domingo, 9 de setembro de 2018

A Eficácia dos Yajñas

A eficácia dos Yajñas

Como a Puja e outros ritos (Yajñas) produzem resultados no plano físico ?


             Uma breve observação do cotidiano de um Tântrico revela que sua rotina diária assim como todo o ciclo mensal e anual de sua vida gira em torno de uma espécie de calendário litúrgico que associa momentos cósmicos, astrológicos e sazonais à vida do iniciado e faz dele um agente consciente e atuante no drama cósmico da existência humana.

             Para serem verdadeiros e eficazes os ritos praticados devem estar em sintonia com forças naturais que formam o alicerce da realidade que vivemos. Não fosse isso o rito seria apenas uma pantomima, uma espécie de teatro onde o ator apenas simularia uma realidade a qual é incapaz de transformar. Entretanto não é isto que acontece. As bases e a lógica dos rituais Tântricos estão presentes em vários outros Dharmas através da história e demonstram como religiosidade e magia tem se entrelaçado e se perpetuado através das Eras.     

             No ritual Tântrico o iniciado entra em estado de união com a Divindade e, à partir deste momento, interfere no mundo real através de mecanismos simbólicos que movimentam poderosas forças espirituais. É através dos Nyasas (toques sacralizantes), dos Dhyanams (visualizações) e de vários Kriyas (atos litúrgicos) que o iniciado identifica-se com a Força Motriz do Universo (Shakti) e convoca a sua intervenção.

             Este preparo técnico do iniciado não é exclusividade dos Tantras e, por ser baseado em forças reais e atuantes, está presente em várias outras culturas e Dharmas. No Vajrayana (Budismo Tibetano) as técnicas de identificar-se e assumir a forma da Divindade adorada (Yidam) é chamado de Utpatti Krama, ou seja, o “procedimento de geração ou ascenção”. No Dharma cristão o sacerdote identifica-se com o Ishta Devata daquela tradição, Yeheshua Chrestos, e realiza os ritos em nome do Cristo, baseado na “união hipostática”* entre o deus encarnado e a Divindade suprema e sem nome. Na antiga religiosidade Egípcia era o Faraó que exercia a função de sumo sacerdote identificado com os Deuses na sua condição de filho encarnado do Deus Sol (Rá) e, então, devolvia Maat (a harmonia cósmica, “Rtam” em Sanscrito) ao Deus regente do Templo onde oficiava o rito. Inúmeros outros exemplos deste mecanismo de atuação podem ser observados desde o Candomblé Brasileiro à algumas formas de Budismo Tântrico preservadas até hoje.

             O rito é funcional, independente das condições momentâneas do oficiante ou de quaisquer outras variáveis desde que a consagração ou iniciação (Diksha) que preparou o sacerdote tenha sido eficaz e o treinamento necessário (Purashcharana) tenha sido completado com sucesso. A dinâmica do rito segue o principio de “Ex Opere Operato”*, ou seja, ele é eficaz por ser realizado pela Divindade atuante e não depende do ministro humano que o executa. O resultado não é subjetivo ou dependente da fé daquele que o busca. O Tantra assim como o Yoga Darshana de Patañjali não prioriza a crença pessoal num suposto resultado mas propõe técnicas a serem executadas (Vidhis) e convida o operador que verifique por si mesmo os resultados alcançados.

             Quando comparamos o preparo e o cuidado exigido na formação de um sacerdote ou iniciado de tradições alicerçadas em Dharma com o imediatismo e improvisação dos sacerdotes dos cultos televisivos conhecidos como “pastores” é natural o sentimento de desprezo diante do ridículo daquelas figuras que dizem adorar a deus com gritinhos histéricos e tem a soberba de tentar comandar a própria Divindade a atender seus caprichos. A adoração insípida, ou seja, de mãos vazias, limitada pela avareza e sentimento de inferioridade do adorador, é diametralmente oposta a adoração de um iniciado consagrado que, pleno de gratidão, retorna à Divindade aquilo que na verdade sempre lhe pertenceu. 


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