“Kaula” abrange aspectos de “Kula” e “Akula” ou seja, paradigmas
associadas à Shakti, a Mãe Divina, e ao Senhor Shiva. Shakti é “Kula”,
associada à manutenção da família e da ordem social. Ela é Aquela que cuida e
preserva. Shiva é “Akula” eternamente liberado e sem vínculos com as coisas
deste mundo. Quando afirmamos a igualdade de Shiva e Shakti afirmamos que ambos
os aspectos são importantes e podem ser desenvolvidos pelos Sadhakas e que não
há motivos para estabelecer diferenças ou critérios de superioridade entre um
caminho e outro. Entretanto a mente envolvida por assuntos mundanos entende que as coisas e os fenomenos seriam puros ou impuros, esquecendo-se da etrena união de Shiva e Shakti.
A noção de pureza ou impureza ritual são criadas por Buddhi,
nosso poder de discernimento. È esta noção que nos faz afirmar que beber um
copo de suco de frutas é “melhor” do que beber agua suja que possa estar
contaminada. Podemos observar que esta noção é essencial à manutenção da vida e
ao próprio estabelecimento da civilização. Entretanto esta noção não é adequada
para nos aproximarmos de Brahman, o alicerce que sustenta todos os Universos,
pois Brahman envolve tudo o que existe, existiu ou possa existir. Brahman
transcende as idéias de pureza ou impureza pois “Ele” é a origem de todos os fenômenos.
Somente quando obtemos o conhecimento de Brahman é que passamos à perceber que
todo o Universo é Divino e tudo o que está manifesto nele é abençoado pela
Divindade. Como então solucionar este paradoxo ?
A ação ritual coordenada nos permite “sentir”(Bhava), “ter
uma visão”(Darshana) da Divindade manifesta em todas
as coisas enquanto, ao mesmo tempo, nos preserva de um estado mental não-dual,
e portanto sem discernimento de diferenças. Este estado quando ocorre num
momento inapropriado poderia comprometer nossa capacidade de interagir
adequadamente com as coisas do mundo. Por isto os Tantras sugerem regras de
conduta (Dharma) diferentes patra o cotidiano e momentos rituais específicos.
Um exemplo disto é durante um Chakra Puja quando todas as funções sociais
(Varna) e disposições de personalidade se igualam e, portanto, seria um erro estabelecer diferenças naquele
momento. Entretanto estes mesmos Tantras afirmam que após o Chakra Puja toda a
prévia ordem social é reestabelecida. Os poderosos Bhavanas, estados de
consciência, vivenciados durante o Chakra Puja e outras disciplinas Tantrikas são
evocados somente nos momentos de grande preparação onde o Sadhaka busca o
conhecimento de Brahman. Por isto mantemos a rotina cotidiana de vários ritos
de purificação de nossas mentes e corações pois onde o coração está purificado
o conhecimento de Brahman floresce.
Mediante a prática das disciplinas de purificação o Sadhaka
eventualmente torna-se Siddha, realizado naquele estado de consciência buscado
pelo rito, à partir deste momento ele pode permanecer na prática para seu
deleite e de todo o Universo ou buscar outras Sadhanas ou, até mesmo, abandonar
à todas quando se tornar Jivan Mukta, liberado enquanto em vida. O importante é
que o estado mental alcançado pela prática das disciplinas possa ser mantido e
trazido à manifestação sempre que oportuno. Fica claro que seria um equivoco
achar que as disciplinas no plano físico são inúteis pois são elas que preparam
o adepto às realizações mais sutis.
Todas as instruções passadas pelo Guru (Upadeshas) são
importantes. Os Tantras mencionam três tipos de instrução: as instruções em
Karma, em Dharma e em Jñana.
1. A instrução em Karma é aquela que descreve um rito ou
ação ritual e é descrita como aquela que apresenta seus frutos lentamente da
mesma forma que uma formiga se dirige lentamente para o fruto no alto da árvore.
Um exemplo desta instrução é o ensinamento sobre a prática do Achamanya ou da
Puja.
2. A instrução em Dharma é aquela que afirma valores morais
ou éticos relacionados ao estilo de vida de um Kaulika e ela é como um macaco
que salta de galho em galho para atingir o fruto lá no alto. Isto acontece
porque a instrução em Dharma só pode ser posta em prática quando a ocasião
apropriada se manifesta, sem esta condição ela não pode ser realizada. Um
exemplo desta instrução é aquela que sugere aos iniciado uma atitude de
reverência diante de sinais considerados auspiciosos pelo Kaula Dharma.
3. A instrução em Jñana é aquela expõe a verdadeira
sabedoria e é como um pássaro que voa diretamente e pousa sobre o fruto
desejado que está no alto da árvore. Porém esta instrução só pode ser
compreendida e valorizada se a mente estiver preparada para vivenciá-la, ou
seja, se a mente estiver purificadaa para vivenciar Brahma Jñana – o conhecimento
de Brahman. Um exemplo desta instrução é afirmar a intrínseca unidade de Shiva
e Shakti que nos leva à reflexões muito profundas.
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