Diferentes tradições Tântricas contemporâneas
O Tantra
apresenta clara influência principalmente em três grandes tradições religiosas:
a Hindu, a Budista e a Jainista. Portanto há Tantras Hindus, Budistas e
Jainistas que compartilham certos conceitos que são básicos e formam o alicerce
da tradição. Quais seriam estes conceitos ? Se tivéssemos que definir de forma
mínima a tradição Tântrica nos arriscaríamos à dizer que a identificação do
adorador com a Divindade adorada seria o ponto essencial. Esta identificação é
comum à todas as tradições que originam-se do Tantra. Há um ditado comum que
afirma que: “O “não-Deva” não pode adorar um Deva, ou seja, aquele que não é
Shiva não poderia adorar à Shiva da mesma forma que o “não-Ganesha” não poderia
adorar Ganesha”.
Além desta
identificação do adorador com a Divindade há inúmeros detalhes no Modus
Operandi, ou seja, na prática litúrgica que são comuns às tradições Tântricas.
A liturgia inicial dedicada aos “guardiões da tradição” (1), o caráter
esotérico/iniciático dos ensinamentos (2), o uso constante de técnicas de
meditação/visualização durante os rituais (3) e a realização periódica de
“cerimônias de fogo” (4) são alguns dos elementos facilmente observáveis.
As
tradições Tântricas mais conhecidas são:
a. O Shri
Vidya, o PañchaRatra, o Vaikhanasa e o Kaula entre os Hindus.
b. O
Vajrayana com suas escolas Sakya, Nyingma, Kagyu e Gelugpa entre os Budistas
Tibetanos.
c. O Mikkyo
presente no Budismo Tendai e Shingon do Japão, que muito influenciaram o Shugendo.
d. O Jaina
Tantra centrado no culto à Shakti Padmavati.
O Shri
Vidya é a tradição Tântrica mais divulgada entre os Hindus. Esta tradição
costuma dividir-se em “Kali Kula” e “Shri Kula” que indicam uma predileção por
formas mais iradas ou mais pacificas da Divindade respectivamente. No Shri
Vidya os ritos Kaulikas, ou seja, revelados nos Kaula Tantras foram adotados
somente nos graus mais elevados de iniciação.
O
PañchaRatra e o Vaikhanasa são tradições Tântricas Vaishnavas. Eles possuem
muitos pontos em comum com outras tradições Tântricas Hindus como a prática de
Nyasas, meditações/visualizações durante
os ritos e cerimônias de fogo. Porém seu foco está na adoração Tântrica às
Deidades nos Templos.
Muitos
textos Tantricos se apresentam como “Kaula Tantras” e esta tradição se tornou a
mais comentada devido a oferenda de carne, vinho e outros itens que é feita às
Deidades por seus iniciados mais elevados. Suas escrituras e iconografia
religiosa influenciaram fortemente o Vajrayana e o Shri Vidya.
O Vajrayana
possui uma perspectiva Budista e afirma-se Tântrico. Muitas de suas disciplinas
espirituais (Sadhanas) são transmitidas mediante iniciação e há um uso
frequente de visualizações e gestos rituais (Mudras). Sua iconografia religiosa
menciona o uso de taças de crânio, Divindades iradas e muitos outros elementos
do antigo Shivaismo (KalaMukha, Kapalika etc..) praticado nos campos
crematórios.
O Shingon e
Tendai preservaram no Japão muitos elementos Tântricos como a adoração as Cinco
Grandes Deidades (Pañchayatana) que, entre eles, são os Cinco Grandes Reis (Go
Dai Myoo) e a prática de cerimônias de fogo (Homa em Sânscrito, Goma no Japão).
Muitos Mudras também são usados aqui e há uma atenção especial as purificações
do corpo, do local dos ritos e das oferendas assim como nas outras tradições
Tântricas.
O Jaina
Tantra praticado principalmente na Índia tem um foco em Shakti, a Mãe Divina, e
executa muitas disciplinas espirituais ligadas as Matrkas que simbolizam as freqüências
e pontos de articulação relacionadas ao alfabeto Sânscrito. Possue muitas
semelhanças com o estágio de Dakshinachara que é mencionado nos Kaula Tantras.
Há tradições
antigas que muito influenciaram o desenvolvimento e a divulgação de conceitos Tântricos.
Algumas delas são mencionadas em fontes não-tantricas e possuem textos
preservados porém “sem Guru não há Tantra”. É possível apreciar o Tantra à
distancia ou até mesmo “estudá-lo” entretanto seus frutos só são alcançados
através da transmissão direta da energia cultivada na tradição – ShaktiPat. O
sábio e erudito AbhinavaGupta menciona a escola Trika que está extinta pois não
há Gurus vindos através de uma sucessão discipular legitima (Parampara) embora
seus ensinamentos e textos tenham atraído considerável interesse acadêmico. Conceitos
desta escola como o da Deusa Tríplice – “Para, Apara e Parapara” foram
assimilados por escolas contemporâneas e uma clara semelhança entre este e as
três Deusas mencionadas no Chandi Path e seus “segredos” (textos Rahasyams) são
evidentes.
Na gravura:
Mandala para Sadhana do Mantra Bija “Hrim” usada no Jaina Tantra.
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