Sadhana 01: Evitar a Adoração Insípida
O Censo
Brasileiro de 2010 aponta a seguinte distribuição religiosa no Pais: 64% se
declaram cristãos; 22% protestantes e 2% “espíritas”. As demais religiões
apresentam um percentual abaixo destes dois por cento. Esta proporção apresenta
variação em relação às estatísticas mundiais daquele ano que apontam: 23% de
muçulmanos; 22% de cristãos; 15% de Hindus; 10% de protestantes e 7% de
Budistas. Apesar de seu percentual declarado os sacerdotes protestantes usam
uma estratégia de controle das grandes Mídias o que faz com que sua influência
cultural nas sociedades onde estão presentes seja bem mais extensa do que a sua
representatividade e que as crenças peculiares daquele grupo formem uma espécie
de senso comum de religiosidade.
Nos nossos dias
este “senso comum” televisivo, transmitido constantemente, cria inúmeras
distorções na apreciação dos fenômenos religiosos e de espiritualidade e pode
vir à fomentar incompreensão ou, até mesmo, discriminação de práticas fora da
padronização imposta. Uma distorção bastante evidente é a questão da adoração
insípida, ou seja, a perspectiva de que a Divindade só pode ser adorada de mãos
vazias e através de improvisação verbal. Essa adoração insípida se mostra como
uma anomalia no fenômeno religioso que se manifesta principalmente nas
agremiações protestantes. Outras religiosidades abominam a adoração insípida e
fazem oferendas generosas de tudo aquilo que se origina da Divindade e que,
portanto, é retornado à Ela em gratidão. Água, flores, frutas, incenso,
lamparinas e velas são artigos costumeiramente presentes em locais onde há amor
pela Divindade.
Conceitos
distorcidos e ignorância só podem ser superados mediante clara exposição e
orientação vinda daqueles que possuem o conhecimento e, neste sentido, apresentamos
um pequeno texto com referencias escriturais para auxiliar os Sadhakas à educar
aqueles que ainda não entendem a importância da generosa adoração e a oferta de
elementos físicos em gratidão pela opulência que a Divindade manifesta no mundo
à nossa volta.
Pode causar
alguma estranheza que as referencias escriturais citadas sejam da Torah oriunda
da tradição Judaica. Entretanto isso se deve ao fato de que embora os
protestantes aleguem serem cristãos, ou seja, “filhos da Boa Nova” vinda
através dos evangelhos eles raramente os citam e baseiam muitas de suas
crendices numa compreensão parcial e deficitária da Torah. Os cristãos, por sua
vez, categorizam suas referencias escriturais como antigo testamento e novo
testamento sendo o primeiro composto de muitos textos da Torah e o segundo os
evangelhos que justificam práticas litúrgicas cristãs como a comunhão durante
as missas e a aplicação dos sacramentos.
Segue
abaixo um convite à reflexão baseado em sete referencias escriturais que
demonstram liturgias e práticas rituais presentes no antigo testamento e que
são ignoradas por muitos daqueles que questionam elementos das Sadhanas das
religiões baseadas no Dharma. Junto à cada citação foi acrescentado o seu
correspondente no Dharma que foi preservado e é praticado até nossos dias.
01. “Não se apresentará ninguém
diante de mim com as mãos vazias.”
Exodo 23:15
Comentário:
Este versículo do livro Êxodo 23 resume o conteúdo tratado no capitulo e
instrui que a presença diante da Divindade só é permitida com o alimento
prescrito (que chamamos de Naivedyam e, neste caso, é o Chapati – pão sem
fermento). Este trecho reafirma o que foi detalhadamente expresso em
Deuteronômio 16:16. Vamos à ele.
02. “Três vezes por ano todos os
homens se apresentarão à seu deus (entre os judeus era o deus Jeová), no local
que ele escolher (ou seja em seu templo especifico), por ocasião: (1) da festa
dos pães sem fermento (o Chapati), (2) da festa das semanas e (3) da festa das
cabanas. Nenhum deles deverá apresentar-se à Divindade de mãos vazias.
