lo e disse também que após consultar o sábio Dakṣha Ele (o Senhor Deus) deveria ser novamente evocado e que se apresentaria prontamente.

 

               Svāyambhuva Manu fez com que as orientações do Senhor Deus Viṣhṇu fossem cumpridas. Arvores foram cortadas para se obter a madeira necessária, a corda e tudo foi preparado de acordo. O dilúvio veio e o barco esteve à salvo até a descida das águas. Com o recuo das águas o barco ancorou-se ao Oeste dos Himalayas. Então os Senhores Deuses Brahma, Viṣhṇu e Śhiva apareceram diante do barco e falaram à Nara e Narayana, à Dakṣha, à Svāyambhuva Manu e aos sete sábios. À Nara e Narayana foi orientado que restabelecessem os Deuses e seus cultos em seus lugares e que novos locais fossem criados. Svāyambhuva Manu foi orientado à replantar as ervas, plantas e arvores cujas sementes estavam estocadas. Dakṣha e os sete Grandes Sábios foram orientados à estabelecer os três altares de fogo (Garhapatya, Ahavanya e Dakshina), realizar os Yajñas (sacrifícios) e propiciar o Senhor Deus Viṣhṇu de forma que a Criação pudesse prosperar e expandir-se. Segue-se então a narrativas das centenas de descendentes daqueles que estavam no barco.

 

Que a Divina e Eterna Mãe Kali nos proteja sempre.

 

Índice dos capítulos consultados e seus sumários:

Kālikā Purāṇa, capitulo 30 – Conflito entre Varāha (forma do Senhor Deus Viṣhṇu) e Sharabha (forma do Senhor Deus Śhiva). A parte final deste capitulo informa sobre os Varāha Ganas (“tribos” de Varāha) e os Sharabha Ganas (“tribos” de Sharabha) e a destruição completa dos primeiros devido à superioridade bélica dos Sharabha Ganas.

 

Os Varāha Ganas se alimentavam de frutas, flores, raízes e água e são descritos como não sendo cruéis em suas ações. Os Sharabha Ganas, também conhecidos como Pramathas, são descritos como aqueles que alimentavam-se de carne no ChaturDashi (décimo quarto dia lunar).

 

Kālikā Purāṇa, capitulo 31 – Com o desencarne de Varāha todos os rituais, os sacrifícios (Yajñas), surgem. Cada parte do corpo de Varāha deu origem á determinados tipos de rituais.  

 

Kālikā Purāṇa, capitulo 32 – Svāyambhuva Manu é advertido pelo sábio Kapila sobre um futuro dilúvio que destruiria todo o planeta Terra.

 

Kālikā Purāṇa, capitulo 33 – Svāyambhuva Manu entra em severas austeridades em busca da Divindade para saber como agir. O Senhor Deus Viṣhṇu apresenta-se à ele em sua forma de Matsya Avatara e o instrui como se salvar e salvar todo o conhecimento existente até então.

 

Kālikā Purāṇa, capitulo 34 – O barco construído é salvo em terra e os Senhores Deuses Brahma, Viṣhṇu e Hara (Śhiva) aproximam-se para instruir Svāyambhuva Manu, Dakṣha, Nara e Narayana e os sete Munis (sábios) sobre a reconstrução do mundo. As descendências daqueles que estavam no barco são descritas.

Nenhum comentário: