(Na foto) Sacerdote protestante abençoa celular para que o crente fale direto com o deus.
A decisão de estudar as
escrituras (Shastras) e de se aprofundar no Dharma é muito positiva, porém
devemos estar atentos a certas inconsistências de raciocínio que podem se transformar
em obstáculos a compreensão do processo iniciático e a aproximação à Divindade.
Essas inconsistências são
constantemente repetidas e divulgadas de todas as formas e a contaminação do
povo de mentalidade mais simples por conceitos equivocados acaba por
influenciar toda a sociedade onde a propaganda proselitista é feita.
Certas compreensões equivocadas
e os obstáculos dai decorrentes se tornaram comuns no Ocidente e muitas vezes
nem sequer percebemos o quão perniciosas elas são. Separamos as sete principais
para que possamos sintonizar as nossas mentes com a Divindade e amadurecer em
nossa devoção e disciplinas espirituais (Sadhanas). São eles:
- Interpretação não-fundamentada das escrituras (Sola Scriptura)
- Adoração Insípida
- Não reconhecimento das hierarquias Divinas
- Crença na benção invisível
- Crença na conversão e sacerdócio instantâneos
- Crença na doutrina da leviandade Divina
- Ignorância da Diversidade
Oque é o obstáculo n. 1 ? (Interpretação
não-fundamentada das escrituras)
O primeiro
obstáculo pode ser entendido como a raiz dos demais males que podem tornar
nosso estudo infrutífero. Ele se baseia numa idéia semelhante a fantasia de que
a simples leitura de um site ou livro de engenharia ou de medicina poderia nos
tornar engenheiros ou médicos. A deficiência deste raciocínio está em não
perceber que há muito mais coisas envolvidas no cotidiano de um engenheiro, de
um médico ou de um devoto ou sacerdote do que aquilo que poderia ser descrito
em livros. A crença sem conhecimento (Jñana) e sem ação (Kriya) que comprove
seus frutos (KarmaPhala) pode se tornar um instrumento de auto-ilusão.
Como evitá-lo
? As deficiências internas que devemos superar para não cair neste erro são a
soberba e a preguiça. A primeira gera a crença de que a nossa limitada experiência
de vida seria suficiente para entender todo o Universo e que não há nada a ser
aprendido fora do nosso cotidiano e a segunda nos limita em nossa capacidade de
pesquisar e nos aprofundar.
Quais
seriam as alternativas ? Buscar a companhia de pessoas que se dedicam ao mesmo
alvo de nossos estudos, ou seja, entrar em Satsanga. Da mesma forma que
companhia de outros médicos auxilia o estudante de medicina a aprender o que a
experiência dos mais velhos tem a ensinar.
O que é o obstáculo n. 2 ? (Adoração
Insípida)
O homem que
busca resultados – age ! Esta ação usa os instrumentos necessários para que
seja eficaz. Na comunhão com a Divindade há instrumentos que nos são muito
propícios pois sintonizam nossas mentes com os mais altos ideais. O incenso, as
frutas, flores e todo o aparato litúrgico reafirmam o caráter especial do
momento de adoração.
O segundo
obstáculo é de ordem prática, ele surge devido a avareza e a preguiça na hora
das práticas espirituais, sustentados pela fantasia de que a Divindade não
interagiria com os fenômenos naturais e que Ela poderia ser facilmente enganada
através do simples bla-bla-bla e discursos vazios.
Como
evita-lo ? A falta de dedicação e de carinho e a idéia de que a Divindade seja
algo supérfluo em nossas vidas faz com que não se valorize o local e o momento
de estar em comunhão. Superar a avareza é o primeiro passo para não cair no
erro da adoração insípida. A preguiça em tornar cada momento de nossas vidas um
momento especial também deve ser superada. Como chamar um espaço de “altar” se
este espaço está vazio ?
Quais
seriam as alternativas ? A percepção da beleza e harmonia do mundo à nossa
volta surge quando nos esforçamos em torná-lo um lugar melhor. O esforço de
trazer belas frutas ao local de adoração, a queima de suave incenso e a visão
do brilho das lamparinas tornam o nosso local de oração um lugar mais
auspicioso e a percepção da presença da Divindade surge naturalmente ali.