Deuteronômio 16:16
Deuteronômio 16:16
Comentário:
Este trecho previne sobre a avareza e irreverência que caracterizam a prática
da adoração insípida. Podemos observar que apresentar-se de mãos vazias perante
a Divindade é apenas um disfarce para a avareza espiritual que impede a
expressão sincera de gratidão. Somente os homens fortes e seguros de sua fé
podem ser generosos sem receio pois sabem que o óleo de suas lamparinas não lhes
faltará em suas cozinhas.
03. “Arão fará queimar incenso aromático
(Dhupam) sobre o altar (Vedika) todas as manhãs (primeiro momento do Sandhya
Vandanam), assim que vier cuidar das lamparinas (Dipam).”
Êxodo 30:7
Comentário:
Arão demonstra seguir os preceitos indicados ao bom devoto, ou seja, oferecer
ao menos um Arati (oferta de lamparina de óleo e incenso) diante do altar no
momento mais oportuno - o primeiro horário da manhã.
04. “Trarás à casa do Senhor, teu Deus (ou seja, seu Ishta Devata), as primícias dos primeiros frutos de tua terra.”
Êxodo 23:19
Comentário: Claramente o texto não menciona moedas ou dinheiro mas sim
alimento (Naivedyam) para freqüentar o Templo (Mandiram) da Deidade. Portanto
uma possível alegação de que o dizimo substituiria a oferta real e verdadeira de
artigos físicos não se justifica.
05. “Três vezes por ano Salomão oferecia
holocaustos (Yajñas) e sacrifícios de paz (Shanti Karma) e comunhão sobre o
altar que erguera a sua Deidade e queimava incensos puros e perfumados (Dhupam)
diante da Divindade.
Reis 9:25
Comentário:
A palavra “Holocausto” é de origem Grega e significa “Holo” – completo, por
inteiro; “Causto” – queimado, ou seja, aquilo que é completamente queimado em
oferecimento à Divindade. Isso é feito nas cerimônias de fogo praticadas no
Dharma, estes ritos recebem diferentes denominações conforme a complexidade
envolvida: AgniHotra, Homa, Havana ou Yajña. A oferenda (Dravya) completamente
queimada significa o desprendimento (Tyaga) e absoluta confiança do devoto
diante de seu Ishta Devata, a forma da Divindade que habita em seu coração.
06. “Todo o seu ganho será destinado para os que
vivem na presença da Divindade (ou seja, os Pujaris/Brahmanes que vivem em seu
Templo), a fim de que tenham bastante suprimento, bons alimentos (Bhoga) e até
roupas finas (Vastram).”
Isaias
23:18
Comentário:
É dever do Grhasta (aquele que mantém uma casa) ajudar á manter os Templos das
várias formas da Divindade. Entre as ofertas prescritas para a manutenção das
atividades dos Templos locais estão alimentos e até roupas de uso sacerdotal
como Dhotis e Sáris para suprir as necessidades daqueles que se dedicam
exclusivamente ao serviço do próximo através da intercessão das forças divinas.
07. Em Êxodo 37 temos uma detalhada descrição
da instalação de um verdadeiro altar dentro da tradição da Torah que não é um
palco para a encenação de um sacerdote mas sim um local para apresentar
oferendas de gratidão.
“Fez também dois
querubins de ouro; de obra batida os fez, nas duas extremidades do
propiciatório.”
Êxodo 37:7
Êxodo 37:7
Comentário: As Murtis (estátuas consagradas) instaladas no altar são
descritas neste versículo.
“E fez de ouro puro os
utensílios que haviam de estar sobre a mesa, os seus pratos e as suas colheres
(este conjunto é chamado de Puja Thali), e as suas tigelas e as suas taças (chamados
de Patrani, plural de “Patra” - vasilhames) em que se haviam de oferecer
libações (chamadas de Tarpanam e Abhishekam).”
Êxodo 37:16
"Também fez o azeite santo da unção (Gandham), e o incenso aromático (Dhupam), puro, qual obra do perfumista.
Êxodo 37:29
Comentário: O Dharma que mantém de forma integra e legitima as tradições sagradas da antiguidade pratica a unção (Lepanam) com o óleo perfumado ou Attar (Gandham) e queima diariamente o incenso (Dhupam) em seus altares.
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