Na medida em que nos aprofundamos na adoração à Mãe Divina percebemos que a Mãe Kālī apresenta muitas formas diferentes dependendo da função que Ela assume no Universo e da perspectiva pela qual o devoto ou Sādhaka se aproxima Dela. Temos a auspiciosa e adorável Bhadrā Kālī, a desapegada Śmashāna Kālī nos campos crematórios, Dakṣhinā Kālī, Ādyā Kālī, MahāKālī .......
Vamos comentar sobre a estreita relação entre as duas ultimas: Ādyā Kālī e MahāKālī. Elas possuem formas para meditação (Dhyānam) que são diferentes e seus Mantras também são diferentes entretanto Elas expressam o mesmo principio cósmico – o inicio da criação e a proteção do Universo à ser criado.
MahāKālī é revelada logo no primeiro capitulo da escritura chamada Chaṇḍī Pāṭha, em sua divina atividade (em sua Līlā) como Viṣhṇu Maya mas é no texto do Prādhānikam Rahasyam que aprendemos sobre a sua função no inicio da criação. A Deusa possui os três modos da natureza (Sattvas, Rajas e Tamas), Ela é Triguṇātmika, ou seja , a alma, a essência dessas três frequências universais. Nesse estado não é possível definir pela mente humana se Ela está manifesta ou imanifesta e Ela aparece à visão espiritual (Darśhana) como um vasto oceano de ouro derretido. É deste oceano que surge a Primordial, a Heroína Solitária, que é a primeira forma manifesta – MahāKālī com seus dez braços armados com a função de proteger o universo vindouro.
Ādyā Kālī também é a primeira, como vemos em seu próprio nome que significa “Primordial”. Sua bela forma, em trajes vermelhos, sentada sobre um lótus vermelho, contempla encantada o Senhor Shiva dançando apaixonadamente embriagado à sua volta. Este Dhyānam, este modelo de meditação, foi revelado no MahāNirvāṇa Tantra onde o Mantra de Ādyā Kālī também é apresentado.
Mas então porque a Deusa se apresenta nestas formas distintas ? Ela o faz devido à sua divina misericórdia em atender à todos os buscadores conforme seus temperamentos, aptidões e funções sociais diferentes. Reduzir toda a sociedade à uma única forma de adoração seria uma terrível tirania e comprometeria o bem-estar de todos. A prosperidade é criada pela diversidade que trabalha em uma direção comum, respeitando o estilo de vida – o Dharma e as aptidões – o Adhikāra de cada indivíduo.
A adoração de MahāKālī gira em torno da recitação da escritura Chaṇḍī Pāṭha (“a recitação da Deusa Chaṇḍī”) e de seus textos auxiliares como o Devi Upaniṣhad (Devī Atharva Śhriṣha) e outros. Essa forma de adoração, esse Upāsana, segue características do período Védico e prioriza a adoração através de cerimonias de fogo chamadas Homa ou Havana. A adoração de Ādyā Kālī pode seguir tanto os procedimentos comuns (Śhakta Sādhana) que envolvem Japa (recitação do Mantra), Arati (oferenda de luz) e Puja (oferenda completa) quanto a adoração Tântrica (PañchaTattva) dependendo do Adhikāra (da aptidão ou afinidade) do adorador.
Adorar MahāKālī com os ritos que lhe são apropriados ou adorar Ādyā Kālī seguindo sua disciplina espiritual (Sādhana) são alternativas possíveis para os devotos que tem a Divina Mãe Kālī em seus corações. Ambas as opções geram belos frutos espirituais (Karma Phala) conforme o MahāNirvāṇa Tantra nos informa em sua reflexão: “Onde o homem segue as disciplinas espirituais para as quais está preparado, é lá que ele encontrará os frutos desejados”. Jaya Mā !
Um comentário:
Belíssimo texto! Agradeço pela partilha
Postar um comentário