O que é o obstáculo n. 3 ? (Não
reconhecimento das hierarquias divinas)
O terceiro
obstáculo é a crença de que a Divindade interviria diretamente no mundo fisico,
sem o uso das leis da natureza e sem intermediários. A idéia é semelhante a de
uma criança que vê uma alimento na prateleira do supermercado e acredita que
“ele nasceu ali”. Esta superficialidade de raciocínio ignora que há pessoas e
processos envolvidos até que um resultado final seja visível. O que é feito no
mundo é feito através do homem que é cidadão deste mundo, da mesma forma que os
cidadãos de outras esferas da existência atuam em suas respectivas moradas.
Como evitá-lo
? A soberba em considerar a si-mesmo como o centro do Universo e o único com o
qual a Divindade deveria se relacionar é a fraqueza que leva a este obstáculo.
No plano social e humano essa fraqueza dá origem ao ciúme e a luxuria
desmedida.
Quais são
as alternativas ? Aquele que está vivo ....... interage. Os Deuses vivos
interagem com suas hierarquias Divinas. Interagem com o meio e com seus
semelhantes. A superação desta alienação, deste “autismo espiritual” onde as
hierarquias Divinas são ignoradas é feita através do carinho e reconhecimento
dos seres sutis que habitam o Universo conosco.
O que é o obstáculo n. 4 ? (Crença
na benção invisível)
Este obstáculo
surge quando os resultados desejados não são alcançados após seguir a perspectiva
equivocada baseada nos erros 1, 2 e 3. Diante do evidente fracasso e longa
miséria mesmo após adorar o “deus de toda a prosperidade”, o crente atormentado
não encontra outra saída à não ser mentir para si-mesmo. Há uma ruptura na
percepção da realidade e surge então a fantasia de que, apesar da miséria,
doença e da dor o crente seria “verdadeiramente abençoado”... A fé, pura e
simples, não é garantia de eficácia. O bom remédio é aquele que cura e não
aquele no qual se acredita cegamente.
Como evitá-lo
? A falta de compreensão do mundo à sua volta e de suas regras leva o crente à
odiá-lo e qualifica-lo como “o inimigo”. Cria-se então a fantasia de que
supostamente existiriam as “coisas do deus” e “as coisas do homem”. O ignorante
não consegue perceber que o homem é o operário da Divindade sobre a Terra e o
único capaz de, efetivamente, torná-la um lugar melhor. O ódio as regras
Divinas e sociais e a inveja daqueles que são bem sucedidos levam a crença na
“benção invisível” como uma ultima tentativa de se sentir especial e superior.
Quais são
as alternativas ? Aquele que ama a Divindade e tenta compreende-la deve estar
atento também para compreender o mundo a sua volta. Uma eventual auto-ilusão
pode ser um terrível obstáculo e é importante manter-se lúcido e com bom senso
em nossas buscas espirituais. A benção verdadeira está em cada uma de nossas
ações e sair do Templo ou de uma Puja carregando as deliciosas frutas e belas flores
(Prasada) que foram levadas para tornar aquele momento especial já é uma clara
materialização das opulências da Divindade.
O que é o obstáculo n. 5 ?
(Crença na conversão e sacerdócio instantâneos)
A
dificuldade em assumir responsabilidades pode levar algumas pessoas a acreditar
que a simples votação em um presidente ou escolha de um “salvador” seria
suficiente para acabar com todos os seus problemas. A crença de uma eventual
salvação instantânea ou sacerdócio instantâneo se assemelha ao raciocínio do
preparo de um copo de pó de refresco – tudo é muito rápido e imediato e nada é
necessário além da vontade ..... e um pouco de água. ;) Sob esta perspectiva o
assassino ou o estuprador pode tornar-se sacerdote logo após afirmar–se como tal,
da mesma forma que uma criança se imagina o capitão do navio logo após colocar
um chapeuzinho de marinheiro.
Como evitá-lo
? O desprezo pelo desenvolvimento de habilidades e o sentimento de superioridade
levam à precipitação em afirmar-se algo que ainda não é. O amor próprio e o
sincero desejo de progredir e melhorar como pessoa e como cidadão são
sentimentos que evitam que essa crença equivocada se firme em nossas mentes.
