segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A origem do Samanyarghya





Toda cerimonia Tantrika tem em suas preliminares o Samanyarghya, o estabelecimento das águas que serão usadas para a purificação dos itens e oferendas rituais. Há vários Mantras específicos para esta ocasião e a nossa narrativa extraída do Kalika Purana vai esclarecer alguns aspectos deste rito tão importante e significativo. 

Para ver Samanyarghya e roteiro de Puja - clique aqui 

Esta narrativa acontece nos tempos do grande diluvio. Naqueles dias a Terra estava estava completamente inundada e os poucos trechos de terra disponíveis não eram firmes. A Deusa MahaMaya (também conhecida como YogaNidra) observou a Terra destruída e elaborou um plano para restituir à Terra (Prthivi) a sua antiga glória. Ela refletiu: “ Devido as aguas, a Terra destes dias se tornou pastosa tal qual a manteiga derretida. Como esta Terra pastosa poderá sustentar os seres vivos como nos tempos da criação ? “

Então a Deusa foi até o Senhor Vishnu, o Deus da Preservação, que estava profundamente adormecido sobre as aguas. Ela se posicionou ao seu lado e colocou seu dedo mínimo da mão esquerda dentro da orelha esquerda do Senhor. Ela retirou o que lá havia e o tornou em pó. Deste pó se ergueu um Asura chamado Madhu (mel). Na sequência a Deusa colocou o dedo mínimo de sua mão direita dentro da orelha direita do Senhor Vishnu e retirou o que lá havia e transformou em pó. Deste pó nasceu um forte Asura chamado Kaitabha, o Grande. O primeiro Asura foi chamado Madhu pois logo após nascer ele pediu mel para beber. O segundo parecia um inseto (Kit) nas mãos da Deusa e, portanto, foi chamado de Kaitabha. A Deusa lhes disse: “ O Senhor Vishnu, devido à sua compaixão, não irá matá-los; ele só o fará se vocês disserem “Vishnu mate-nos”. E então os Asuras partiram.

Eles caminharam sobre o imenso corpo de Vishnu que estava sobre as aguas, e encontraram o Senhor Brahma, o Deus criador, que saia de uma flor de lótus que surgia do umbigo de Vishnu. Eles disseram ao criador: “Nós lhe mataremos aqui mesmo. Se queres viver, chame por Vishnu”. Brahma ficou aterrorizado, ele não tinha como despertar Vishnu diretamente, e então começou à evocar a Deusa YogaNidra através de vários hinos (Chandi Path, capitulo I). Devidamente propiciada a Deusa apareceu à Brahma e disse-lhe: “ Ó virtuoso, por que me evocaste ? Oque posso fazer-lhe ? Diga-me e o farei agora”.

Brahma, o virtuoso criador, disse à MahaMaya: “Desperte o Senhor do Mundo antes que que estes dois Asuras me matem, e confunda estes dois invencíveis Madhu e Kaitabha.“ Assim solicitada a Deusa despertou o Senhor Vishnu e criou cegueira espiritual nos dois Asuras.

Ao despertar, Vishnu deparou-se com o criador aterrorizado e os dois Asuras indo em sua direção. Então começaram a lutar. O Senhor combateu Madhu e Kaitabha, entretanto não foi capaz de derrotá-los. Ananta, a serpente de mil cabeças sobre a qual Vishnu adormecia, também lutou contra os Asuras mas não foi capaz de derrotá-los. E a luta prosseguia. Neste momento o Senhor Brahma criou uma força de sustentação (AdharaShakti) no formato de uma pedra quadrangular, com medidas exatas. Sobre esta pedra Vishnu e os Asuras começaram à lutar porém, devido ao peso deles, a pedra começou à afundar nas aguas do diluvio. A luta continuou, submersa, por uma extensão de cinco mil Varshas (unidade de tempo ou de distancia). Vishnu não era capaz de derrotá-los  e Brahma já temia pelo pior.

Então, espiritualmente cegos pelo orgulho de sua força, pois estavam sob a magia de MahaMaya, os dois Asuras disseram: “Vishnu, você luta bem. Estamos satisfeitos em ver sua habilidade ao lutar conosco. Peça uma benção e nós lhe daremos o que quer que você peça”. Vishnu respondeu: “Vocês dois são muito fortes entretanto vocês devem ser mortos por mim. Se vocês pudessem me dar uma benção, que a benção fosse esta.” Madhu e Kaitabha, os dois Asuras, plenos de orgulho disseram: “Concordamos em sermos mortos por ti, neste exato momento. Entretanto você deve matar-nos num local onde não haja aguas agora. Vishnu mate-nos !”

Vishnu, o Senhor do Mundo, com sua sabedoria rogou à Brahma e à Deusa: “Ergam a pedra, a AdharaShakti, e ela me sustentará de forma que eu possa matar estes dois Asuras de força incomparável.” Então a Deusa, sob a forma de uma imensa montanha, ergueu a pedra pelo lado Leste. Kurma ergueu a pedra pelo Norte. Ananta, a serpente de mil cabeças, ergueu a pedra pelo Oeste e Prthivi, a Mãe Terra, ergueu a pedra ao Sul. E, sobre aquela pedra, que se tornou uma força de sustentação Vishnu pode decapitar os dois Asuras. 

Mas a Terra ainda estava submersa pelas aguas do diluvio ! Mas esta já é outra estória ......

Jaya Maa !




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