segunda-feira, 23 de julho de 2012

Auto-defesa Psiquica




अभिचार रक्षण

Abhichāra Rakṣaṇa



Namaste amigos,
O texto abaixo é escrito, em alguns trechos, numa linguagem deliberadamente simbólica de forma à preservar a autenticidade da narrativa e garantir a preservação deste conhecimento entre os Sadhakas iniciados nesta tradição. Gostaria de contar com a compreensão do leitor sobre este aspecto. Jaya Ma !

Entre vários circulos misticos e esotéricos contemporâneos há a preocupação com aquilo que se convencionou chamar de “proteção espiritual”, “defesa psiquica” ou “batalha espiritual” que, em geral, se entende como a neutralização de malefícios ou pensamentos destrutivos dirigidos à uma pessoa ou grupo. Estas práticas de enviar energias / pensamentos / entidades beligerantes para prejudicar terceiros é conhecida em Sânscrito como Abhichara, e pode assumir vários aspectos como a dominação / encantamento (Vaśyakara), a divisão / separação (Vidveṣa), a destruição (Ucchāṭana) entre outros.

Históricamente várias práticas foram adotadas em diferentes sociedades para obter esta proteção e nosso foco neste pequeno texto é abordar o tema sob a ótica do Kaula Tantra. Para isto nossa maior referência será a escritura “Chandi Path” que é geralmente recitada por vários grupos Tantrikos. Nela encontramos as narrativas das batalhas travadas entre os Deuses (Devas) e os Asuras (forças da dualidade) e comentaremos sobre algumas estratégias de defesa adotadas pelos envolvidos.

Nos Tantras se afirma que os Deuses estavam permanentemente protegidos através do consumo constante do “Amrta”, o elixir ou néctar da imortalidade. Os Siddhas (homens realizados) e Rshis (reveladores das escrituras) protegiam à si-mesmos através das Sadhanas, ou seja, da prática constante de disciplinas espirituais. Enquanto os Asuras, as forças da dualidade, se protegiam através do uso de amuletos e rituais ocasionais. Observamos que cada grupo se protege conforme a sua própria natureza e de acordo com suas afinidades. Todos eles obtiveram vitórias num momento ou em outro conforme os ciclos das quatro Eras (os quatro Yugas) iam se revezando. Contudo a grande vitória sempre coube aos Deuses.

Os Asuras obtiveram incriveis vitórias através da sua habilidade na magia, das suas espetaculares austeridades onde todo o foco da vontade era dirigido para a obtenção de Siddhis (poderes psiquicos) e do conhecimento dos elementos necessários para realizar rituais eficazes. A arte de produzir poderosos amuletos era dominada pelos Asuras. Entretanto a ideologia dominante entre eles era de dualidade, ou seja, entre eles, o verdadeiro foco do Poder não estava no próprio Ser (Atma) mas sim em um objeto, momento ou ação externa. Este era o ponto fraco que os levou à repetidas derrotas nos momentos finais.

Os Siddhas, que eram homens realizados, usufruiam de considerável proteção originada de suas disciplinas espirituais que eram estimuladas por sua devoção exemplar aos Deuses. Apesar de não estarem diretamente envolvidos nas batalhas que ocorriam nos planos espirituais, eles não eram prejudicados devido à sua constante prática de Mantras, execução de Nyasas (toques sacralizadores sobre o corpo) e recitação de Kavachas (hinos de proteção) e escrituras.

Os Deuses desenvolviam várias estratégias conforme a ocasião, entretanto na narrativa do Chandi Path fica claro que nos momentos dos maiores conflitos, quando a própria ordem e manutenção do Universo é ameaçada, a presença de Shakti, da Deusa é indispensável para a efetiva defesa dos Deuses e sua consequente vitória. O Amrta, o resultado alquimico da união das forças criadoras do Universo, só pode ser obtido com a presença da Deusa. Este é o Kula-Amrta o néctar sagrado dos Kaulas, revelado à estes pelo próprio Shiva Bhairava.

Tendo compreendido a ideologia por trás de cada metodologia de proteção o homem comum pode, num primeiro momento, empreender a ação que considera mais adequada. Caso os resultados demonstrem que ele não foi “Adhikari”, ou seja, competente para obter o sucesso esperado, seria aconselhável buscar a ajuda de alguém melhor preparado para o esforço necessário. As diferentes metodologias (de Asuras, Siddhas ou Devas) não são necessariamente superiores umas às outras, elas indicam na verdade um plano de ação que será mais ou menos eficaz dependendo daquele que o aplica.

Na categoria de amuletos estão os vários objetos ou jóias abençoados para este fim, estão também as imagens de Divindades que, entretanto, deveriam ser adequadamente consagradas. A crença de que um objeto teria algum valor apenas por causa da fé do adorador ou, até mesmo aqueles objetos que tecebem culto eventual (não me refiro aqui à adoração diária – Nitya Karma), como assentamentos ou imagens estaria nesta primeira categoria. Também estariam aqui os ritos feitos apenas com este objetivo quer sejam oferendas simples ou cerimonias mais complexas.

A Sadhanas, disciplinas espirituais, deveriam ser a primeira escolha daqueles que foram iniciados. A simples recitação de Mantras é o processo mais simples porém a recitação de Kavachas é mais apropriada e eficaz neste caso que estamos comentando. O uso frequente do Kali Kavacha ou do completíssimo DevyaH Kavacham é especialmente recomendado. Os Nyasas feitos antes do banho ritual (Tantrika Snanam) ou da Puja são igualmente importantes. A constante adoração do Yantra que representa a Mandala pessoal do Sadhaka também é muito eficaz, nesta adoração não é apenas a Deidade pessoal que é adorada mas sim toda a corte celestial que a acompanha. O Chandi Yantra (mostrado acima) é uma excelente escolha neste sentido.  A busca pelo elixir e seu uso responsável cabe ao iniciado Kaula.

Jaya Ma !

असुराः रत्नैः रक्षन्तषयः साधनैः रक्षन्ते 
देवाः कुलामृतेन च रक्षन्तयिति रक्षणः 
asurāḥ ratnaiḥ rakṣantaṣayaḥ sādhanaiḥ rakṣante   |
devāḥ kulāmṛtena ca rakṣantayiti rakṣaṇaḥ   ||

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