Quais são
as alternativas ? Há muitas maneiras de auto-realização e cada pessoa terá
aquela que lhe tocará o coração de forma especial. Alguns se realizarão na
harmonia com suas famílias, outros no sucesso profissional, há aqueles que
buscam a manifestação daquilo que é belo e outros que buscam unir-se a
Divindade. Todas essas maneiras são esforços válidos.
O que é o obstáculo n. 6 ?
(Crença na doutrina da leviandade Divina)
A
dificuldade em entender a importância das leis naturais, como por exemplo a lei
da gravidade e outras, e o papel de certas forças que existem desde o inicio do
Universo levam a crer que as leis da Física ou da Biologia poderiam ser
suspensas para atender aos caprichos do crente. Surge aqui a fantasia do
“milagre”, algo sobrenatural que aconteceria somente para engrandecer o ego do
suposto beneficiado. Na verdade essa crença é apenas afirmar uma infantil
leviandade Divina, a idéia de que o deus seria algo como um menino
emocionalmente imaturo que faria qualquer coisa por um pouco de bajulação.
Como
evita-lo ? Ceder aos nossos caprichos e leviandade pessoais pode levar a idéia
de que todo o mundo funcionaria da mesma forma – sem clareza, sem um alicerce
firme, sem estabilidade. Um passo importante para levar a Divindade à sério é
levar as nossas próprias vidas à sério. O homem que é firme em suas palavras
não cairia no erro de imaginar um deus carente e afetado sujeito a todo tipo de
enrolação.
Quais são
as alternativas ? Ter paz de espírito nos traz a compreensão de que todos os
fenômenos à nossa volta estão alicerçados na Divindade e que mesmo os fatos que
ainda não conseguimos compreender em detalhes foram causados por leis Divinas
sobre as quais ainda não refletimos. A precipitação de gritar “milagre” à cada
panela de arroz que não queima ou a cada prestação paga do carro novo soa como
um deboche diante das imensas opulências da Divindade que é muito maior do que
isto tudo.
Oque é o obstáculo n. 7 ? (Ignorância
da Diversidade)
Homens
diferentes possuem temperamentos (Bhava) e aptidões (Varna) diferentes. Isso é
natural e é o que cria harmonia e bem estar á todas as sociedades. Imagine uma
sociedade onde todos fossem padeiros ? Ninguém prosperaria. Um mesmo homem pode
levar um estilo de vida (um Ashrama) diferente de acordo com o momento de sua
existencia – ele pode ser um estudante dependente dos pais ou de outros
(Brahmachari), o responsável por uma casa ou família (Grhasta) ou um celibatário
(Samnyasi). Não há uma única luz que ilumine nossos corações, assim como não há
um único caminho. A Verdade (Satya) se encontra no coração de cada um de nós e é
revelada pela Sadhana, pelas disciplinas espirituais.
Como evitá-lo
? Observar a imensa variedade de maneiras de buscar o que é Divino. Os muitos
nomes pelos quais a Divindade se manifesta. A riqueza dos diferentes pratos que
são oferecidos nos altares e as muitas possibilidades de recitação das
escrituras nos amadurecerá em nossa própria busca que é motivada de uma maneira
é individual e única. Quando há o respeito por si mesmo surge o respeito pelo
outro. Quando entendemos a nossa própria força não há porque temer a força do
outro.
2 comentários:
Acharya Rudarnanda,
"Na comunhão com a Divindade há instrumentos que nos são muito propícios pois sintonizam nossas mentes com os mais altos ideais. O incenso, as frutas, flores e todo o aparato litúrgico reafirmam o caráter especial do momento de adoração. "
Pelo que entendi, não é a Divindade que sente falta de incenso e flores, mas nossas mentes, que precisas dessas coisas para que sintamos como o momento de oração, ou de adoração é especial.
Entendi corretamente?
Acharya, desejo ser iniciado no mantra de Kali Maa na próxima ocasião.
Peço ao sr. que me avise com antecedência.Não sei se conseguirei chegar ao Rio de Janeiro, mas resolvi tentar.
_/\_
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