Por que o
Tantra estima a prática de Pujas e Homas (rituais de adoração), Vratas (votos
auspiciosos) e a meditação direcionada ? Qual seria o papel destes elementos na
realização dos quatro objetivos da vida humana, os Purusharthas, que significam: viver em
Dharma, ter Artha (os meios de sustento digno), realizar Kama (nossas
aspirações estéticas e desejos) e obter Moksha (a Liberação final).
Talvez uma
narrativa bem conhecida, aquela do casamento do Senhor Shiva, possa nos ajudar à compreender melhor os Tantras, sob a
ótica da iniciação, diferenciada do
olhar superficial. Uma ótica que se aprofunda e busca interpretar os elementos
dentro da vasta tradição á qual pertencem.
Diz a lenda que havia um grande sábio chamado Daksha, que teve muitas filhas de sua união com Aditi. Aconteceu que Daksha havia preparado uma de suas filhas, chamada Sati, para o casamento e, em grande celebração, faria um imenso Yajña, um grande sacrifico auspicioso. Todos as Deidades e seres celestiais haviam sido convidados para receber a Prasada, o banquete, que seria servida após o rito. Entretanto, quando Daksha viu o noivo escolhido, Shiva, ele se recusou a entregar sua filha. Aquela figura à sua frente parecia desprezível, um homem coberto de cinzas do campo crematório, sem jóias ou ornamentos valiosos, apenas serpentes e sementes de Rudraksha estavam sobre seu corpo. Então, ao ver seu noivo humilhado diante da assembléia dos Deuses, Sati se desesperou e se jogou nas chamas do Yajña, da cerimonia de fogo, que estava sendo realizada. Shiva ao ver sua amada em chamas, retirou o corpo do fogo e, enlouquecido, correu por todo o Universo. A ordem cósmica tornou-se então em Caos, não havia mais harmonia e toda a criação ameaçava entrar em colapso. Foi o gesto providencial de Vishnu, cortando o corpo de Sati em 51 pedaços, que permitiu que Shiva pudesse se acalmar, quando já não havia mais nada o que carregar.
Diz a lenda que havia um grande sábio chamado Daksha, que teve muitas filhas de sua união com Aditi. Aconteceu que Daksha havia preparado uma de suas filhas, chamada Sati, para o casamento e, em grande celebração, faria um imenso Yajña, um grande sacrifico auspicioso. Todos as Deidades e seres celestiais haviam sido convidados para receber a Prasada, o banquete, que seria servida após o rito. Entretanto, quando Daksha viu o noivo escolhido, Shiva, ele se recusou a entregar sua filha. Aquela figura à sua frente parecia desprezível, um homem coberto de cinzas do campo crematório, sem jóias ou ornamentos valiosos, apenas serpentes e sementes de Rudraksha estavam sobre seu corpo. Então, ao ver seu noivo humilhado diante da assembléia dos Deuses, Sati se desesperou e se jogou nas chamas do Yajña, da cerimonia de fogo, que estava sendo realizada. Shiva ao ver sua amada em chamas, retirou o corpo do fogo e, enlouquecido, correu por todo o Universo. A ordem cósmica tornou-se então em Caos, não havia mais harmonia e toda a criação ameaçava entrar em colapso. Foi o gesto providencial de Vishnu, cortando o corpo de Sati em 51 pedaços, que permitiu que Shiva pudesse se acalmar, quando já não havia mais nada o que carregar.
Vamos comentar
alguns elementos da simbologia por trás da narrativa, à começar pelos nomes em
Sânscrito que revelam muitos detalhes preciosos. Daksha significa “aptidão
ritual”, “expertise”. Ele é um dos doze Adityas, os Principios Soberanos. Estes
Adityas são sempre representados ao pares conforme sua atuação no mundo dos
homens ou no mundo dos Deuses. Temos então Mitra e Varuna – a solidariedade
entre os homens (Mitra) ou entre os homens e Deuses (Varuna). Aryaman e Daksha –
as regras do bom convívio, entre os homens (Aryaman, a nobreza de espirito) e
entre os homens e Deuses (Daksha, as regras e aptidões rituais). Bhaga e Amsha –
aquilo que é recebido, dos outros homens (Bhaga, a herança, a tradição) ou dos
Deuses (Amsha, a graça Divina, a benção). Estes seis são os seis Grandes
Principios Soberanos, todos filhos da Deusa Aditi, Aquela que não tem divisões,
é vasta, ampla. Em Sânscrito “A” – não, “Diti” – divisão, partição. Observemos que a narrativa
começa á tomar novos contornos, não é mesmo ?
Pois
vejamos, a aptidão ritual (Daksha) unida à vastidão da natureza (Aditi) deu
origem à filhas, à Shaktis, à energias espirituais. É durante as Pujas, os
Vratas, Homas e outras práticas Tantrikas que estas energias espirituais são
geradas e então, através do Sankalpa previamente informado, são dirigidas ao
seu destino, ao seu “matrimonio”. Diz-se que das muitas “filhas” da aptidão
ritual (Daksha), 27 se casaram com Chandra Deva, o Deus Lua, que representa a mente
na Astrologia Védica. Ou seja, muitas Shaktis, muitas forças espirituais,
geradas pelo rito são entregues à Mente para que as controle. Sati é uma destas
Shaktis, a mais elevada. Seu nome é a forma feminina de “Sat”, a verdade, em
Sânscrito. A negativa de Daksha em aceitar o matrimonio é a negativa comum de
não perceber a riqueza espiritual nas coisas mais simples, Shiva, a Consciência
que tudo observa, que lhe pareceu indigno para uma “filha” tão bem criada, tão bem "cultivada".
Esta
narrativa se encontra nos Puranas, num período histórico em que os poderosos
ritos Védicos estavam sendo gradualmente abandonados em favor de práticas menos
elaborados que exigem menos recursos, menos tempo e .... menos preparo – menos aptidão
ritual. Esta aptidão passava à ser depreciada em favor de Bhakti, da devoção,
que veio à se tornar uma das vias preferenciais para o contato com a Divindade.
Aos poucos os elementos, valores e práticas de uma Era vão sendo substituídos por
outras do novo tempo que se anuncia. Temos então a sequência das Eras desde o Satya
Yuga, quando o Dharma era pleno e protegia à todo o Universo, passando pelo
Treta Yuga, o Dvarapa Yuga, quando o Dharma já estava reduzido à metade até o
Kali Yuga, quando resta apenas um quarto de Dharma, de ordem cósmica, no Universo.
Os Tantras
se apresentam como o caminho espiritual do Kali Yuga, da Era na qual estamos
vivendo. Eles são, portanto, os continuadores da tradição Védica adaptados para
um novo periodo histórico onde os homens já não mais dispõem dos recursos
naturais, humanos e espirituais necessárias à correta prática dos Vedas. O
adepto Tantriko, o Kaulika, reflete sobre esta narrativa e busca manter em suas
disciplinas espirituais tanto a aptidão ritual que faz dele um Sadhu, um praticante
eficiente, quanto a doce devoção que o leva à união com a Consciência que tudo
observa. A palavra Kaula em Sânscito vem dos conceitos de Kula e Akula, ou
seja, daquilo que é “familiar” e observa as regras e métodos adequados para
alcançar cada objetivo quanto daquilo que é “desapegado” que desfruta da contemplação
mística. Jaya Maa !
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